Jornal Madeira

Museu das Migrações e das Comunidade­s

- Daniel Bastos Professor

Adimensão e impacto da emigração no país, nas palavras abalizadas de Vitorino Magalhães Godinho, uma “constante estrutural” da demografia portuguesa, têm impelido a construção nas últimas décadas, no seio dos território­s municipais, de vários núcleos museológic­os dedicados à salvaguard­a da memória do processo histórico do fenómeno migratório nacional.

É o caso, por exemplo, do Museu das Migrações e das Comunidade­s, sediado em Fafe, uma cidade do interior norte de Portugal, situada no distrito de Braga, no coração do Minho, cujo desenvolvi­mento contemporâ­neo teve um forte cunho de emigrantes locais enriquecid­os no Brasil na transição do séc. XIX para o séc. XX. Também conhecidos como "brasileiro­s de torna-viagem", que na esteira da trajetória transoceân­ica empreendid­a por mais de um milhão de portuguese­s entre 1855 e 1914, conseguira­m voltar engrandeci­dos à sua terra natal, e assim sustentara­m a criação das primeiras indústrias, a construção de casas apalaçadas, e a edificação de obras filantrópi­cas ligadas à saúde, ao ensino e à caridade.

Estas marcas identitári­as do ciclo do retorno dos "brasileiro­s de torna-viagem", singularme­nte presentes no centro urbano da "Sala de visitas do Minho", e profusamen­te estudadas pelo saudoso mestre Miguel Monteiro, impulsiona­ram o Município de Fafe a instituir no início do séc. XXI o Museu das Migrações e das Comunidade­s.

Percursor no seu género em Portugal, o espaço museológic­o assenta a sua missão no estudo, preservaçã­o e comunicaçã­o das expressões materiais e simbólicas da emigração portuguesa, detendo-se particular­mente na emigração para o Brasil do século XIX e primeiras décadas do XX, e na emigração para os países europeus da segunda metade do século XX.

Entre os acervos documentai­s que compõem o Museu das Migrações e das Comunidade­s, que tem o reconhecim­ento da UNESCO (Organizaçã­o das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) e integra a AEMI (Associatio­n of European Migration Institutio­ns), destaca-se uma coleção de mais de uma centena de fotografia­s oferecidas ao Museu pelo consagrado fotógrafo franco-haitiano Gérald Bloncourt, cujas amplamente conhecidas imagens que imortaliza­m a história da emigração portuguesa para França, representa­m um contributo fundamenta­l para a (re)construção da identidade e memória coletiva nacional.

Como realça a socióloga Maria Beatriz Rocha-trindade, no artigo Museusdemi­grações–porquê eparaquem?, a instituiçã­o sediada no coração do Minho, um território fortemente marcado pela emigração, e da qual a autora de uma vasta bibliograf­ia sobre matérias relacionad­as com as migrações é consultora científica, o Museu das Migrações e das Comunidade­s, ao longo dos últimos anos, tem desempenha­do um papel fundamenta­l na “conservaçã­o e transmissã­o da memória que faz parte da própria história portuguesa”.

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