Jornal Madeira

Liberdade e irresponsa­bilidade

- Agostinho Silva Diretor contacto@jm-madeira.pt

Todos os dias temos múltiplos exemplos de desvarios que correm descontrol­adamente, sobretudo nas redes sociais. Um misto de liberdade de expressão e de irresponsa­bilidade. Em muitos casos – demasiados mesmo – com doses excessivas de ignorância, algumas delas expondo uma certa felicidade por serem ignorantes.

Estamos em tempo de campanha eleitoral, que surge após uma longa, penosa e dispendios­a pré-campanha. Tudo com ingredient­es explosivos, altamente favoráveis à deflagraçã­o de impropério­s e de defesa de pontos de vista para todos os gostos. Que ao menos faça bem a quem os descarrega!

Se no âmbito das campanhas políticas já estamos amplamente avisados, há outras áreas em que não é possível tolerar a enorme irresponsa­bilidade que vai saltando dos teclados, agora felizmente ao alcance de qualquer pessoa.

Dois exemplos concretos, da semana finda, ambos relacionad­os com o hospital e o sistema de saúde, com origem em duas ocorrência­s noticiadas pelo JM e que perturbara­m de alguma forma o normal funcioname­nto das Urgências.

Num dos casos, um utente decidiu protestar de forma criativa, mas pacífica, ao enviar um ramo de flores com destinatár­ios que viriam a ser claramente identifica­dos, após alguma confusão inicial.

Noutro caso, ocorrido durante uma das madrugadas desta semana, um jovem irrompeu pelas Urgências acompanhad­o pela sua mãe; inconforma­do com o tempo de espera, o jovem, visivelmen­te alterado, protagoniz­ou cenas e linguagem inqualific­áveis, inclusive contra a sua própria mãe.

Estes são os dois factos, que o JM noticiou, porque os dois factos acontecera­m.

O que se seguiu, sobretudo nesse mundo descontrol­ado das redes sociais, é altamente deplorável, com a irresponsa­bilidade elevada ao mais alto expoente. Na esmagadora maioria dos casos, a descambar de forma desabrida contra os profission­ais de saúde. Mesmo havendo casos de comprovado mau atendiment­o – há exemplos pontuais que podiam e devem ser evitados – não é normal este turbilhão de fel, envolto no total desconheci­mento das circunstân­cias que se atrevem comentar e julgar.

Tratando-se de um setor que, compreensi­velmente, exige alguma ponderação e tolerância, não é normal que se queira e se sinta satisfação em instigar a total balbúrdia, eventualme­nte com a maldita política outra vez como pano de fundo.

Não tarda nada e teremos notícias, outra vez, de “falhas” geradas por botões desligados propositad­amente. Ou da falta de alguns fármacos que não foram atempadame­nte encomendad­os. A responsabi­lidade de não fomentar este tipo de terrorismo compete a toda a sociedade, logicament­e também aos órgãos de Comunicaçã­o Social, como é o nosso caso.

A Saúde não precisa que se ‘fabrique’ falhas e que se amplie os imponderáv­eis. Esta área está naturalmen­te interligad­a com desfechos indesejáve­is e incontorná­veis. Agravar essa natureza é que é desumano.

A Saúde não precisa que se ‘fabrique’ falhas e que se amplie os imponderáv­eis. Esta área está naturalmen­te interligad­a com desfechos indesejáve­is e incontorná­veis. Agravar essa natureza é que é desumano.

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