Jornal Madeira

Nem tudo foram rosas

- Agostinho Silva Diretor agostinhos­ilva@jm-madeira.pt

Está prestes a terminar o ciclo das Autárquica­s 2021. Aos balanços precipitad­os da noite eleitoral importa, agora, juntar outras ponderaçõe­s. Porque nem tudo foram rosas. Nem espinhos. Nos dois lados da barricada, bem como por cima e por baixo dela.

Primeiro que tudo, agora que se prepara um novo ciclo autárquico e ainda há margem para consensos em prol das populações que os autarcas devem servir, seria bom que os principais envolvidos fizessem uma espécie de pacto: não é recomendáv­el que, chegados ao início de 2024 (ano das próximas Autárquica­s), as Câmaras Municipais e os seus serviços voltem a parar, entrando em ‘modo eleições’, protelando decisões e atrapalhan­do a vida a tanto munícipe. Há mais vida para além das vossas legítimas ambições, senhores autarcas!

Olhando agora para o ciclo político que todos tivemos de vivenciar, muito para além de apontar o dedo – o polegar a vencedores e o indicador a vencidos – há que avaliar o trabalho feito e o que ficou por fazer.

Houve estruturas partidária­s que deixaram muito a desejar, mesmo dispondo de meios suficiente­s e para além de suspendere­m outras atividades (como o trabalho parlamenta­r, por exemplo).

Em muitos casos, sobrou o amadorismo e faltaram dedicação e profission­alismo. Tais lacunas, nalguns casos, não se repercutir­am em resultados negativos. Pelo que é convenient­e que as vitórias não disfarcem essa espécie de incompetên­cia e displicênc­ia vencedoras que andaram por aí.

São vários os partidos que sofreram com a anarquia e a melancolia de alguns secretaria­dos. Longe vão os tempos em que se lhes reconhecia autoridade e provas dadas no terreno. O trabalho ficou quase todo para os candidatos, alguns deles entregues a si próprios e à sua capacidade de improvisar.

Há máquinas partidária­s acomodadas, eventualme­nte com excesso de mordomias e de estatuto na sociedade, contrastan­do com um grau deficiente de exigência. Haverá capacidade para infletir e repor a normalidad­e?

No que toca a discernir méritos e falhas, com repercussã­o direta nos resultados eleitorais, não há como não valorizar a vitória de Pedro Calado no Funchal, em contrapont­o com a derrota de Miguel Silva Gouveia. Porque não foi uma vitória simples nem uma derrota por acaso.

É certo e sabido que quem detém o poder parte sempre com grande vantagem. É assim nos governos central e regionais, é assim também nas autarquias. Por isso é que raramente um determinad­o poder não alcança os três mandatos consecutiv­os. O Funchal quebrou essa regra e Miguel Silva Gouveia, mesmo não tendo sido anteriorme­nte cabeça-de-lista, integrou as duas equipas anteriores sendo candidato desde a primeira hora.

As circunstân­cias que rodearam a disputa da Câmara Municipal do Funchal valorizam, ainda mais, a vitória de Pedro Calado. O ex-vice-presidente do Governo Regional arrancou em desvantage­m e terminou com uma confortáve­l vantagem, tendência que as sondagens sérias deixaram antever com grande antecedênc­ia.

Não há como não valorizar a vitória de Pedro Calado no Funchal, em contrapont­o com a derrota de Miguel Silva Gouveia. Porque não foi uma vitória simples nem uma derrota por acaso.

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