Nem tudo foram rosas
Está prestes a terminar o ciclo das Autárquicas 2021. Aos balanços precipitados da noite eleitoral importa, agora, juntar outras ponderações. Porque nem tudo foram rosas. Nem espinhos. Nos dois lados da barricada, bem como por cima e por baixo dela.
Primeiro que tudo, agora que se prepara um novo ciclo autárquico e ainda há margem para consensos em prol das populações que os autarcas devem servir, seria bom que os principais envolvidos fizessem uma espécie de pacto: não é recomendável que, chegados ao início de 2024 (ano das próximas Autárquicas), as Câmaras Municipais e os seus serviços voltem a parar, entrando em ‘modo eleições’, protelando decisões e atrapalhando a vida a tanto munícipe. Há mais vida para além das vossas legítimas ambições, senhores autarcas!
Olhando agora para o ciclo político que todos tivemos de vivenciar, muito para além de apontar o dedo – o polegar a vencedores e o indicador a vencidos – há que avaliar o trabalho feito e o que ficou por fazer.
Houve estruturas partidárias que deixaram muito a desejar, mesmo dispondo de meios suficientes e para além de suspenderem outras atividades (como o trabalho parlamentar, por exemplo).
Em muitos casos, sobrou o amadorismo e faltaram dedicação e profissionalismo. Tais lacunas, nalguns casos, não se repercutiram em resultados negativos. Pelo que é conveniente que as vitórias não disfarcem essa espécie de incompetência e displicência vencedoras que andaram por aí.
São vários os partidos que sofreram com a anarquia e a melancolia de alguns secretariados. Longe vão os tempos em que se lhes reconhecia autoridade e provas dadas no terreno. O trabalho ficou quase todo para os candidatos, alguns deles entregues a si próprios e à sua capacidade de improvisar.
Há máquinas partidárias acomodadas, eventualmente com excesso de mordomias e de estatuto na sociedade, contrastando com um grau deficiente de exigência. Haverá capacidade para infletir e repor a normalidade?
No que toca a discernir méritos e falhas, com repercussão direta nos resultados eleitorais, não há como não valorizar a vitória de Pedro Calado no Funchal, em contraponto com a derrota de Miguel Silva Gouveia. Porque não foi uma vitória simples nem uma derrota por acaso.
É certo e sabido que quem detém o poder parte sempre com grande vantagem. É assim nos governos central e regionais, é assim também nas autarquias. Por isso é que raramente um determinado poder não alcança os três mandatos consecutivos. O Funchal quebrou essa regra e Miguel Silva Gouveia, mesmo não tendo sido anteriormente cabeça-de-lista, integrou as duas equipas anteriores sendo candidato desde a primeira hora.
As circunstâncias que rodearam a disputa da Câmara Municipal do Funchal valorizam, ainda mais, a vitória de Pedro Calado. O ex-vice-presidente do Governo Regional arrancou em desvantagem e terminou com uma confortável vantagem, tendência que as sondagens sérias deixaram antever com grande antecedência.
Não há como não valorizar a vitória de Pedro Calado no Funchal, em contraponto com a derrota de Miguel Silva Gouveia. Porque não foi uma vitória simples nem uma derrota por acaso.