Veganismo cresce a ritmo tímido na Madeira
Ser vegan ou vegetariano numa ilha em que a espetada tradicional é a estrela da gastronomia não se adivinha fácil, mas a Madeira já começa a dar alguns passos (embora tímidos) para facilitar estas escolhas alimentares.
Nem o veganismo nem o vegetarianismo são uma descoberta de agora ou uma mera tendência, sendo necessário recuar décadas e décadas para encontrar as suas primeiras sementes. No entanto, num mundo em que a internet e as redes sociais fazem correr a informação à velocidade da luz e em que proliferam documentários e filmes que dão conta do impacto do consumo de produtos animais, estes estilos de vida têm vindo a ganhar ainda mais seguidores à volta do globo, que se juntam a esta causa por motivos éticos e de proteção dos direitos dos animais, ambientais, de saúde e até de justiça social. E na Região não é exceção.
No entanto, conforme realça ao JM a Vegmadeira, uma associação sem fins lucrativos que tem como principal objetivo promover e divulgar estas práticas alimentares alternativas, na Madeira, o crescimento do número de veganos e de vegetarianos, embora real, é “ainda um pouco tímido”.
De acordo com Tina e Paulo Moreira, casal responsável por esta associação fundada em 2017, por detrás deste modesto crescimento do movimento vegetariano/ vegano está nomeadamente o facto de o arquipélago madeirense ser uma região tradicional e culturalmente muito ligada ao consumo de carne. “O peso cultural ainda é bastante influente”, destacam.
Ainda assim, a Vegmadeira considera que o movimento de conversão para estes regimes alimentarem também está em marcha na Região, acompanhando a tendência internacional, havendo sinais de evolução e de mudança de paradigma, em especial entre as camadas mais jovens, sendo esse o foco do seu trabalho.
Mas se ser vegan/vegetariano numa ilha que tem a espetada como estrela da sua gastronomia já não se advinha fácil, a situação complica-se um pouco mais pelo facto de a oferta existente nos supermercados e, em especial, nos restaurantes continuar a ser insatisfatória.
De facto, embora Tina Moreira reconheça que o mercado está atento a estes sinais e que evoluiu muito rapidamente nos últimos anos, com o surgimento de novos produtos para vegetarianos e veganos, na Madeira, as opções nas prateleiras e as nos menus para quem optar por estes regimes alimentares mantêm-se reduzidas.
“Reconheço que se deram alguns passos nos últimos anos, no entanto são manifestamente insuficientes e na sua maioria de fraca qualidade. Continua a ser algo complexo para um vegetariano disfrutar de uma refeição nutricionalmente equilibrada, simultaneamente agradável ao palato, com boas matérias primas, saudável e se possível criativa. Efetivamente é aqui que se encontra o maior dos problemas que, no meu entender, deriva da falta de formação específica e muita falta de criatividade”, aponta Tina Moreira, a, sublinhando que é importante que os restaurantes tenham em conta que estão a confecionar refeições para pessoas que se preocupam não só com o que ingerem, mas também com as combinações que se e fazem, com a origem m e qualidade das matérias primas (preferencialmente locais, frescas e biológicas) e o tipo de mão de obra utilizado na indústria transformadora.
“A ideia que fica na maior parte das refeições vegetarianas na restauração madeirense, é que estes atributos não são considerados. Depois a falta de conhecimento nutricional, a falta de criatividade, o desaproveitamento dos produtos nativos da região é absolutamente inexplicável”, acrescentou, dando o exemplo da banana da Madeira que, apesar do seu potencial energético e infindáveis possibilidades culinárias, permanece praticamente ausente na maioria dos restaurantes.
sesApoiar estas alternativas
Ainda assim, e embora lamente que continue a existir a propensão para uma desinformação a que se acrescentam estas lacunas na oferta, Tina Moreira nota que começam a ser dados alguns passos na Madeira para facilitar estas escolhas alimentares. No entanto, salienta, a adoção destes regimes alimentares de base vegetal é “algo que surge com o tempo, com conhecimento e estudo, conhecendo e se sensibilizando mais e mais”.
“Creio que na fase em que nos encontramos. [Estas práticas alimentares] deixaram já de ser tabus, mas existe ainda um longo caminho a percorrer. O mercado madeirense é bastante pequeno, mas gozando da prerrogativa de quem nos visita e da sua crescente procura por estes regimes alimentares, aos poucos vão surgindo mercados e locais alternativos. É preciso apoiar estas iniciativas, promovê-las e evidenciá-las”, apelou, realçando que é importante apostar na sensibilização para a coexistência em harmonia com a
natureza.
cn