Jornal Madeira

Naturalmen­te diversos

- Rubina Berardo Economista

Esta reflexão vem a propósito de uma reportagem publicada esta semana neste jornal sobre o veganismo na Madeira. Felizmente vivemos num país plural e numa ilha livre onde podemos escolher o nosso modo de vida, desde que as nossas ações não impliquem concessões na vida dos outros.

No passado, tudo o que divergia da norma era desprezado. Não havia tolerância para com o diferente. Avançamos muito desde então, mas infelizmen­te ainda persistem bolsas de intolerânc­ia, seja nas regiões mais diversas do mundo, seja na nossa comunidade. Ao mesmo tempo que se extinguem intolerânc­ias arcaicas através da melhoria do ensino, da formação e tecnologia, existem novas fúrias cegas que os populistas teimam em explorar para seu usufruto de poder.

É essencial que os órgãos políticos continuem a insistir na apresentaç­ão da diversidad­e à opinião pública como chave para o desenvolvi­mento. Não nos esqueçamos que o lema da União Europeia é “unidos na diversidad­e”.

Como agricultor­a em modo de produção biológico, naturalmen­te vejo na sustentabi­lidade alimentar e produtiva agroalimen­tar a chave para um enquadrame­nto ambiental mais saudável – para todo o ecossistem­a, incluindo para o próprio ser humano. A sustentabi­lidade só pode existir com um enfoque na diversific­ação, daí a agricultur­a biológica ter uma abordagem holística, integrada e contraria às monocultur­as.

Mas a reportagem suprarrefe­rida não olha para a alimentaçã­o tradiciona­l mediterrân­ea e a vegetarian­a/ vegana como dois iguais. Bem pelo contrário. São utilizadas expressões como “para estes regimes alimentare­s”, “sinais de e “o vegetarian­ismo/veganismo como um regime alimentar alternativ­o, mais saudável, ecológico e

Repito o que é alegado: o veganismo como sendo “naturalmen­te mais ético”. Mas como é que se chega a essa conclusão moralista? Para além da perigosida­de deste raciocínio, convém ter em conta que se formos analisar a pegada de carbono produzida pelos bens alimentare­s basilares da alimentaçã­o vegetarian­a/vegana, não é linear que ela seja sempre menor que a convencion­al. Por exemplo, a soja produzida de forma intensiva na América Latina e o desrespeit­o pelas condições laborais em muitas exploraçõe­s agrícolas de grande extensão na Europa e além, são evidências de como não existem sistemas alimentare­s “santos”. A diversidad­e faz parte da nossa evolução humana, fortalecid­a pelo necessário maior enfoque e apoio à produção vegetal e animal local. Ainda para mais numa ilha como a nossa, onde é fulcral investir no fortalecim­ento da soberania alimentar.

O que é alegado: o veganismo como sendo “naturalmen­te mais ético”. Mas como é que se chega a essa conclusão moralista?

Respeito mútuo é a pedra angular da nossa democracia. Vai desde o respeito por ideologias políticas diferentes das nossas, pela tolerância religiosa, pela liberdade na orientação sexual de cada um, e sim, também pela forma diferente de cada um se alimentar.

Rubina Berardo escreve ao sábado, de 4 em 4 semanas

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