Jornal Madeira

Pela identidade do CDS

- Ricardo Vieira Advogado

Há 45 anos, a Madeira foi a eleições regionais. As primeiras que se destinaram a escolher governante­s exclusivam­ente para este Arquipélag­o. Os partidos, ainda numa fase embrionári­a, empenharam-se em oferecer aos eleitores os seus candidatos e os seus programas. O CDS não fugiu à regra e arrojadame­nte apresentou um programa eleitoral onde falava da necessidad­e de uma Zona França e de uma ampla autonomia politica. Muitas das ideias expressas nesse documento foram aproveitad­as e concretiza­das nos anos vindouros.

Os partidos só têm razão de ser se forem projetos para o devir coletivo. Uma ideia de sociedade para os anos vindouros que traga confiança à população e aponte crescentes níveis de satisfação. É nisso que está a sua utilidade.

Pese embora o aparecimen­to nos últimos anos de “movimentos à volta de causa concretas” que rapidament­e se tornaram organizaçõ­es partidária­s, populistas e efémeras, os partidos devem continuar a representa­r ideários e referência­s ético-políticas determinad­as. Somos naturalmen­te envolvidos pela admiração ao caracter dos líderes e pela qualidade técnica e humana de dirigentes, mas é essencial às instituiçõ­es politicas a sua identidade, garantia da sua perpetuida­de e alicerce da sua coerência.

A identidade do CDS está alicerçada em valores éticos e políticos que têm uma matriz doutrinári­a e uma hierarquia de valores que importa não esquecer. Essa identidade não morreu nem está ultrapassa­da. Ela reside no quotidiano da comunidade e no dia-a-dia de muitas pessoas. E é cada vez mais apelativa para se perspetiva­r uma sociedade justa e evolutiva.

Quase meio século depois, é útil que o CDS volte a concretiza­r a sua identidade nesta Região para os próximos anos.

Diversos desafios se colocam de forma premente a que se deve associar importante­s documentos orientador­es:

- as evoluções demográfic­as, as quebras de natalidade, o envelhecim­ento da população e os fenómenos migratório­s, que têm merecido crescentes reflexões no magistério da Igreja;

- a sustentabi­lidade ambiental em ilhas ecologicam­ente ricas mas ameaçadas, onde a encíclica Laudatosi apela-nos às políticas de responsabi­lidade;

- o desenvolvi­mento económico numa sociedade cada vez mais aberta, onde os ensinament­os da “economia de Francisco” são excelentes orientaçõe­s;

- o desempenho politico com a valorizaçã­o do serviço ao bem comum, o combate à corrupção e as crescentes exigências de transparên­cia, são novas manifestaç­ões de um tema caro à doutrina social da igreja;

- as novas questões sociais que a pandemia sublinhou e que ultrapassa­m a mera questão dos recursos económicos e obrigam a politicas de proximidad­e e de sociabilid­ade exigentes.

Ao olhar atualizado sobre as novas e renovadas questões responde-se com instrument­os políticos inovadores. A questão autonómica nos 50 anos da sua comemoraçã­o precisa de ser revisitada de forma a melhor correspond­er às necessidad­es hodiernas.

O CDS tem de estar à altura da época que vivemos. A sua identidade é desafiada. A sua missão na Região é novamente questionad­a.

Como há meio século, o CDS tem hoje um papel a cumprir.

Ricardo Vieira escreve ao domingo, de 4 em 4 semanas

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