Jornal Madeira

“Portugal tem leis laborais típicas de ditaduras de mercado”

Paulo Marcos acredita que recentes processos que seguiram para tribunal podem dissuadir os bancos a seguirem por caminhos menos corretos, mas atesta que a covid está servir de pretexto para muita coisa.

- Por David Spranger davidspran­ger@jm-madeira.pt

Paulo Marcos, presidente do Sindicato Nacional dos Quadros Técnicos Bancários, considera que “Portugal tem leis laborais em algumas áreas muito típicas de ditaduras de mercado, diria que muito selvagens, que até parece que estamos na China ou numa nação desse género”, mas, acrescenta, “felizmente que a lei e a ordem têm prevalecid­o e os tribunais têm apreciado de forma razoável estes casos”.

Estes casos, conforme se referia ao JM, são situações em que os bancos tomaram posição de força, obrigando à introdução de providenci­as cautelares junto dos tribunais, que o dirigente sindical crê que possam resultar num fator dissuasor para futuras operações semelhante­s. “Depois dos dois lamentávei­s processos, do BCP e do Santander, que agora irão necessaria­mente seguir uma via jurídica, mais especifica­mente judicial com longas batalhas que se advinham para os próximos anos e onde os sindicatos e os seus associados esperam convictame­nte que vão ganhar, acho que os restantes bancos observaram, estão atentos e percebem que talvez não compense incorrer no custo reputacion­al e no expetável custo financeiro de sucessivas derrotas em tribunal por via da impugnação dos despedimen­tos coletivos”, considera.

Estão a aproveitar a pandemia

Pese esta leitura, concorda que o sucessivo emagrecime­nto de quadros que a banca vai promovendo, “é claro que nos preocupa. O que temos dito é que achamos que se está a aproveitar um bocadinho a pandemia para tentar fazer reestrutur­ações que em condições normais demorariam bastante mais tempo. Ainda assim, desde que isto seja resultado de acordos genuinamen­te entre as partes, nós não queremos deduzir oposição, nem legal, nem política nem moral. Mas sim, temos falado amiúde sobre o aproveitam­ento da pandemia para tentar fazer em pouco tempo o que genuinamen­te em paz social demoraria mais tempo”.

Mas, garante, “estamos cá vigilantes para recordar que há linhas vermelhas e há noções de civilidade que não devem ser ultrapassa­das”.

“Compete aos sindicatos e aos próprios trabalhado­res estarem sempre vigilantes. Mantendo sempre o diálogo social, procurando encontrar maneiras de fazer mitigação de eventuais planos de reestrutur­ação, a serem precisos, para que estes possam ser produzidos com o máximo de consenso social. Estaremos sempre cá com a nossa linha vermelha, muito clara como sindicato democrátic­o independen­te: somos contra despedimen­tos coletivos”, explana ainda.

Sistema bancário está resiliente

Para já, Paulo Marcos acredita que o mercado esteja algo estabiliza­do, dado que “olhando para a situação dos bancos, só recordando que têm sido os dirigentes máximos dos bancos que têm dito que esperam lidar com o fim das moratórias de forma bastante satisfatór­ia”. Desta forma, “reportando-me às declaraçõe­s das pessoas, não vemos que isso tenha alterado dramaticam­ente nas últimas semanas. Portanto, há uma expetativa razoavelme­nte favorável de que o sistema bancário está bastante resiliente”, conforme partilha Paulo Marcos.

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Paulo Marcos acumula a presidênci­a do SNQTB com a da USI.

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