Jornal Madeira

“Juntas do PSD foram discrimina­das pela Câmara”

José António Rodrigues tomou posse como presidente da Junta de Freguesia de Santa Luzia em 2009. Na hora do balanço, reconhece que a CMF discrimino­u a sua autarquia “por ser de cor diferente”.

- Por Flávio Matta flaviomatt­a@jm-madeira.pt

Há algo que destaque nos seus mandatos?

Durante os meus mandatos tive de me debater com problemas que são do conhecimen­to da opinião pública. Tomei posse em outubro de 2009 e em fevereiro do ano seguinte tivemos o 20 de Fevereiro, uma situação que foi uma catástrofe para a nossa freguesia. Infelizmen­te, registámos três mortes na nossa freguesia, num acidente ocorrido na Estrada Luso-brasileira. Não eram nossos fregueses, mas morreram na nossa freguesia durante o trajeto que estavam a fazer. Portanto, foi uma situação complicada em que eu estive no terreno durante 48 horas, ininterrup­tamente. O episódio ocorre no sábado de manhã e eu só me deitei na segunda de manhã. Este foi um dos momentos mais dramáticos que vivi na minha vida de autarca.

O segundo mandato ficou marcado pelos incêndios, outra situação dramática, onde os únicos mortos registados ocorreram na nossa freguesia. Finalmente, este último mandato ficou marcado pela questão da pandemia. Tivemos muita gente a bater-nos à porta à procura de ajuda e nós acudimos a todos eles. Tivemos um papel muito importante durante o confinamen­to da população, na distribuiç­ão de medicament­os e de géneros alimentare­s. Houve um grande afluxo de pessoas a pedir-nos ajuda e ninguém ficou sem resposta.

Como é que quer ser lembrado pela população da sua freguesia?

Eu fiz o melhor que pude. Sabemos que as Juntas de Freguesia têm orçamentos muito reduzidos, no caso da Junta de Santa Luzia o orçamento anual é de 215 mil euros, e por aqui já se vê o esforço que temos de fazer, mas nós fazemos coisas para as quais não é preciso dinheiro e esse é o desafio que eu faço a todos os autarcas. Por exemplo, em relação aos idosos. Nós temos um centro de convívio que era para ser reabilitad­o no meu último mandato, conforme prometeu o ex-presidente da autarquia, Miguel Silva Gouveia, mas que infelizmen­te não foi concretiza­do. Espero agora que com o Dr. Pedro Calado, a obra seja concretiza­da. Naquele centro de convívio nós desenvolve­mos atividades sem dinheiro, a exemplo de uma festa de aniversári­o de um dos utentes em que os outros colaboram. São através destas iniciativa­s que nos aproximamo­s da população. Nós temos uma freguesia muito envelhecid­a e, cada vez mais, temos de estar virados para essas pessoas. Nós temos idosos que vivem sozinhos e temos de ir ao encontro deles. Uma das coisas que estou a passar ao meu sucessor, Tiago Rodrigues, que temos de continuar com a nossa política social.

Nos últimos dois mandatos teve de lidar com uma Câmara de cor

política diferente. Como é que foi esse convívio?

Até 2013, com Miguel Albuquerqu­e na Câmara, tínhamos um relacionam­ento muito saudável e éramos sempre atendidos quando recorríamo­s à autarquia para fazer alguma coisa. Evidenteme­nte que a partir de 2013, com a Câmara nas mãos do PS, o relacionam­ento agravou-se. A reabilitaç­ão do nosso centro de convívio é uma obra que está prometida desde esse ano e que até 2021 não foi concretiza­da. E não o foi porque houve discrimina­ção política da nossa Junta de Freguesia por sermos do PSD. O Funchal era composto por cinco freguesias do PSD e cinco da coligação Confiança e eu notava que havia uma forma de atuação da Câmara em relação às Juntas deles e outra em relação às do PSD. Aliás, o nosso centro de convívio é a prova evidente disso mesmo: a obra estava orçada em cerca de 150 mil euros e nunca foi concretiza­da. E, quer queiram, quer não, este é um exemplo de discrimina­ção política.

Sentiu descrimina­ção da sua freguesia ao nível do investimen­to da CMF?

Senti! Repare, a CMF está a fazer um investimen­to de quatro milhões de euros na reabilitaç­ão do antigo matadouro mas não teve 150 mil euros para investir no nosso centro de convívio, que seria uma mais-valia para os nossos fregueses mais idosos. Por aqui já se vê que houve discrimina­ção ao nível do investimen­to público. Mais: qual é o interesse daquela obra para a população de Santa Luzia? Claro que globalment­e tem interesse, porque é uma obra que fica à entrada da cidade, mas testemunha também a falta de interesse da Câmara em investir numa obra de proximidad­e de uma freguesia que tinha uma Junta de cor política diferente da deles.

Mas aquela obra está localizada na sua freguesia. Não lhe reconhece interesse?

É assim: eu concordo com a intervençã­o num espaço que estava degradado há algum tempo. Mas não sei qual é o interesse que aquela obra terá para a população da freguesia. Como sabe, há um plano de pormenor para a reabilitaç­ão de toda aquela zona envolvente ao antigo matadouro mas espero que o Dr. Pedro Calado tenha agora atenção a esse plano até porque não tem lógica termos aquele prédio totalmente recuperado rodeado de casas degradadas.

Para além do centro de convívio, que outras obras precisam de ser executadas?

Temos a Rua Pedro José de Ornelas, que é uma das principais entradas para o centro do Funchal, que está uma lástima. É necessária uma intervençã­o profunda que englobe a substituiç­ão da rede de saneamento básico e da distribuiç­ão de água. Também gostaríamo­s de ver retirada do autossilo os autocarros da Rodoeste da zona do matadouro, porque hoje em dia não se justifica uma central de camionagem dentro da urbe funchalens­e com aquela expressão. Para além do fator poluição, há o fator ruído e nós reencaminh­amos para a CMF as muitas queixas dos nossos moradores que temos recebido ao longo dos anos.

Espera que com Pedro Calado na CMF esse problema tenha finalmente solução?

Estou confiante que sim.

Quais serão os grandes desafios que o seu sucessor terá neste mandato?

Neste momento, a grande preocupaçã­o do Tiago Rodrigues será acudir à parte social. Nós temos fregueses muito idosos, outros que vivem sozinhos, e ainda outros que estão desemprega­dos. E é com eles que a Junta tem de se preocupar. Mas também temos fregueses jovens que estão à procura do primeiro emprego e essa franja da população também terá de ser ajudada. Evidenteme­nte, a Junta não tem dinheiro para arranjar trabalho, mas podemos intervir junto de outras instituiçõ­es para resolver a situação.

Deixou a presidênci­a da Junta mas foi eleito presidente da Assembleia de Freguesia…

Eu queria deixar tudo, faço parte dos quadros da administra­ção pública e estou a quatro anos da minha aposentaçã­o. Mas eu sempre servi e defendi a minha freguesia. E por isso aceitei continuar. Além de que foi um compromiss­o que assumi com o presidente do meu partido. Assim, vou também poder apoiar o atual presidente da Junta naquilo que ele entender.

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