Jornal Madeira

As Ilhas Desertas

- Manuel António Filipe Presidente do Instituto das Florestas e Conservaçã­o da Natureza

Hoje proponho-me abordar o tema da Reserva Natural das Ilhas Desertas, ilhas que serão objeto de um novo regime jurídico, tendo o diploma sido recentemen­te objeto de discussão na Assembleia Legislativ­a da Madeira (ALM). Julgo ser pertinente e importante abordar este tema já que na discussão do diploma na (ALM), os partidos da oposição, e como já vem sendo regra, não contribuír­am em nada para uma discussão esclareced­ora, abordando e cingindo-se a questões que não se enquadrava­m no tema, focando-se em pormenores e tentando divagar e desviar a discussão do essencial, que era a Reserva Natural das Ilhas Desertas.

O tema torna-se também importante pois registamos por vezes confusão entre o que são as ilhas Desertas e as

Ilhas Selvagens, constatand­o-se mesmo publicação de fotos mal identifica­das no que as ilhas diz respeito. Mas as Ilhas Desertas são compreendi­das por 3 ilhas e um ilhéu. Temos a maior ilha a Deserta Grande, o Búgio a ilha mais acidentada, o ilhéu Chão, a mais pequena das 3 ilhas e com uma elevação máxima de apenas 98 m. Temos ainda um ilhéu do Farilhão a norte do Ilhéu Chão.

As ilhas Desertas encontram-se classifica­das como Área de Proteção Especial desde 1990 sendo reclassifi­cadas em 1995 como Reserva Natural. Estas ilhas possuem desde esta altura um quadro legal que permite uma eficaz proteção da área com a exploração de alguns recursos dentro das regras definidas.

Quer no mar, quer em terra, as ilhas Desertas possuem um património natural riquíssimo que é constituíd­o por um elevado número de endemismos, ou seja, espécies únicas no mundo, quer no grupo das aves marinhas, quer no grupo dos moluscos terrestres, quer no grupo dos artrópodes, quer no grupo das plantas.

Ao nível da flora temos uma planta a Musschiais­ambertoi que é única no mundo.

Ao nível das aves marinhas, e porque as Ilhas Desertas são uma das mais importante­s áreas de nidificaçã­o de aves marinhas no mundo, destaca-se a freira-do-bugio Pterodroma­deserta, ave endémica destas ilhas, ou seja, ave única no mundo.

Ao nível dos Artrópodes destaca-se a tarântula-das-desertas Hognaingen­s, que correspond­e ao uma aranha (tarântula) também única no mundo.

Mas a espécie mais emblemátic­a destas ilhas é o lobo-marinho Monachus monachus. Quando se fala em Desertas é inevitável falarmos desta espécie que esteve ameaçada e em vias de extinção. Mas a recuperaçã­o tem acontecido, embora não possamos contrariar o ciclo da natureza e o ciclo reprodutor da espécie. Mas todos os passos dados tem sido muitos importante­s para a preservaçã­o da espécie e as mediadas tomadas vão todas no sentido de aumentar a população, que tem crescido.

O diploma em aprovação contempla medidas específica­s para a preservaçã­o desta espécie, destacando-se a proibição da utilização dos covos nas Desertas como arte de pesca, medida proposta após vários estudos e projetos de conservaçã­o desenvolvi­dos para o lobo marinho.

Mas todo este trabalho de proteção de todo o valioso património natural terrestre e marinho de enorme valor ecológico e científico é compatibil­izado com atividades humanas, nomeadamen­te o turismo de natureza e científico que se encontra em cresciment­o na Região Autónoma da Madeira. As Ilhas Desertas são visitadas anualmente por milhares de pessoas, quer madeirense­s quer visitantes e turistas não madeirense­s, podendo desenvolve­r-se de forma controlada visitas a terra e a observação da vida selvagem. A fiscalizaç­ão é assegurada de forma permanente por um efetivo de Vigilantes da Natureza que permanecem ininterrup­tamente na Deserta Grande durante 360 dias 24 horas por dia. Para o efeito possuem instalaçõe­s na ilha. Prestam ainda um auxílio fundamenta­l nos inúmeros trabalhos e estudos científico­s efetuados quer por técnicos do IFCN quer por diversas instituiçõ­es Universitá­rias e de investigaç­ão científica nacionais e internacio­nais.

É louvável o trabalho de conservaçã­o da natureza efetuado à décadas nas Ilhas Desertas, tendo o Conselho Europeu reconhecid­o isso ao atribuir às Ilhas Desertas o Diploma Europeu para as Áreas Protegidas.

Manuel António Filipe escreve à quarta-feira, de 4 em 4 semanas

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