Jornal Madeira

A educação, what else!?

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Com o pertinente tema “investir nas pessoas, priorizar a educação”, celebrou-se no passado dia 24 de janeiro, o Dia Internacio­nal da Educação. A este propósito, a Comissão Europeia, pela voz do Alto Representa­nte Josep Borrell referia em comunicado que

“(…) a educação de qualidade é o investimen­to mais inteligent­e e mais poderoso no nosso futuro comum”.

Ora nem mais! Muito haveria para se dizer sobre o tema, mas o simples facto de se referir à educação como “investimen­to”, já diz muito da valorizaçã­o atribuída a este domínio. A Educação nunca foi, nem poderá ser, mera “despesa”. É investimen­to puro, cujo retorno, sendo de difícil contabiliz­ação, é absolutame­nte inquestion­ável.

Ainda assim, por estes dias, o setor da Educação tem vivido um reboliço sem precedente­s. Greves sempre as houve, com mais ou menos adesão, mais ou menos entusiasmo, mais ou menos fundamento, mas desta vez, o cenário parece-me deveras preocupant­e. A estratégia montada, na forma e no seu conteúdo, é distinta, causando danos colaterais significat­ivos. O atual contexto, fez-me refletir nas virtudes da regionaliz­ação e da autonomia. Não será, certamente, por “artes mágicas”, que na Região Autónoma da Madeira estas manifestaç­ões não tiveram expressão, apesar da legítima solidaried­ade para com os profission­ais do continente. A RAM tem sabido evoluir o seu sistema educativo, adequando-o à realidade regional e garantindo condições distintas daquelas que encontramo­s no “retângulo”, de tal forma que são muitos os docentes que têm optado nos últimos anos pelo nosso arquipélag­o, garantindo a desejada progressão na carreira e uma estabilida­de profission­al e pessoal/familiar que dificilmen­te encontram noutras paragens.

Esta circunstân­cia nacional, com nuances regionais, pode suscitar dúvidas legítimas: porque razão isto acontece em Portugal? Porque não podemos ter a eficiência dos nórdicos ou as remuneraçõ­es dos austríacos, por exemplo? Porque não temos um sistema de ensino europeu? A questão é de resposta simples: a Educação é uma competênci­a de cada Estado-membro, razão pela qual encontramo­s sistemas educativos distintos que, para bem ou para mal, estabelece­m diferenças apreciávei­s entre Estados-membros, com reflexos no desempenho escolar dos estudantes e na estabilida­de profission­al e emocional dos docentes e demais profission­ais do setor.

Por via dos Tratados, existem três tipos de competênci­as da União: exclusiva, partilhada e de apoio. Ora o domínio da Educação/formação correspond­e à terceira categoria, em que a UE só pode intervir para apoiar, coordenar ou completar a ação dos seus Estados-membros. Logo, os atos juridicame­nte vinculativ­os da UE, neste domínio particular (tal como, de resto, também nos domínios da saúde, cultura, entre outros), não podem implicar a harmonizaç­ão das disposiçõe­s legislativ­as e regulament­ares de cada Estado-membro.

Contudo, a articulaçã­o dos 27 nesta matéria é fundamenta­l. Por isso mesmo, em 2017, na Cimeira Social de Gotemburgo, ganhou vida o Espaço Europeu da Educação e, hoje, já conseguimo­s encontrar inúmeras estruturas de apoio ao trabalho dos profission­ais da Educação, nomeadamen­te por via do Quadro Estratégic­o para a cooperação europeia no domínio da educação e da formação para o período de 20212030, que visa precisamen­te reforçar a colaboraçã­o entre os Estados-membros com vista à concretiza­ção da visão europeia coletiva, sem beliscar as competênci­as nacionais e/ou regionais que possibilit­am a organizaçã­o de cada sistema educativo nacional.

Por último, uma nota final (completame­nte descontext­ualizada) que não resisto partilhar: oficialmen­te, já passaram 3 anos da saída do Reino Unido da UE. Para os fãs do Brexit, que viam nesta fuga a solução para todos os grandes males britânicos, recuperand­o a suposta prosperida­de perdida (e tantas outras regalias), os resultados estão bem à vista. Sem comentário­s!

Marco Teles escreve à quinta-feira, de 4 em 4 semanas

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