Droga voltou em força e reclamações também
Há duas ou três zonas de São Roque que não conseguem se livrar da droga e das consequências da mesma. Os assaltos voltaram e os moradores estão cansados e preocupados.
Os moradores da freguesia de São Roque, sobretudo nas zonas consideradas mais críticas, voltaram a deixar de ter descanso depois que um dos principais traficantes de droga foi libertado. O JM voltou a receber o alerta de que há famílias que não dormem, outras que dormem com um ferro ao lado da cama e outras que dormem à base de calmantes desde que a freguesia foi fustigada por uma onda de assaltos e de vandalismo, resultante do aumento do tráfico e consumo de estupefacientes. Estivemos no local no início desta semana, falámos com moradores e também com o presidente da Junta de Freguesia de São Roque.
Enquanto os primeiros não querem dar a cara por temerem represálias, este último garante que nada é como antes das primeiras reportagens feitas pelo JM. Ainda assim, admite que, depois de um período sem reclamações, o balcão de atendimento da Junta de Freguesia voltou a receber cinco queixas só numa semana. Pedro Gomes assegura que a situação está bem mais calma, depois que se criou a polícia de proximidade, e não se cansa de louvar o trabalho que tem sido feito pela Polícia de Segurança Pública. Enaltece, igualmente, o início do trabalho no terreno por uma equipa multidisciplinar que tenta uma aproximação aos toxicodependentes. Afirma que, neste momento, o local mais preocupante é a Vereda da Cova. Trata-se de uma longa e estreita escadaria, por onde, segundo diz Pedro Gomes, os traficantes escapam à PSP. Os moradores na zona conhecem todos. Um a um. Os que vendem e os que compram. Mas têm medo de intervir. O mesmo acontece numa zona da Estrada João
Abel de Freitas, onde o Jornal esteve à conversa com vários moradores.
Maria Paula, que vive sozinha com o marido mas passa grande parte do tempo só, devido ao facto de o marido trabalhar, admite que tem um ferro junto à cama. E que, quando ouve barulhos estranhos, “desce de um piso para outro, pé ante pé”. “Não vivo descansada”, acrescentou, referindo que já lhe tiraram coisas do carro, assim como levaram cântaros de orquídeas. Já a vizinha do outro lado da rua, que até já colocou uma câmara de vigilância que é controlada pela filha durante muitas horas do dia, refere que, neste Natal, levaram-lhe flores e uns bibelots de jardim.
Há uma casa mais acima, cujo morador estava ausente, mas que
esta mulher assegura que, durante o Natal, todos os dias, foram levados cântaros de ‘sapatinhos’. Na zona, há um terreno cujo proprietário alegadamente sofre de alzheimer. Os vizinhos sabem da condição desse senhorio e, por isso, pedem à Junta de Freguesia ou à Câmara Municipal para que façam como foi feito em becos do Funchal. Ou seja, em vez de um portão, uma vedação. É que, segundo contam, “há ali um traficante que se desloca para uma casa degradada e onde vende o produto. Todas as noites, seja 1 da madrugada, duas da madrugada, ouvem-se assobios. São os clientes que vêm buscar a droga. Isto é um sofrimento”, desabafa a mulher, a quem se junta mais uma família que também já foi vítima de problemas e até ameaçada de morte por parte de um traficante. “Nós estamos atentos ao ladrar dos cães, ao barulho das motas. São tudo sinais de que há traficantes e compradores por perto”, afirmam. E isso tem acontecido com alguma frequência, depois de um período de calmia.
O JM falou com o presidente da Junta de Freguesia de São Roque, que se mostrou agastado. Apesar de ser perentório ao afirmar que tudo acalmou, não deixou de admitir que, com os traficantes cá fora, “tudo volta ao mesmo”. E, prosseguiu, “não há polícia que consiga dar resposta a tanta solicitação”. Confirmou que o Chão do Carlinhos, outrora muito temido pelos moradores e população que passava no local, estava calmo. Referiu também que não se vê tanto indigente nas ruas. Mas admite que o problema persiste pelas queixas que vão chegando.
Problema que, ao que o Jornal apurou, está a chegar às redondezas da Universidade da Madeira. Moradores naquela zona contam ao JM que tem havido muitos assaltos perto do polo universitário.