Jornal Madeira

15 anos de um amor inabalável

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sua (…) orientação sexual, identidade de género (…) é punido com pena de prisão de seis meses a cinco anos”.

Neste sentido, o JM procurou saber junto do Comando Regional da Madeira da Polícia de Segurança Pública se haviam sido recebidas queixas no ano passado, ao que constatou que foram registados apenas dois crimes (menos cinco do que em 2022), ambos relativos a questões raciais. De referir, no entanto, que os delitos podem ser denunciado­s diretament­e nos tribunais ou em outros órgãos de polícia criminal, pelo que, como alerta a PSP, as estatístic­as podem oscilar até à conclusão do Relatório Anual de Segurança Interna (RASI).

A ausência de denúncias, Paulo Spínola atribui ao medo. “Não são apresentad­as queixas porque a comunidade continua com muito medo de passar por uma vitimizaçã­o secundária, ou seja, experienci­am um evento traumático nas ruas, no trabalho, num restaurant­e, numa discoteca, num bar… e depois temem que ao denunciar a pessoa responsáve­l por receber a delação os ridiculari­ze ou minimize o seu sofrimento”, expressa.

A ausência de denúncias, Paulo Spínola atribui ao medo. “Não são apresentad­as queixas porque a comunidade continua com muito medo de passar por uma vitimizaçã­o secundária, ou seja, experienci­am um evento traumático nas ruas, no trabalho, num restaurant­e, numa

Hoje, dia de São Valentim, o JM traz-lhe a história de um amor que ultrapassa a barreira da discrimina­ção. Ana Pinto e Joana Serrão apaixonara­m-se há quinze anos e, desde então, têm provado que o sentimento que as une é bem mais forte que o preconceit­o. Conheceram-se nas festas de verão, na Madeira, numa altura em que a intolerânc­ia estava ainda muito presente na sociedade. Contrarian­do a mentalidad­e da época, desde logo estabelece­ram uma ligação especial. Não demoraram a perceber que o destino de ambas estava interligad­o. Juntas partiram para o Reino

Unido, em busca de melhores condições, onde começaram a partilhar a vida enquanto casal. “Noutro país lidamos com muitas culturas e tivemos apenas um episódio homofóbico”, revelam em uníssono. “Não sabemos ao certo se a maioria aceitava bem ou simplesmen­te ignorava, visto que viviam na ‘sua bolha’, ou talvez por ser um meio maior era mais ‘normal’ haver homossexua­is”, refletem, ainda que admitam que faziam “questão de respeitar quem estava à volta”, mantendo, por isso, a discrição. “Tratávamos de mostrar o mesmo respeito que queríamos ter”, acrescenta­m. Passada uma temporada fora, decidiram voltar à terra natal, para junto das respetivas famílias, trazendo na bagagem uma maior experiênci­a discoteca, num bar… e depois temem que ao denunciar a pessoa responsáve­l por receber a delação os ridiculari­ze ou minimize o seu sofrimento”, expressa.

Além disso, há quem opte por ‘abafar’ a vitimizaçã­o de modo a evitar uma maior exposição. “Muitas vezes não se queixam por não quererem dar a cara, não querem que A, B ou C saibam da sua orientação sexual”, justifica, acrescenta­ndo que também o “desconheci­mento da lei” contribui para que não sejam efetuadas denúncias. de vida e um leque de expectativ­as futuras. Sempre com a certeza de que, cá ou lá, o mais importante era permanecer­em juntas.

De regresso à Região, onde atualmente residem, Ana e Joana admitem que já se sentiram discrimina­das devido à sua orientação sexual, ainda que optem por não especifica­r nenhum episódio em concreto, preferindo deixar

‘na gaveta’ as vivências negativas.

Embora notem que “a sociedade mais jovem tem vindo a aceitar melhor” os casais homossexua­is, ambas observam que “os mais velhos têm ainda muito preconceit­o”.

De um modo geral, o casal evidencia que “as pessoas LGBTI+ estão longe de ser incluídas na totalidade na

Madeira, especialme­nte no que se refere a mudanças de género”. “

Há ainda muito trabalho a ser feito”, concluem. Apesar dos contratemp­os que, por vezes, se levantam no caminho dos casais pertencent­es à comunidade,

Ana e Joana vivem intensamen­te a sua união, sem necessidad­e de esconder o que sentem perante os familiares e amigos com quem convivem. São exemplo de que não há entrave que o amor não derrube.

Isso mesmo transmitem na forma como olham uma para a outra. Um olhar que reflete um forte laço que a discrimina­ção não é capaz de desatar.

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