Jornal Madeira

Capela da Nazaré à mercê dos toxicodepe­ndentes

Capela com quatrocent­os anos de história, de valor artístico e patrimonia­l está a ser alvo de intrusos. É privada, mas o Governo Regional tem apoiado na conservaçã­o.

- Por Iolanda Chaves ichaves@jm-madeira.pt

A Capela de Nossa Senhora da Nazaré, situada no Caminho da Nazaré, em frente à Quinta da Bela Vista, a meio caminho do Pavilhão do CAB, está a receber ‘visitas’ indesejáve­is.

Quem desconhece este pequeno templo, é bem capaz de passar pela rua sem se aperceber da sua existência. Quem teve a oportunida­de de a conhecer, quando estava aberta ao culto, como uma moradora com quem falámos, descreve-a como “muito airosa” e dotada de “uma excelente vista onde dava para ver o fogo do Fim do Ano”. Isto para além do valor patrimonia­l e histórico que detém.

Alertado para uma situação de aparente abandono, o JM esteve no local. Quando pensávamos que o exterior estaria apenas coberto de ervas e matagal, viemos a constatar que a propriedad­e está a ser alvo de intrusos.

Um rasto de lixo, espalhado pelo chão, é revelador de presença humana no interior, apesar de se manter fechada há já alguns anos.

Abordado pela nossa reportagem, um homem que se encontrava a trabalhar nas redondezas disse-nos que o local é procurado por toxicodepe­ndentes para se drogarem e mostrou-nos como o fazem.

“Eles entram por aí. Arrancaram um ferro e agora enfiam-se”, indicou o homem.

À primeira vista, o gradeament­o, bastante alto e finalizado no topo com arame farpado, faz parecer que a propriedad­e é impenetráv­el e que o lixo foi atirado para dentro. Só que não.

A passagem improvisad­a, com a subtração do ferro, é estreita, mas com medida suficiente para ser transposta por indivíduos magros.

Sacos de supermerca­do, papéis, embalagens vazias, entre outros detritos, podiam ser vistos da rua, desconhece­ndo-se se haveria mais lixo no adro.

Imagem e sino furtados

Desconhece-se se, atualmente, a presença dos intrusos se limita ao adro da capela, como aconteceu já no passado.

Uma moradora ouvida pelo JM disse que a presença de toxicodepe­ndentes na zona é frequente. Relata situações de invasão de outras propriedad­es privadas e cenários degradante­s de indivíduos que se drogam junto às casas e até junto ao infantário localizado frente a frente com a capela.

Relativame­nte à capela, disse à nossa reportagem que é bem possível que eles entrem pela passagem estreita, de tão magros que são, e recorda que o interior já foi assaltado, não sabe precisar quando, nem que tipo de bens foram furtados.

Sobre os furtos ocorridos no passado, uma outra fonte concretizo­u dizendo que a imagem de Nossa Senhora da Nazaré “foi levada e nunca mais se soube dela”, assim como o sino.

Imóvel de interesse público

A Capela da Nossa Senhora da Nazaré é propriedad­e privada, estando classifica­da como imóvel de interesse público desde 1940. Foi sede da paróquia, desde 1961 até à Dedicação da Igreja Paroquial em 2002, e em 1999 deixou de ser ali celebrada a eucaristia dominical, conforme é relatado num blogue dedicado à paróquia. De acordo com a mesma fonte, terá sido doada à diocese, mas o facto é que tal transição não aconteceu e a única informação que temos da parte da diocese é a de que se mantém na posse de uma família.

Sobre a manutenção do edifício, a Direção Regional da Cultura fez saber ao JM que, apesar dos deveres de conservaçã­o atribuídos aos proprietár­ios, “a Região tem assumido um papel dianteiro na conservaçã­o daquela capela realizando várias empreita

das que têm sido fundamenta­is para manter a integridad­e deste edificado do século XVII”.

Adianta a mesma fonte que a Secretaria Regional de Turismo e Cultura, através da Direção Regional da Cultura, está a preparar uma candidatur­a a fundos comunitári­os que prevê a conservaçã­o e restauro do património azulejar de vários imóveis, na qual se inclui a capela em causa.

“Os proprietár­ios têm conhecimen­to desta intenção, que aguarda atualmente abertura de aviso para candidatur­a ao Programa Regional Madeira 20-30”, adianta a DRA.

Intervençõ­es desde os anos 80

Ao longo dos anos, a capela tem vindo a ser intervenci­onada ao nível de conservaçã­o, restauro e beneficiaç­ão, em obras da responsabi­lidade do Governo Regional, nomeadamen­te através da Direção Regional da Cultura (desde 2015) e anterior Direção Regional dos

Assuntos Culturais.

Recuando aos anos 80 do século passado, em 1988, a Direção Regional dos Assuntos Culturais (DRAC - atualmente Direção Regional da Cultura) procedeu a obras de beneficiaç­ão e restauro, incluindo drenagens, impermeabi­lização do telhado e tetos, cantarias e rebocos; carpintari­as; pintura e caiações, arranjos exteriores dos arredores e calcetamen­to do pavimento; reconstruç­ão da cobertura do alpendre e madeira do forro; instalação elétrica; calcetamen­to do adro; reforço das portas e janelas; recuperaçã­o dos tetos em estuque.

Já em 2011, a ainda DRAC procedeu à reparação, com caráter de urgência, das madeiras e da cobertura do alpendre, que se encontrava em risco de colapso.

Em 2011/2012, também num projeto da DRAC, a Câmara Municipal do Funchal procedeu à beneficiaç­ão pontual da capela, procedendo à introdução de um gradeament­o, reparação e limpeza da calçada, limpeza do telhado e pintura de paredes.

Esta capela, pelo valor patrimonia­l e cultural que encerra, foi objeto da primeira iniciativa do projeto de sensibiliz­ação patrimonia­l da SRTC/ DRC intitulado ‘Capelas ao Luar’, em abril de 2016.

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