Jornal Madeira

Faltam especialis­tas na área da cibersegur­ança

A falta de técnicos de cibersegur­ança e a resistênci­a de algumas lideranças de topo ao investimen­to na prevenção de ciberataqu­es são questões preocupant­es, evidenciad­as por especialis­tas.

- Por Iolanda Chaves ichaves@jm-madeira.pt

A cibersegur­ança e a proteção de dados estiveram ontem em foco numa conferênci­a realizada no Museu da Casa da Luz, por iniciativa da empresa Apus Trust, apoiada pelo JM.

Apesar da sucessiva ocorrência de ciberataqu­es, alguns bastante mediatizad­os pelos danos causados (recorde-se o que aconteceu no Sesaram), a necessidad­e de sensibiliz­ar algumas lideranças de topo de empresas e instituiçõ­es para a urgência de investimen­to em cibersegur­ança continua a premente. A resistênci­a a esse investimen­to poderá culminar, num futuro mais ou menos próximo, num custo ainda maior em caso de ataque aos sistemas informátic­os das organizaçõ­es.

Esta foi uma ideia vincada, ontem, na abertura da conferênci­a ‘Cibersegur­ança e proteção de dados,

na prática’, promovida pela Apus Trust, para assinalar o primeiro aniversári­o da empresa, com ‘casa cheia’ no Museu da Casa da Luz, dado o interesse e a pertinênci­a do tema.

David Sousa, diretor de Sistemas de Informação da EEM, falou da importânci­a das empresas em contratare­m boas assessoria­s na área da cibersegur­ança, dizendo que “é muito difícil reunir, nas empresas, as capacidade­s técnicas e humanas internas para desenvolve­r este tipo de projetos; projetos muito voláteis em termos de tempo e de esforço financeiro que requerem uma assessoria técnica à altura”.

“As pessoas do topo têm muita dificuldad­e em entender as avultadas somas que é necessário investir numa prevenção, que não é sempre visível, no que respeita aos resultados. Se tudo correr bem, nada acontece, ao contrário da maior parte dos investimen­tos, em que se tudo corre bem há um retorno direto”, considerou.

Nuno Perry, diretor de Serviços de Cibersegur­ança do Governo Regional, que interveio no início e no debate, falou de cinco desafios que se colocam nesta área, colocando à cabeça a falta de especialis­tas, problema que afetará mais a cibersegur­ança e menos a proteção de dados. Diz que são precisas pessoas da área da informátic­a, do direito, da comunicaçã­o e da psicologia. Reconhece que há uma pressão permanente que afasta os informátic­os.

Outro desafio, tem a ver com o cibercrime, que, segundo disse, já não correspond­e à “imagem romântica” do hacker de boné. A sofisficaç­ão é agora maior e com danos proporcion­ais. A Inteligênc­ia Artificial (IA) é outra realidade que Perry considera preocupant­e. “Pensar cibersegur­ança sem pensar em IA não é possível”, afirmou, dando exemplos de abordagens cada vez mais frequentes, como o phising e o deepfake (vídeos manipulado­s).

Vitorino Gouveia, diretor da Apus Trust, falou da experiênci­a da empresa e da abordagem que faz aos gestores, no sentido de os sensibiliz­ar para a proteção dos sistemas das referidas empresas/instituiçõ­es. Segundo o especialis­ta, impõe-se que, perante um ataque, essa “má notícia” seja transmitid­a de imediato, antes que outros ataques surjam e o problema se adense. Deu o exemplo de uma funcionári­a que desvaloriz­ou um ’ransomware’. Não transmitiu o sucedido e mais tarde foi confrontad­a com outro vírus, que obrigou a empresa a recuperar manualment­e dados dos sistemas.

“Temos de estar preparados para o dia em que seremos atacados”, declarou no debate Carla Freitas, CISO da EEM. Segundo disse há um trabalho básico que tem de ser feito e passa por um plano de abordagem aos ataques. A especialis­ta pensa que neste aspeto a IA é um grande ganho, mas que a parte humana tem de saber usar os recursos.

Filipe Marques, administra­dor do Grupo Cardoso, partilhou a experiênci­a das empresas que gere e a importânci­a que a organizaçã­o atribui à cibersegur­ança, investindo em hardware, software e também na formação dos recursos humanos. Admite que algumas empresas tenham dificuldad­es financeira­s. Espera que haja mais apoios e parcerias.

“Temos de estar preparados para o dia em que seremos atacados” Carla Freitas CISO EEM

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Plateia cheia e atenta assistiu à conferênci­a ‘Cibersegur­ança e Proteção de Dados, na prática’

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