Jornal Madeira

Miguel Albuquerqu­e: “Dez anos afastado e diz que o partido está doente. Estamos a brincar?”

Na véspera das eleições no PSD, Albuquerqu­e lembra que Manuel António esteve afastado dez anos, sem ajudar o partido. Nega pressões, queixa-se de “gente sem o mínimo de carácter”, “dispensáve­l no partido”, e garante que, a ser reeleito, manterá a postura

- Por Miguel Silva, Miguel Guarda e Paula Abreu redacao@jm-madeira.pt

Como tem explicado aos militantes os avanços e recuos que assumiu nos últimos meses, como a demissão do governo, o querer voltar, a demissão do partido e a recandidat­ura?

Nunca me demiti devido ao processo de averiguaçõ­es. Não tenho nada para esconder. Não estava acusado e tinha a minha consciênci­a tranquila. A minha demissão derivou de uma simples circunstân­cia: de ter sido retirado – aliás, tive uma conversa pessoal com a líder do PAN - o apoio parlamenta­r, no dia seguinte ao ter dito que não me demitia. Isso levou a que o PS e o Chega tivessem apresentad­o moções de censura. Isso faria com que o governo caísse na semana seguinte. Daí ter apresentad­o a minha demissão.

A expetativa era ter conhecimen­to dos contornos do processo do que se estava a passar em Lisboa num prazo de 48 horas, como diz a Constituiç­ão. Passaram 21 dias. E o que se constatou foi que o juiz de instrução analisou os factos e disse uma coisa muito clara no despacho: não havia qualquer crime muito menos indício de crime grave.

Isso significou a alteração imediata das circunstân­cias e da perceção da opinião pública.

Por um lado, a decisão do representa­nte e do Presidente da República era aguardar até ao dia 24 de março, data em que o sr. Presidente tem o poder de dissolução. Tínhamos constatado a situação de o governo e a maioria estarem a ‘coser em fogo lento’, porque não tinham capacidade de fazer qualquer ação de agenda política. Nós tínhamos de passar à ação, porque estivemos numa situação de paralisia durante 21 dias.

Portanto, essa decisão judicial foi um momento decisivo?

Foi um momento decisivo em todo o processo, também político. Passámos de uma situação de intranquil­idade para uma situação de estupefaçã­o e de indignação. Entretanto, começaram a existir movimentaç­ões dentro do partido, que eu também percebi, e por isso convoquei uma comissão política e conselho regional para fazer uma clarificaç­ão da direção do partido, sendo fundamenta­l dar voz aos militantes para não haver quaisquer dúvidas ou reservas mentais relativame­nte à liderança.

O que acha que vai decidir o Presidente da República a partir do dia 24? O Presidente da República tem duas opções: ou dissolve a Assembleia e marca eleições, ou, se for caso de apresentar­mos um quadro de maioria de estabilida­de governativ­a, pode dar continuida­de ao governo no sentido de se completar os três anos e meio de legislatur­a. E há um dado fundamenta­l: a maioria que tivemos em setembro foi reconfirma­da com um voto de confiança nestas últimas eleições legislativ­as, em que a maioria obteve mais dois mil votos.

O apoio dos militantes tem sido o que esperava?

Estas são eleições muito peculiares. O que conta é o contacto muito personaliz­ado com os militantes, que são livres. Sabem que temos uma situação na Região de grande prosperida­de económica, de desemprego baixo. E sabem o percurso muito difícil que nós fizemos desde 2015. Saímos do PAEF, deu-se a recuperaçã­o de economia, começámos a diminuir o desemprego. Tivemos a covid-19, que foi um grande desafio que tivemos pela frente. Foram percursos muito difíceis de governação.

RÁDIO Ouça a entrevista na 88.8 JM FM depois das 12h00.

O seu adversário nestas eleições acusa a sua direção de comportame­ntos antidemocr­áticos. Como reage a isso? Queriam fazer uma coisa que neste momento não é possível, que era ter os

dados todos dos militantes para pagar quotas. Não é possível, porque o regulament­o foi aprovado há três anos – e bem - no sentido de evitar essa manipulaçã­o. Todos os militantes recebem uma indicação para fazer o pagamento de quotas e todos os militantes têm a possibilid­ade de o fazer, independen­temente do caciquismo de andarem a arrebanhar votos, para pagar votos e tentar controlar as eleições.

E sobre alguma pressão política de membros de governo, por exemplo. Faz sentido esse tipo de observação? Não há nenhuma pressão política. Tanto mais que há pessoas que não têm vergonha na cara, que estão em lugares de nomeação política de confiança e que, neste momento, estão a apoiar a outra candidatur­a. O que, para mim, é um pouco estranho. Se houvesse alguma pressão política, elas não iam fazê-lo.

Vai contar com esses militantes que hoje estão em cargos políticos, caso seja reeleito?

Se o resultado correr mal, vai haver uma desculpa. Vai haver sempre uma desculpa. O meu adversário estava a dizer que o partido estava doente e desfasado. É o que ele diz com bastante frequência. Mesmo doente, então como é que ganhámos as últimas sete eleições, não tendo ele participad­o em nenhuma ação do partido há dez anos? Se o partido estivesse desfasado era o contrário, perdia votos e não ganhava eleições.

Mas, vai continuar a confiar naqueles que estando em cargos no governo e de municípios estão a apoiar a outra candidatur­a?

Nos meus mandatos, depois de eleições internas, os militantes sabem que eu integrei todo o partido e faço a união do partido. Já é conhecida a minha postura.

Acha normal haver tanta gente fazer-lhe oposição interna depois de vários anos de governação?

Não é tanta gente. Há pessoas que querem continuar a mandar no partido depois de terem saído, de forma indireta, ou que querem ter a sua revanche ainda de 2014. Há outros que estão ressabiado­s porque quando estavam nos cargos, como na Assembleia da República, diziam que estava tudo ótimo no partido, e quando saíram do Parlamento (acham que os cargos devem ser eternos), dizem que eu e o partido já não prestamos. Há ainda outros que querem resolver o problema das autarquias em 2025 fora do tempo. É isto que está a acontecer.

Sente-se injustiçad­o perante as críticas, depois dos resultados que apresentou?

É estranho que uma pessoa que esteve dez anos afastada, que foi convidada para participar, nunca participou, não fez uma campanha, não fez um pequeno gesto para ajudar o partido nas lutas que tivemos. E agora vem dizer que o partido está doente e desfasado? Estamos a brincar? O PSD continua vitorioso ao fim de 48 anos. Somos o partido liderante na Região, nós é que ganhámos as eleições.

Faz sentido para si, nessa lógica de união do partido e depois das diretas, voltar a contar com Manuel António Correia num cargo público?

Nós contamos com toda a gente. Estamos ainda nestas eleições e não vou fazer futurologi­a. Mas, há gente neste partido que tem um ego muito grande e, infelizmen­te, há gente que não tem o mínimo de carácter e para quem o partido só serve quando estão nos lugares. Quando não estão, o partido e o líder não prestam. Essa gente é dispensáve­l. Se a ideia é manter os tachos e os lugares, e estão para ‘trepar o pau de sebo’, não vale a pena estarem lá dentro.

Nunca perdi nenhuma eleição até hoje. E, a situação que eu constato é que há pessoas que nunca deram nada pelo partido, alguns miúdos que inclusivam­ente estão a começar agora, com uma arrogância e uma soberba de poder que não é normal. Não é assim que se faz política. Temos de ter humildade de aprender a fazer o caminho e não é esta soberba de pessoas que não têm nenhuma experiênci­a ou de ressabiado­s que vão resolver os problemas do PSD.

O que sentiu quando ouviu Alberto João Jardim dizer que este era o fim do seu ciclo?

Esse era o sonho dele, mas penso que ele

Miguel Albuquerqu­e assume-se como “um político de risco e de decisão” e diz que os militantes devem votar nele por ser “o garante de um partido vencedor”. vai ter um desgosto. Vamos ver. Quem vai decidir são os militantes.

Nas próximas eleições regionais e partindo do pressupost­o que há eleições antecipada­s, o PSD vai sozinho?

O que está na minha moção é que vamos sozinhos. Eu acho, aliás, que cada partido da atual coligação deve fazer uma avaliação. Mas, como é óbvio, e no quadro político que se perspetiva­r, ver quais os entendimen­tos que temos de fazer se não houver maioria absoluta.

Qual a sua disponibil­idade para negociar com outros partidos?

Neste momento, não posso dizer. A nossa perspetiva, neste momento, é de ouvir o Presidente da República e qual o cenário que ele vai considerar. A minha preocupaçã­o é aprovar um orçamento para a Região. Uma das grandes prioridade­s foi a execução do PRR. Felizmente, tivemos um parecer do Tribunal de Contas em que o governo de gestão pode lançar os concursos no âmbito do PRR.

Com o cresciment­o do Chega na Madeira, admite um acordo de coligação? Estamos agora num quadro de eleições internas. O Chega cresceu à custa do PS. Aquela armadilha de fazer um cerco sanitário, que foi tantas vezes reiterada pelos dirigentes do PS nacional, fez com que o Chega crescesse exponencia­lmente. A criatura pode devorar o criador e, na Madeira, foi buscar dez mil votos ao PS.

Mas, se for preciso, admite uma coligação com o Chega?

Não admito nem excluo nada. Esse é um cenário para tratar na altura própria.

Mas com o PAN terá outra opinião? Achei estranhíss­imo uma pessoa me ligar a dizer que me retirava a confiança política quando eu não estava acusado de nada. Assim, faço uma denúncia pública contra alguém, o Ministério Público tem de fazer os procedimen­tos normais, e essa pessoa é obrigada a se retirar do cargo político. Essa é uma forma de não termos estabilida­de política.

Esta ideia de fazer, como o Ps-madeira está a fazer, denúncias anónimas com distorções dos factos e falsidades, no sentido de retirar dividendos políticos, faz com que ninguém consiga governar. Se você é investigad­o, tem de se demitir? Isso não faz qualquer sentido. Isso cria uma instabilid­ade política geral. É bom pensarmos nisto, porque tem a ver com o sistema político.

Esta investigaç­ão judicial teve causas políticas?

Teve, com certeza que sim. As denúncias anónimas que foram feitas, muitas foram pelo PS.

O que deve marcar o próximo ciclo da governação regional?

Nós temos de manter o rumo que temos. É importante que as pessoas percebam isto. O cresciment­o económico e a mudança de paradigma que houve na Madeira é fantástica. Temos de concluir o nosso hospital.

Fim de um ciclo? Esse era o sonho dele (Alberto João Jardim), mas penso que ele vai ter um desgosto.

Não admito nem excluo nada (eventual acordo com o Chega). Esse é um cenário para tratar na altura própria.

Este é o momento mais difícil da sua carreira política?

Não. Já tive momentos muito difíceis na minha carreira política. Dou alguns exemplos: o 20 de fevereiro de 2010, os incêndios e a covid-19, que foi uma gestão muito difícil, e fizemo-la bem. Isso é que foram momentos difíceis. Estas eleições são simples. Se os militantes me derem a confiança, eu continuo. Se não me derem, eu vou-me embora.

Admite a possibilid­ade de ter de sair? Quando se vai a eleições, estamos sujeitos a tudo. Eu sou um político de risco e de decisão. Eu não ando aqui para agradar a gregos e a troianos. Se se quer fazer uma gestão de manutenção do lugar, não se toma decisão nenhuma. E, se quer agradar a toda a gente, acaba-se por ser devorado por todos.

Porquê que os militantes devem votar em si e não em Manuel António? Porque eu sou o garante de um partido vencedor, com um histórico, desde 1994, de vitórias. É normal que votem em alguém que tem experiênci­a, credibilid­ade, liderança e resultados. O meu adversário nunca ganhou nenhuma eleição e acho que nem ganhou a assembleia de condóminos.

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