A hiperatividade tende a diminuir com a idade?
Daniel Neto, psiquiatra, desmistifica a Perturbação de Hiperatividade e Défice de Atenção, que atinge sobretudo crianças e se manifesta, de uma forma mais expressiva, nos rapazes.
A hiperatividade, designação comum para uma doença do neurodesenvolvimento, tem se revelado ao longo dos anos uma preocupação para muitos pais.
Certamente, em algum momento da sua vida, já ouviu relatos que associam a energia das crianças, ou até mesmo a má educação, a esta condição, cientificamente estabelecida como Perturbação de Hiperatividade e Défice de Atenção (PHDA). Contudo, “isto não é verdade”, antes, trata-se de uma doença que deriva de “alterações neurológicas”.
Foi desta forma que, em declarações ao Jornal, Daniel Neto, psiquiatra, definiu a condição, assumindo a existência de um “efeito de moda”, justificado pelo facto de estarmos ‘mergulhados’ nas doenças mentais.
Deste alerta que emana sobre as pessoas, agora de uma forma mais persistente, surge uma procura desenfreada por pedopsiquiatras, especialistas em saúde mental das crianças e adolescentes.
Mas comecemos por clarificar de que se trata esta doença. O especialista explica-nos que resulta de uma alteração na evolução normal do cérebro e que se manifesta de diferentes formas, consoante a idade e o desenvolvimento cognitivo-sexual dominante.
A origem desta condição é desconhecida, todavia, sabe-se que existe uma importante componente genética, a par de fatores de risco, tais como a exposição a tóxicos durante a gravidez, parto prematuro ou, ainda, qualquer forma de dano cerebral.
A perturbação distribui-se por duas categorias distintas: défice de atenção e dificuldade de concentração e, noutro polo, hiperatividade e impulsividade. E os sintomas diferem consoante a classificação (ver quadros 1 e 2), sendo que a sintomatologia pode debruçar-se sob ambas ou apenas uma delas. Daqui, conclui-se que nem todos os hiperativos têm necessariamente défice de atenção.
Neste quesito, o profissional chamou a atenção para o facto de apenas se poder considerar que a doença está presente quando existem pelo menos seis sintomas em cada categoria, por um período superior a seis meses. Além disso, o diagnóstico surge de uma forma mais expressiva nos rapazes, provavelmente devido “à diferença dos sintomas”, acrescenta.
“Enquanto os rapazes tendem a manifestar mais hiperatividade e impulsividade, as raparigas tendem a mostrar mais dificuldade de concentração. Como os indícios de hiperatividade e impulsividade são mais facilmente reconhecidos, são também mais frequentemente encaminhados para tratamento”, explica.
Depois do reconhecimento da doença na pessoa, existe a possibilidade de terapia e, na maioria dos casos, “acontece uma melhoria significativa, com diminuição do sofrimento da pessoa e da família”. Aqui, há a possibilidade de adotar estratégias farmacológicas, ou não, como é o caso da terapia ocupacional e psicoterapia. No seio familiar, o psiquiatra frisa que um “ambiente calmo” e “compreensivo” resulta igualmente como uma opção fundamental para melhorar a vida familiar.
Na infância, a condição é pautada por desatenção e impulsividade, mas, conforme elucidou Daniel Neto, “felizmente a grande maioria das crianças e adolescentes com estes sintomas, devido ao desenvolvimento posterior do cérebro, que termina entre os 20 e os 30 anos, consegue ultrapassar a doença”, atingindo, inclusive, o estádio assintomático.
Pelo exposto, é verdadeiro que a hiperatividade tende a diminuir de acordo com o desenvolvimento do cérebro, que atinge a sua maturação em idade adulta, podendo, inclusive, desaparecer.