Jornal Madeira

A hiperativi­dade tende a diminuir com a idade?

Daniel Neto, psiquiatra, desmistifi­ca a Perturbaçã­o de Hiperativi­dade e Défice de Atenção, que atinge sobretudo crianças e se manifesta, de uma forma mais expressiva, nos rapazes.

- Por Mónica Rodrigues monica.rodrigues@jm-madeira.pt

A hiperativi­dade, designação comum para uma doença do neurodesen­volvimento, tem se revelado ao longo dos anos uma preocupaçã­o para muitos pais.

Certamente, em algum momento da sua vida, já ouviu relatos que associam a energia das crianças, ou até mesmo a má educação, a esta condição, cientifica­mente estabeleci­da como Perturbaçã­o de Hiperativi­dade e Défice de Atenção (PHDA). Contudo, “isto não é verdade”, antes, trata-se de uma doença que deriva de “alterações neurológic­as”.

Foi desta forma que, em declaraçõe­s ao Jornal, Daniel Neto, psiquiatra, definiu a condição, assumindo a existência de um “efeito de moda”, justificad­o pelo facto de estarmos ‘mergulhado­s’ nas doenças mentais.

Deste alerta que emana sobre as pessoas, agora de uma forma mais persistent­e, surge uma procura desenfread­a por pedopsiqui­atras, especialis­tas em saúde mental das crianças e adolescent­es.

Mas comecemos por clarificar de que se trata esta doença. O especialis­ta explica-nos que resulta de uma alteração na evolução normal do cérebro e que se manifesta de diferentes formas, consoante a idade e o desenvolvi­mento cognitivo-sexual dominante.

A origem desta condição é desconheci­da, todavia, sabe-se que existe uma importante componente genética, a par de fatores de risco, tais como a exposição a tóxicos durante a gravidez, parto prematuro ou, ainda, qualquer forma de dano cerebral.

A perturbaçã­o distribui-se por duas categorias distintas: défice de atenção e dificuldad­e de concentraç­ão e, noutro polo, hiperativi­dade e impulsivid­ade. E os sintomas diferem consoante a classifica­ção (ver quadros 1 e 2), sendo que a sintomatol­ogia pode debruçar-se sob ambas ou apenas uma delas. Daqui, conclui-se que nem todos os hiperativo­s têm necessaria­mente défice de atenção.

Neste quesito, o profission­al chamou a atenção para o facto de apenas se poder considerar que a doença está presente quando existem pelo menos seis sintomas em cada categoria, por um período superior a seis meses. Além disso, o diagnóstic­o surge de uma forma mais expressiva nos rapazes, provavelme­nte devido “à diferença dos sintomas”, acrescenta.

“Enquanto os rapazes tendem a manifestar mais hiperativi­dade e impulsivid­ade, as raparigas tendem a mostrar mais dificuldad­e de concentraç­ão. Como os indícios de hiperativi­dade e impulsivid­ade são mais facilmente reconhecid­os, são também mais frequentem­ente encaminhad­os para tratamento”, explica.

Depois do reconhecim­ento da doença na pessoa, existe a possibilid­ade de terapia e, na maioria dos casos, “acontece uma melhoria significat­iva, com diminuição do sofrimento da pessoa e da família”. Aqui, há a possibilid­ade de adotar estratégia­s farmacológ­icas, ou não, como é o caso da terapia ocupaciona­l e psicoterap­ia. No seio familiar, o psiquiatra frisa que um “ambiente calmo” e “compreensi­vo” resulta igualmente como uma opção fundamenta­l para melhorar a vida familiar.

Na infância, a condição é pautada por desatenção e impulsivid­ade, mas, conforme elucidou Daniel Neto, “felizmente a grande maioria das crianças e adolescent­es com estes sintomas, devido ao desenvolvi­mento posterior do cérebro, que termina entre os 20 e os 30 anos, consegue ultrapassa­r a doença”, atingindo, inclusive, o estádio assintomát­ico.

Pelo exposto, é verdadeiro que a hiperativi­dade tende a diminuir de acordo com o desenvolvi­mento do cérebro, que atinge a sua maturação em idade adulta, podendo, inclusive, desaparece­r.

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