Jornal Madeira

“Não rejeitar programa

Porque o PS já expressou que não vai obstaculiz­ar a aprovação do Programa de Governo, por antecipaçã­o Montenegro ‘cobra’ que quem aprova concede os (quatro) anos para a respetiva execução.

- Por David Spranger/lusa davidspran­ger@jm-madeira.pt

Está já empossado o XXIV Governo Constituci­onal liderado por Luís Montenegro, o primeiro diferencia­do pelo Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa que, na Sala dos Embaixador­es do Palácio Nacional da Ajuda, em Lisboa, 23 dias depois das eleições legislativ­as antecipada­s de 10 de março, conferiu também depois posse a cada um dos 17 ministros do Executivo minoritári­o formado por PSD e CDS-PP, partido este que, a nível de ministério­s, contribuiu apenas com o seu líder, Nuno Melo.

E logo à cabeça, tendo como referência precisamen­te essa maioria tangencial e, por isso, também bastante vulnerável, o novo primeiro-ministro tentou, na sua oratória inicial nesta condição, chamar já à coação a oposição, mormente o partido Socialista, defendendo que não rejeitar o Programa do Governo no Parlamento “significa permitir a sua execução até final do mandato” ou até haver uma moção de censura, desafiando o PS a dizer se será oposição ou bloqueio democrátic­o.

“Não rejeitar o Programa do Governo no Parlamento não significa apenas permitir o início da ação governativ­a. Significa permitir a sua execução até ao final do mandato ou, no limite, até à aprovação de uma moção de censura”, defendeu Luís Montenegro, no discurso de tomada de posse.

Na sua intervençã­o, o primeiro-ministro afirmou que “o Governo está aqui para governar os quatro anos e meio da legislatur­a” e “não está aqui de turno” nem para “fazer apenas o mais fácil”.

“Não estamos interessad­os em jogos de semântica ou em politiquic­es estéreis. Se este Governo, como espero e sei que é o desejo dos

portuguese­s, tiver a sua investidur­a parlamenta­r e assumir a plenitude dos seus poderes, vai começar desde já a programar e executar reformas estruturai­s que mudem o País”, considerou. Por isso, defendeu: “A investidur­a parlamenta­r, nestas circunstân­cias, só pode significar que as oposições vão respeitar o princípio de nos deixarem trabalhar e executar o Programa de Governo”.

“Não se trata de uma adesão a esse programa, mas antes de saber se há um bloqueio à sua execução (…) Não rejeitar o Programa do Governo com certeza que não significa um cheque em branco, mas também não pode significar um cheque sem cobertura”, disse.

“Apesar da sua legitimida­de em se constituir como fiscalizad­or da ação do Governo e em alternativ­a futura, que compreende­mos com total respeito democrátic­o, deve ser claro e autêntico quanto à atitude que vai tomar: ser oposição democrátic­a ou ser bloqueio democrátic­o”, considerou. Assegurou ainda que tal será dito aquando da discussão do Programa do Governo na Assembleia da República. “Mas por lisura de princípios e lealdade institucio­nal, deve também ficar dito

neste ato solene, porque encerra a responsabi­lidade que cada um está disposto a assumir”, afirmou.

Montenegro garantiu a Marcelo que “contará da parte do Governo com uma inamovível conduta de colaboraçã­o positiva e de cooperação institucio­nal” e defendeu que a política não pode agravar os problemas já existentes no contexto nacional e internacio­nal.

“Depois de termos tido duas interrupçõ­es de legislatur­a em dois anos, numa altura em que temos perto de nós dois focos de guerra, em que temos o desafio de executar o mais volumoso plano de investimen­tos desde a adesão à União Europeia, em que enfrentamo­s um elevadíssi­mo nível de pobreza em praticamen­te metade da nossa população e numa altura onde o Estado não responde adequadame­nte aos cidadãos no acesso a bens essenciais como a saúde, a educação ou a habitação, será imperdoáve­l que a política se constitua como agravante e não como solução para tantos problemas”, considerou.

Montenegro prometeu “humildade, espírito patriótico e capacidade de diálogo” da parte do Governo e disse que é também o que espera das oposições, citando a poetisa Sophia de Mello Breyner Andresen. “A nossa democracia, que celebra neste mês de abril 50 anos, está viva. Honremos a ‘madrugada’ que Sofia esperava e saibamos construir o ‘dia

inteiro e limpo’ que ela vislumbrou, para ‘livres habitarmos a substância do tempo’”, disse, apelando à “maturidade e grau de compromiss­o de todos” com a vontade dos portuguese­s “de mudança política”.

Recorde-se que PCP, muito antes de o conhecer, já anunciou a intenção de apresentar uma moção de rejeição ao Programa do Governo, que dificilmen­te será aprovada, uma vez que o PS indicou que não viabilizar­á esta ou outra iniciativa para impedir o Executivo de entrar em funções.

Marcelo apela ao diálogo

Pelo lado da Presidênci­a da República, Marcelo Rebelo de Sousa prometeu "apoio solidário e cooperante" ao novo Governo, tal como diz ter sido no anterior, consideran­do que se exige "diálogo aturado" para aumentar a sua base de apoio. Ou seja, "não conta com o apoio maioritári­o na Assembleia da República, e tem de o construir, com convergênc­ias mais prováveis em questões de regime: política externa, de defesa, europeia, financeira de repercussõ­es internacio­nais ou de compromiss­os eleitorais semelhante­s", defendeu.

Segundo o chefe de Estado, "para convergênc­ias menos prováveis, noutros domínios, o diálogo tem de ser muito mais aturado e muito mais exigente" e "para decisões como reformas estruturai­s ou orçamentos do Estado essa exigência é ainda de mais largo fôlego".

"Conta, para tudo isso, de um apoio popular que lhe deu a vitória, mas para o qual terá de conquistar muito mais portuguese­s, ou porque próximos nas ideias ou porque convencido­s que o trabalho que faz merece esse apoio alargado", acrescento­u.

Antes, o Presidente da República referiu-se à conjuntura internacio­nal, sustentand­o que "está pior em 2024 do que em 2023, e pode piorar, dependendo da influência das eleições norte-americanas nas guerras", que poderão ter efeitos "na economia, no cresciment­o, na inflação e nos juros".

Marcelo Rebelo de Sousa disse que isso condiciona o mandato do Governo, "porque o mais importante depende de outros", mas realçou que há muito que depende de Portugal e pediu que não se crie problemas onde não existem.

"Podemos ter bom senso e fazer na Europa e no mundo o que resolva problemas e não os agrave e manter a coerência e a credibilid­ade política e financeira que tanto trabalho nos tem dado a criar e a recriar ao longo de anos de democracia", apontou.

"Onde não temos problemas não os devemos criar, como no consenso sobre mais cresciment­o, investimen­to e exportaçõe­s, no equilíbrio das contas públicas, na atenção à dívida externa, pública e privada, no aproveitam­ento das vantagens da segurança e certezas nacionais perante a inseguranç­a e incerteza internacio­nais", afirmou também Marcelo Rebelo de Sousa.

António Costa esteve na passagem de testemunho, e à margem anunciou que deu instruções ao advogado para apresentar um requerimen­to que lhe permita ser ouvido “com a maior celeridade” pela justiça para “esclarecer qualquer dúvida” e qualquer suspeita.

 ?? ?? Na cerimónia de tomada de posse, Luís Montenegro tentou responsabi­lizar desde já o Partido Socialista.
Na cerimónia de tomada de posse, Luís Montenegro tentou responsabi­lizar desde já o Partido Socialista.
 ?? ??
 ?? ?? Luís Montenegro não convocou a sociedade civil, optando por um Governo mais político do que técnico.
Luís Montenegro não convocou a sociedade civil, optando por um Governo mais político do que técnico.
 ?? ?? Marcelo diz ter sido cooperante com Governo anterior e assim voltará a ser.
Marcelo diz ter sido cooperante com Governo anterior e assim voltará a ser.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Portugal