O painel que juntou a arte e o povo
A 10 de junho, o MDAP pintava o mural coletivo do Painel do Mercado do Povo, a envolver 48 artistas (que simbolizavam cada ano em que perdurou a ditadura), na Galeria Nacional de Arte Moderna, em Belém. Uma apelidada ‘Festa’ à qual se juntaram as esculturas de José Aurélio, obras em pano de Clara Menéres, e outras performances a envolver a música, o teatro e a poesia.
As celebrações culturais do 10 de Junho, que se estenderam à população, desde as crianças a pintarem torres de tijolos aos adultos a encherem um muro na envolvente de diversas palavras de ordem, foram inclusivamente transmitidas pela RTP, numa emissão interrompida por ordem do MFA e do I Governo Provisório quando o Teatro da Comuna satirizava os dirigentes do anterior regime. Aqui, dá-se “um dos primeiros atos de censura depois do 25 de Abril”, que veio a gerar “forte contestação” por parte dos espectadores, trabalhadores da a RTP e partidos de esquerda. Conforme é recordado na plataforma oficial da Comissão Comemorativa dos 50 anos do 25 de Abril, ao saber da interrupção da transmissão, o pintor Júlio Pomar – um dos 48 envolvidos no erguer do Painel do Mercado do Povo -, “pegou nos seus pincéis, amarrou-os à sua pintura e pintou por cima: ‘a censura existe’”. Certo será que o Painel do Mercado do do Povo, uma obra que viria a ser destruída em 1981, num incêndio o que consumiu a Galeria de Arte Moderna, representou uma primeira ra a tentativa de unir os profissionais das artes e a população, que até então não tinha fácil acesso à arte.