Jornal Madeira

A praia das touradas, futebol e caminhadas

A mais extensa praia do Funchal já teve instalaçõe­s da Shell, parque de diversões, praça de touros e muitas veredas que os locais conheciam como ninguém e percorriam para nadar em dias de verão.

- Por Carla Ribeiro carlaribei­ro@jm-madeira.pt

Formosa. Assim se chama a mais comprida praia da ilha da Madeira (tem dois quilómetro­s) e fica a oeste do Funchal, quase, quase a ‘beijar’ Câmara de Lobos. Este acesso ao mar, que até tem ligação ao concelho vizinho através de uma promenade, subdivide-se em outras praias. Umas mais recônditas do que outras.

A Praia Formosa é tanto uma opção para passar um dia inteiro, como um refúgio para um mergulho rápido, depois de horas a passear e a explorar a ilha.

E é cada vez mais procurada devido ao facto de o acesso ser gratuito, ao contrário do que acontece com as outras do Funchal que, com o passar dos tempos, foram sujeitas a obras de intervençã­o, passando de calhau a cimento, e exigindo o pagamento de entrada, quer a locais, como a turistas.

Para chegar a estas águas do

Atlântico, basta ter sorte em arranjar lugar para estacionar, problema que sempre existiu mas que se agravou quando os donos dos terrenos localizado­s junto a um dos principais bares de apoio à praia decidiram encerrar o acesso aos lugares de estacionam­ento que ali existiam. Um imbróglio que se mantém até hoje.

Ainda assim, quem ali se dirige, encontra uma renovada promenade que se estende praticamen­te ao longo dos 2 quilómetro­s e que até faz a ligação com a Doca do Cavacas (piscinas naturais pagas) e que, tal como a Praia Formosa, estão a cargo da Frente Marfunchal.

Encontra vários bares espalhados pela promenade, onde se pode refrescar com uma bebida fresca a olhar para o imenso mar que, na maioria das vezes, está limpo e calmo.

Mas, lembra-se de quando ali funcionou, à direita de quem desce, uma praça de touros? Foi por cerca de seis meses, apenas. Mas existiu. Isto na década de 80.

A praça vermelha foi instalada em cima do terreno de terra. Zona onde, também durante anos, o Natal foi vivido intensamen­te com o extenso parque de diversões.

Silva [apenas Silva, que é assim que é conhecido] conta-nos que,

Lembra-se de quando ali funcionou, à direita de quem desce, uma praça de touros? Foi por cerca de seis meses, apenas. Isto na década de 80.

quando era criança, sentava-se no muro da Estrada Monumental e assistia à tourada.

A PSP estava sempre por lá para impedir que as pessoas vissem o ‘espetáculo’ de graça, mas Silva dizia que tinha terrenos por ali e acabava por descer um pouco pela vereda para tentar enganar os agentes da PSP.

Vereda essa que sempre usou para ir a banhos. Famílias inteiras assim o faziam em dias de grande calor. Quer dizer, nem todas. As que tinham crianças faziam o percurso mais comprido, pela Estrada Monumental, em asfalto, desciam o acesso até às instalaçõe­s da Shell e atravessav­am até ao calhau pelo silvado. Fosse por que lado fosse.

Enquanto uns iam apenas para banhos, outros iam para rochedos, quer de um lado, quer de outro, em busca de peixe fresco. ‘Silva’, que é um dos funcionári­os do Barra Azul, o mais antigo bar daquela praia, diz que tudo começou quando o sogro ia para ali vender ‘laranjada’, ‘vinho’, tudo quente, aos que iam assistir a jogos de futebol. ‘Silva’ recorda que o campo de futebol era muito frequentad­o por atletas e por plateia e que o negócio era rentável.

Muitos dos que jogavam futebol na altura são, agora, clientes o ano inteiro deste bar plantado à beira-mar.

Mesas inteiras de homens (reformados ou na pré-reforma) conversam sobre tudo e vão a banhos, faça sol ou faça chuva. “Só não vão quando o mar está bravo”, explica Silva.

Já Manuel Fernandes, que encontrámo­s a fazer uma caminhada na renovada promenade, lembra-se também de quando para aceder à Praia Formosa era só através de veredas ‘abica burros’ e silvado. Ainda assim, ninguém deixava de se ir banhar “naqueles fatos de banho mesmo à moda antiga”, refere, sorrindo quando se recorda daquela altura.

A propósito, mesmo com o passar dos anos, não deixou de gostar de frequentar aquele espaço à beira mar, embora já não seja para ir a banhos. “Com esta idade, o mar assusta. Mas não deixa de estar bonito para se visitar”, conclui em declaraçõe­s à nossa reportagem.

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Manuel Fernandes tinha de atravessar um silvado para chegar ao calhau.
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 ?? ?? As instalaçõe­s da Shell que, durante anos, fizeram parte da paisagem.
As instalaçõe­s da Shell que, durante anos, fizeram parte da paisagem.
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A promenade está renovada e convida a passeios junto ao mar.

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