Men's Health (Portugal)

A FILIPA...

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Por volta de 1983, quando era jovem e pensava no meu futuro, imaginava-me a depor o sexo doméstico e casual com a lingerie sexy. Desde aí, felizmente, as minhas ideias sobre o amor mudaram. Foram influencia­das pelos casos que fui tendo, filmes que vi, sonhos que tive… Suponho que uma das conclusões que posso tirar agora, ou pelo menos uma delas, será a de que o que uma mulher veste por baixo da roupa tem o mesmo papel do que os pensamento­s que a assaltam, mas que nunca revela. A ligação com a nossa roupa interior é tão íntima que não conseguimo­s explicar por que é que adoramos aquela tanga leopardo que usamos desde os tempos da Faculdade. De facto, eu tenho uma combinação verde amarelada, com cintas cor de limão no final. No dia em que a comprei, achei-a simplesmen­te divina. Isto para dizer que nós, mulheres, temos sempre uma peça preferida.

Uma amiga minha tem centenas de tangas na sua gaveta; outra é expert no estilo viúva-alegre. Para os jogos travessos, para mim, não há nada como as meias com renda, que passaram de objetos de luxo em tempos de guerra (as mulheres não as podiam comprar e pintavam a costura na perna) a elemento básico para qualquer mulher elegante… De qualquer maneira, por baixo de um recatada roupa, qualquer uma pode ter sempre um verdadeiro “agente provocador”. As ligas por baixo de uma saia de pano de bibliotecá­ria, a tanga leopardo Dior por baixo de uns jeans envelhecid­os, as diminutas cuecas de algodão branco por baixo de um fresco vestido de noite… Não tenho qualquer dúvida, a lingerie pode ser a resposta ao nosso enigma, uma promessa feita em silêncio, algo que escondemos com a esperança que um homem encontre.

Lembro-me que a primeira vez que comprei algo especial, para surpreende­r alguém não menos especial, estudava na universida­de. Eu e as minhas amigas andávamos a ver todas as lojas da cidade enquanto falávamos, como verdadeira­s especialis­tas, sobre as qualidades das diversas técnicas de sedução. Na realidade, e apesar da nossa aparente segurança, não fazíamos ideia do que estávamos a dizer, nem do que estávamos a fazer. Terminei disfarçada daquilo a que a minha mãe chamaria “rapariga fácil”, com umas meias de renda horríveis e umas espantosas e baratas ligas. Passei todo o jantar com um sorriso amarelo a tentar colocar as ligas de forma a que não me picassem. Depois, quando chegámos a casa dele, o meu sorriso não mais se desvaneceu. Acabei convencida que éramos os amantes mais ardentes que existiam à face da Terra. Passámos quatro horas a rebolar na cama, em lençóis de flanela e com uma imitação de Mona Lisa a olhar-nos atentament­e da parede do seu quarto de estudante.

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