Men's Health (Portugal)

EM NOME DE BEATRIZ

- POR PEDRO LUCAS FOTOGRAFIA­S DE GONÇALO CLARO

Começamos esta entrevista a Paula Lobo Antunes com a letra “Beatriz”, de Chico Buarque. É certo que muitas músicas poderiam fazer de banda sonora às palavras da Mulher MH desta edição, mas hoje nenhuma outra lhe assentaria tão bem, como perceberá mais à frente. Conheça, então, a mulher por trás dos seus papéis de atriz… O que é ser atriz? Ser atriz ou artista não é bem uma profissão, é um estilo de vida, um amor, uma atitude e uma aprendizag­em constante. Acho que é uma profissão que não tem prazo, pois existem personagen­s de todas as idades. Eu penso nesta profissão como uma maratona, em que temos que continuar nela e manter a nossa cabeça pragmática, sã de forma a corrermos esta prova até ao fim.

“Olha

Será que ela é moça

Será que ela é triste

Será que é o contrário

Será que é pintura

O rosto da atriz

Se ela dança no sétimo céu Se ela acredita que é outro país

E se ela só decora o seu papel E se eu pudesse entrar na sua vida”

Nunca te arrependes­te de não chegar a exercer Biologia Médica? Não acredito em arrependim­ento. Principalm­ente para um ator, todas as experiênci­as que vivemos e que aprendemos contribuem não só para as nossas vidas, mas também para ter mais ferramenta­s para a trabalhar como atriz.

Mas quando é que te sentiste atraída pela representa­ção? Sempre quis ser atriz, foi sempre uma arte que me fascinou. Chegou uma altura na minha vida que quis ser tanta coisa, fazer tantas coisas, e realmente ser atriz poderia possibilit­ar-me ser tudo isso. Advogada, gestora, economista, médica, cantora, dançarina. Onde é que encontras a motivação? Estou sempre a pensar que o próximo papel vai ser o papel da minha vida. Tenho tido a sorte de interpreta­r personagen­s muito diversas, desde kick boxer, pescadora, empregada, cabeleirei­ra, personagen­s de época. Mas espero fazer muitas e estar bem preparada para que as pessoas possam acreditar nas personagen­s que interpreto. Quero que as pessoas reconheçam o meu talento por isso e não propriamen­te pelos likes que tenho nas redes sociais.

Um ator deve estar sempre disponível do ponto de vista físico e emocional para as personagen­s? É importante encarar esta profissão como sagrada, de uma nudez espiritual e psicológic­a.

Qual é a tua mais-valia enquanto atriz? A minha determinaç­ão e profission­alismo. Tenho um rigor e uma abordagem muito específica. Respeito muito todos os meus colegas, desde atores a técnicos. Tenho um enorme grau de exigência comigo e espero que as pessoas à minha volta também tenham a sua exigência e que sejam profission­ais. Depois vem o talento e a sorte, mas é muito importante termos o nosso rigor, profission­alismo e o respeito pela arte de representa­r.

Fala-me de outras paixões… Tenho várias, desde a paixão pelo Benfica ao imenso gosto pelo surf, bodyboard, estar na praia, viajar... Tenho uma paixão imensa pela minha família e pelos meus amigos. Não seria nada sem eles. Completam-me! Depois, claro, tenho uma enorme paixão pela minha profissão: ver filmes, teatro, séries, musicais, dança…

O desporto faz-te ter uma melhor relação com o corpo? Sinto-me bem como sou. Já conheço bem o meu corpo e sei o que posso e o que não posso fazer. Tento ter uma imagem neutra para a adequar às personagen­s que vou fazendo e sentir-me saudável e apta fisicament­e para as desempenha­r. No dia a dia procuro manter as minhas rotinas de treino e de alimentaçã­o, mas não entro em obsessões. Se me apetece comer uma pizza como e depois se tiver de ir para o ginásio vou. Quero ter um corpo e uma mente saudável e estar essencialm­ente bem comigo própria e sentir-me capaz de correr e brincar com a minha

filha. Quero que as pessoas me vejam como alguém atingível, com uma imagem verdadeira, que não recorro a cirurgias.

Por falar em desporto, consideras que se dá demasiada importânci­a ao corpo das atrizes na atribuição de determinad­os papéis? Acho que o importante é ter uma imagem que se adeque às personagen­s, e eu faço muito isso. Por exemplo, quando fiz de kick boxer trabalhei o meu corpo para isso. Treinei com a Dina Pedro, a minha mestre de kick boxing, e fiquei com um corpo muito musculado. Na personagem da novela Mulheres, em que fazia de Diana, uma mulher que corria, resolvi começar a correr. E nunca o tinha feito. Comecei a treinar e fiz a maratona pela Make a Wish, que foi uma experiênci­a incrível. Percebi aí que a corrida tem mais de esforço mental do que físico.

Como é que te defines enquanto mulher? Sou uma mulher muito prática, genuína, com enorme sentido de lealdade para com a minha família e amigos. Descrevend­o-me, sou uma mulher alfa-femmel. Forte, capaz e amiga. Por outro lado, senti-me mais mulher depois de ser mãe. Já fui muito vaidosa. Hoje já sou uma mulher confiante, o que abafa essa vaidade e alguma inseguranç­a que tinha.

O IMPORTANTE É NÃO DEIXAR QUE O AMOR SE TRANSFORME EM INDIFERENÇ­A. ALIMENTÁ-LO PARA QUE RENASÇA E

VOLTE A CRESCER.

E acreditas no amor para toda a vida? Considero que existem vários tipos de amor: seja pelos filhos, pelo companheir­o, pelos pais, pelos amigos, pela profissão. É um sentimento e uma energia que vive dentro de nós, que vamos transmitin­do em tudo o que fazemos. Acho que é importante que o amor exista, com os seus diferentes níveis, de diferentes maneiras. Mas, acho que sim, o amor é para toda a vida. Temos que o alimentar e fazer com que ele aumenta e que se transmita aos outros, para que os outros também o transmitam. O amor é vital para o ser humano.

Acredito que esse amor se agigantou depois de seres mãe. No que é que mudaste com a maternidad­e? Aprendo muito com a minha filha, sobretudo a relativiza­r as coisas e a dar valor ao que realmente importa. Aprendi a ser mais confiante, calma, tolerante e sábia. Aprendi a não stressar com as coisas pequenas. Amanhã é outro dia, o sol põe-se, o sol nasce e nós temos que continuar. Aprendi a ter responsabi­lidade de criar um ser que não pediu para vir ao mundo e está cá. E é nossa responsabi­lidade. Enfim, percebi o verdadeiro significad­o da vida.

Que caracterís­ticas tuas encontras na Beatriz? Sentimento de responsabi­lidade para comigo e uma responsabi­lidade cívica e de solidaried­ade para com os outros que é muito importante. O trato, o respeito e o honrar os nossos compromiss­os. Ter um orgulho naquilo que somos e fazemos e também aprender com os outros. Que a humildade é muito importante. Que devemos fazer o nosso melhor para conseguirm­os ser felizes, seguirmos a vida de consciênci­a tranquila, por nós e pelos outros, e que os outros se sintam bem à nossa volta.

Quando ela for mais crescida, como é que lhe vais explicar quem foi o avô (João Lobo Antunes)? Que o meu pai foi uma pessoa muito justa, de uma compaixão tremenda e uma compreensã­o infinita. Aliás, ele ensinou-me muito isso. Ensinou-me que nenhum trabalho é melhor do que o outro e que os dois devem ser feitos com muita dedicação, empenho e rigor. Ensinou-me como é importante o rigor com o nosso comportame­nto, mas também rigor nas relações, no trabalho... Ter a modéstia e a humildade e batalhar. Sem dúvida que herdei isto do meu pai e é o que tento passar à minha filha. Outra coisa muito importante que ele me ensinou foi a de que devemos fazer o que gostamos, e essa foi também uma das razões de eu ter ido de Biologia para a representa­ção, porque ele me deu a oportunida­de de fazer aquilo que mais gostava. Na verdade, o importante é sermos felizes! E eu espero passar tudo isto à minha filha. Aliás, uma das razões pelas quais ela se chama Beatriz – tal como na música de Chico Buarque – é porque o seu nome significa “alguém que traz felicidade”.

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