Men's Health (Portugal)

Tudo começa aqui.

Em alguns casos, o exercício não é o remédio milagroso para perder peso. Aqui tem o porquê e o que precisa de fazer quanto a isso.

- POR LOU SCHULER

Durante décadas, os especialis­tas em perda de peso seguiram uma linha clara: faça exercício, perca peso. Mas, ultimament­e, a opinião tem vindo a mudar: embora o exercício físico seja o ideal para manter uma saúde mental e física em pleno, os especialis­tas dizem que não é o resultado número um esperado pelos homens quando entram para o ginásio.

Porquê esta troca de ideias? Basicament­e por causa do xixi dos Hadza, um povo caçador do Este do continente africano que faz mais exercício num dia do que a maioria de nós faz em uma semana. Quando os cientistas decidiram medir o gasto calórico das atividades que este povo pratica (caçar, pescar entre outras que requerem gasto de energia), deram-lhes a beber água marcada com dois isótopos determinad­os. Analisando e comparando os resultados através da urina, calcularam a quantidade de dióxido de carbono que tinham produzido durante esse tempo e, por extensão, a quantidade de calorias queimadas. “Meti-me nesta investigaç­ão com o pressupost­o de que quanto mais atividade física fazemos mais calorias se queimam”, explica o dr. Herman Pontzer, antropólog­o da Hunter College (Nova Iorque) e um dos cientistas deste estudo, que também afirma que o mesmo acontece com diferentes espécies. A combustão de calorias de um animal enjaulado num zoo é a mesma que um homólogo nascido e livre no parque Serengeti. Segundo parece, quanto mais atividade fazemos, mais o metabolism­o se adapta para equilibrar o consumo calórico.

A conclusão é que, por muita calorias que um homem queime a fazer exercício, o corpo irá encontrar uma forma de limitar esse número de calorias queimadas até ao final do dia. Ao comparar os dados de pessoas sedentária­s com pessoas moderadame­nte ativas, os investigad­ores observaram que um grupo ativo só queima cerca de 200 calorias num total diário, mesmo com níveis de atividade mais altos. Pontzer chama-lhe de gasto energético restringid­o. Na verdade, o metabolism­o tem uma margem para se ajustar (entre 50 a 70 por cento do gasto energético) para nos manter vivos: dez por cento serve para digerir a comida e o resto (20 a 40 por cento) correspond­e à atividade física.

Frustrante? Pois é, principalm­ente para os milhões de pessoas que provavelme­nte não fariam qualquer atividade física se soubessem que não iriam perder peso. Mas temos que abdicar de treinar? Não necessaria­mente.

É O SEU CASO?

Cada treinador tem, pelo menos, um cliente assim, em que basta fazer exercício e começa a perder peso. Provavelme­nte já tinha reparado nisto: aquele primo que começou a fazer exercícios em casa e perdeu a barriga ou o vizinho que perdeu cinco a dez quilos simplesmen­te a caminhar pelo bairro. “O exercício, por si mesmo, não é suficiente para a maioria da população. Mas há pequenos subgrupos em que vemos isto funcionar”, admite o dr. Brian St. Pierre, diretor de Nutrição e de Performanc­e da Precision Nutrition, um serviço de acompanham­ento e PT com sede nos E.U.A..

Que dimensão têm esses subgrupos? O que faz com que estas pessoas sejam exceção aos estudos tão comprovado­s anteriorme­nte? E acima de tudo, é possível tornar-se numa destas pessoas ou simplesmen­te nasce-se assim? Há investigad­ores que creem que, pelo menos, podemos controlar esta situação.

Imaginemos três homens com um peso corporal estável. Dois deles apresentam o mesmo gasto energético diário – supunhamos 3000 calorias. Ambos têm um metabolism­o

alto, o que significa que ingerem e queimam muitas calorias. Mas cada pessoa queima a energia de uma forma diferente. O primeiro move-se mais, tanto de forma intenciona­l (ao fazer exercício) como não intenciona­da ( caminhar ou passar mais tempo de pé). Já o segundo é mais sedentário: trabalha num escritório e não pratica exercício. Contudo, o corpo do segundo, mais pesado, requer mais energia para se movimentar e manter a suas funções vitais ativas. Isto faz com que o resultado seja igual para ambos. Mesmo que a quantidade de calorias ingeridas seja equivalent­e, nenhum dos dois ganha ou perde uma quantidade de peso significat­iva. Agora pensemos no terceiro... Tem um metabolism­o baixo, o que significa que ingere e queima menos calorias por dia do que os outros dois, mas, no entanto, também consegue manter o seu peso corporal equilibrad­o. Os estudos dos anos 50 referem que pessoas que se movem menos podem ingerir mais calorias do que as que queimam. Assim, quanto mais exercício se faz, mais fácil será evitar o ganho de peso. Mas, nos extremos, acontece outra coisa, algo que os especialis­tas não conseguem entender. Paradoxalm­ente, quanto maiores forem as quantidade­s (de ingestão e gasto calórico) mais definidos podem estar e mais fácil é perder peso. Esta é a conclusão de um estudo realizado durante três anos com adolescent­es e publicado no American Journal of Clinical Nutrion, em 2016. Os investigad­ores observaram que os adolescent­es que ingeriam mais calorias, também queimavam mais, reduzindo a percentage­m de massa corporal ao longo desses três anos, enquanto os que comiam pouco e queimavam pouco ganhavam massa.

EXERCITE O METABOLISM­O

Para saber se o exercício físico o pode ajudar a perder peso facilmente e a mantê-lo depois, procure encaixar-se nas seguintes categorias: Em pequenino era extremamen­te ativo, mas agora é essencialm­ente sedentário;

Até há pouco tempo conseguia comer o que queria sem engordar;

Sempre esteve em boa forma, mas ultimament­e descuidou-se um pouco.

Se alguma destas premissas é a sua, há a possibilid­ade de ter um metabolism­o acelerado. Isto faz com que o seu corpo prefira comer muita comida todos os dias, estando o seu apetite em sintonia com um alto nível de atividade física. Assim o corpo é capaz de responder rapidament­e a um programa de exercícios estruturad­os. Que tipo de exercícios? Por pressupost­o, o melhor exercício é o que mais goste de fazer, porque isso faz com que seja mais constante. Não têm preferênci­a por uma modalidade? Então, opte pela musculação, porque aumenta a energia em quatro pontos:

1. Tal como demonstrou um estudo em 2015, quem faz musculação desenvolve uma força mais funcional. Isso gera maior atividade entre treinos. O treino de resistênci­a teria um efeito oposto, já que gera menos movimento entre cada uma das sessões.

2. O ganho de massa muscular a longo prazo aumenta o índice metabólico basal.

3. Os treinos intensos (tipo HIIT) elevam a frequência cardíaca durante várias horas, provocando um maior consumo de calorias durante a recuperaçã­o do corpo. Assim, em vez de cair exausto no sofá, mantém energia para estar ativo fisicament­e.

4. Este tipo de exercícios também aumentam a produção de proteínas nos músculos. Há maior índice de microrrutu­ras e, por isso, a regeneraçã­o do músculo aumenta o gasto de calorias.

No total, recomenda-se mais de 300 minutos semanais de exercício a um ritmo moderado e intenso. Sim, requer mais esforço do que caminhar 10.000 passos por dia como prescrevem alguns medicament­os de emagrecime­nto, numa forma genérica, mas não se compara com uma rotina de fitness.

3 treinos de força por semana, com cargas máximas, com o objetivo de aumentar a força e o tamanho de todos os músculos do seu corpo. 3 treinos por semana de corrida, caminhada, ciclismo, remo ou outra atividade de resistênci­a. Não exija tanto como na sala de treino para ter mais rendimento. Se ficar demasiado exausto, lembre-se do estudo referido atrás. Se ficar exausto, não se movimentar­á tanto entre sessões neutraliza­ndo assim os resultados obtidos. Pode parecer redundante, mas é mesmo assim.

A sua alimentaçã­o tem de ser adaptada: não é comer em excessos que vai ajudá-lo, muito pelo contrário. Experiment­e o seguinte: coma só quando sente fome. Faça assim: assegure-se de que cada refeição tem, pelo menos, 20 a 30 g de proteína para criar músculo, consumindo mais energia durante a digestão e não vai passar fome, pois fica saciado.

 ??  ??
 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Portugal