O problema do “deixa andar”...
Desleixo. Doença. Ignorância. A Men’s Health luta há 17 anos contra este risco e não desistiremos de alertar os leitores para a necessidade de adotarem hábitos saudáveis.
Comecemos pelo óbvio e mais importante: “Em Portugal, quase metade da população apresenta excesso de peso e perto de um milhão de adultos sofre de obesidade”. Quem o diz é a Fundação Portuguesa de Cardiologia. O facto ganha uma preocupação planetária quando vimos que a Organização Mundial de Saúde (OMS) compara a obesidade a uma epidemia. É que já nem é doença. É mais grave!
O PROBLEMA DO “DEIXA ANDAR”
A verdade é que ninguém é totalmente ignorante no que à obesidade diz respeito. Todos sabemos que carregar diariamente uns bons quilos a mais em forma de gordura é meio caminho andado para aparecerem problemas de saúde. Mas parece que isto não é o suficiente para as pessoas se preocuparem a sério. O termo “obesidade” mais parece um chavão do que uma doença grave e as pessoas vivem bem com isso. Em conversa com a dra. Marlene Sanches, nutricionista da Clínica de Santo António – Lusíadas (clisa.pt), ainda com mais certeza se fica de que “a obesidade é uma doença crónica, com génese multifatorial, e que é uma verdadeira ameaça para a saúde, apresentando um importante fator de risco para o desenvolvimento e agravamento de outras doenças”. Para ter uma noção dos perigos que lhe podem aparecer pela frente, a nutricionista lembra as doenças mais associadas à obesidade: “diabetes mellitus tipo 2 (DMT2), litíase da vesícula biliar, dislipidemia, problemas endócrinos (hormonais), insuficiência respiratória, apneia obstrutiva do sono, doença cardíaca coronária, hipertensão arterial (HTA), acidente vascular cerebral (AVC), problemas osteoarticulares, cancro e problemas psicológicos”. Até cansa, não é verdade?
AS DOENÇAS INERENTES
“A obesidade apresenta consequências psicológicas, tais como depressão, baixa autoestima, baixa interação social, vergonha, culpa e alterações do humor com influência e diminuição de qualidade de vida”, indica Elisabete Vieira, psicóloga da Clínica de Santo António – Lusíadas (clisa. pt). A solução passa pela prevenção, pois “não é só quando se tem excesso de peso que os cuidados devem existir”, alerta. O segredo está em seguir - e manter - uma alimentação saudável, ter a roda dos alimentos como base e nunca facilitar na ingestão de água, diminuir o consumo de açúcar e bebidas alcoólicas e adotar um estilo de vida saudável. “É preciso assumir que são necessárias mudanças de hábitos/comportamentos que podem ser difíceis de implementar. Se for necessário, é bom recorrer a ajuda profissional”, indica
a psicóloga. É o seu caso? Aposte num acompanhamento multidisciplinar, que inclua um endocrinologista, nutricionista, fisioterapeuta, psicólogo e personal trainer.
ESTRATÉGIAS PARA O DIA A DIA
Ao falar com os nutricionistas foi possível detetar um padrão comum a todos os obesos: comem muito, sobretudo nas refeições principais, porque nunca fazem refeições intermédias. Logo, ao chegarem às refeições principais, sobretudo ao jantar, acumulam o cansaço, ansiedade do dia e, ainda por cima, muita fome, pois já não comem desde a hora de almoço. Para combater isto, a nutricionista Ágata Roquete, autora do livro A Dieta dos 31 Dias, aconselha fazer “sempre as três refeições principais em quantidades razoáveis, mas não exageradas. Metade do prato deve ser sempre ocupado por vegetais/legumes, ¼ por proteínas (carne, peixe, ovo, marisco, proteínas vegetais) e ¼ por fontes de carbono (arroz, massa, feijão, grão, lentilha, quinoa, batata doce)”. Outra boa estratégia passa por “levar uma lancheira para o trabalho com snacks saudáveis e saciantes, mas que não façam aumentar de peso, como por exemplo, 2-3 peças de fruta, um iogurte, uma porção de queijo (fresco, triângulo, bolinha ou fatia) ou cerca de 20 g de frutos secos”. Naqueles dias de maior saciedade, ou quando o seu chefe não lhe dá descanso, “recorra a 2-3 quadradinhos de chocolate preto ou um ovo cozido para não chegar esfomeado ao jantar”.
UM MAL NUNCA VEM SÓ
E se aos maus hábitos alimentares, associarmos a decrescente prática de atividade física diária? É óbvio que o sedentarismo extrapola para níveis preocupantes. Para dar um exemplo muito prático, a dra. Rita Santos Loureiro, nutricionista da Associação Portuguesa Contra a Obesidade Infantil (APCOI) realça que “as crianças em vez de se deslocarem a pé para a escola (devidamente acompanhadas por um adulto) são transportadas de carro. E mais: em vez de irem até ao parque infantil brincar ou praticarem alguma modalidade desportiva após as aulas, vão diretamente para casa, onde passam o resto do tempo em frente a ecrãs”.
SEJA UM EXEMPLO SAUDÁVEL PARA O SEU FILHO!
A maioria das crianças abaixo dos 10 anos está ainda a definir a sua personalidade e, por isso, está mais disponível para a mudança de hábitos ou para a aprendizagem de novos comportamentos. Além disso, “se adquirirem hábitos alimentares saudáveis nesta faixa etária, a probabilidade de perdurarem por toda a vida é muito mais elevada”, realça a nutricionista da APCOI. E atenção aos preconceitos: Evite submeter a criança a castigos, punições ou dietas forçadas, porque ela não é a responsável pelo seu problema de saúde. Foque-se no lado positivo do processo de tratamento, da reeducação alimentar e da adoção de um estilo de vida mais saudável”, aconselha. Os seus filhos vão-lhe agradecer.