Guia para aspirantes a surfistas
O surf nunca esteve tão na moda. Se quer aventurar-se em cima de uma prancha, tem aqui o guia perfeito para começar. Nos últimos 15 anos, aumentou consideravelmente o número de portugueses que querem fazer parte do grupo de corpos definidos e bronzeados que passam a maioria do tempo na praia, a deslizar nas paredes das ondas. Cá dentro e lá fora percebeu-se que Portugal é um dos melhores países do mundo para fazer surf. Multiplicaram-se as escolas, campos de férias e os hostels.
Nunca foi tão fácil começar a praticar este desporto, mas o número de surfistas perdidos no mar continua elevado. Na opinião de António Pedro, que é professor de surf há mais de 20 anos e recentemente lançou o livro Surfing: The Next Step, as escolas deviam investir numa componente mais teórica. Mas, para isso, também é preciso que os alunos deixem. “As pessoas chegam e aprendem a deslizar na parede da onda, mas isso não faz delas surfistas. Falta-lhes viver a cultura do surf, perceber como funcionam as regras, como se deve estar dentro de água, como não se pode correr riscos e como se escolhe o material”, explicou António Pedro.
Quando deve comprar o fato e a prancha? Um dos maiores erros de quem está a dar os primeiros passos na modalidade é investir no equipamento depois de meia dúzia de aulas. Na opinião do homem que já organizou o World Surfing Games, o maior evento de surf em Portugal, o fato pode comprar-se logo. Mas a prancha não.
“A prancha deve ser comprada só no momento em que saímos da escola. É algo
relativamente caro e, à medida que vamos evoluindo no surf, vamos precisando de pranchas diferentes, com características específicas relacionadas com a maneira como surfamos ou com o tipo de ondas que gostamos de apanhar”, aconselhou o professor.
Ainda assim, na altura de comprar a prancha deve sempre pedir opinião a alguém que tenha mais experiência na modalidade. O ideal será recorrer a um dos professores da escola de surf que frequenta.
“Dou aulas de surf há muitos anos e já tive alunos que foram escolher pranchas e foi um verdadeiro tiro no pé. Isso é terrível, porque deixa as pessoas frustradas. Ficam a pensar que a escola não lhes ensinou nada quando, no fundo, apenas não têm a prancha certa”, afirmou à António Pedro.
O que comer antes e depois do surf
Os praticantes desta modalidade devem certificar-se de que estão hidratados e energéticos antes de entrar na água. Para isso é necessário ter atenção ao que se come, para evitar sensações desconfortáveis como a azia e enfartamento, cãibras ou, em casos mais graves, uma paragem de digestão.
A nutricionista e bodyboarder Bárbara Cancela de Abreu, no livro Surfing: The Next Step, aconselha a que, antes de praticar surf, se beba fruta batida no momento, panquecas caseiras sem gordura com queijo e alface ou uma banana e duas barras de cereais com frutos secos.
“Esta refeição ou snack deve ser composta por alimentos fornecedores de hidratos de carbono e pobres em gordura (manteiga, charcutaria, pastelaria ou carnes gordas) e em fibra (sementes, cereais integrais, leguminosas, frutos secos), isto para facilitar a digestão”, escreveu Bárbara Cancela de Abreu.
Já depois do surf, a especialista sugere fruta natural, leite ou iogurtes. A primeira grande preocupação deve ser a hidratação.
“Podemos escolher a água, tisanas, água aromatizada, sumos de fruta rica em água feitos no momento ou bebidas isotónicas, com o cuidado de não serem excessivamente doces ou industrializadas”, sublinhou a nutricionista.
Como evitar lesões
O surf é um desporto de baixo impacto e, por isso, não está associado a muitas lesões. Ainda assim, é preciso ter alguns cuidados para evitar cortes, contusões, entorses, fraturas e o famoso “ouvido do surfista”, que consiste no crescimento de tumores ósseos dentro do ouvido para o proteger contra a água fria.
Para manter bem longe todos estes problemas, deve surfar com uma postura defensiva, usar capacete, aquecer as articulações, surfar com os sentidos em alerta e usar tampões para os ouvidos.
“O que mais tenho visto nestes anos todos são as lesões na cabeça, fruto de choque entre pessoas ou por não nos protegermos quando mergulhamos e voltamos à superfície, acabando muitas vezes por levar com a prancha de outra pessoa”, acrescentou António Pedro.