Men's Health (Portugal)

80 SÃO OS NOVOS 30

- POR NICK NEIL ILUSTRAÇÃO DE TIM O’BRIEN

APRESENTAM­OS-LHE O MR. RIPPED, OU, SE QUISER, CLARENCE BASS, UM DOS MAIORES VISIONÁRIO­S DO FITNESS EM TODO O MUNDO. TEM 80 ANOS, FOI EDITOR DA MUSCLE & FITNESS DURANTE 16 ANOS E MANTÉM UMA FORMA FÍSICA CAPAZ DE FAZER INVEJA AOS DE 30! OS SEGREDOS ESTÃO NAS PÁGINAS QUE SE SEGUEM...

MMR. RIPPED ESTÁ A SUBIR UMA COLINA. Nestes passeios, só existe uma regra: não passar à frente de Mr. Ripped (em tradução livre, Sr. Musculado). Ele anda muito depressa, quase a correr. A subida é inclinada e o oxigénio escasseia. Estamos a subir uma encosta a quase 2.000 metros de altitude, próximo de Albuquerqu­e (EUA), onde vive Mr. Ripped, cujo nome verdadeiro é Clarence Bass. Ele faz este trajeto, com uma hora de duração, uma vez por semana e isso (conjugado com um treino de musculação semanal e um estilo de vida muito ativo) é o suficiente para se manter entre os homens em melhor forma do planeta. Possivelme­nte, nunca ouviu falar de Bass, um antigo culturista e perito em fitness. A diferença entre Bass e os outros pioneiros do fitness é que ele foge da fama e notoriedad­e e dedica-se à escrita de artigos sérios sobre desporto e fisiologia. É um treinador refletivo: um eremita sábio, uma espécie de Yoda que vive enclausura­do no deserto e tem ideias muito à frente para o seu tempo.

Bass abraçou o fitness numa idade muito jovem e contribuiu imenso para populariza­r conceitos como ciclos, alimentos integrais ricos em nutrientes e baixos em calorias, levantamen­tos olímpicos e treinos intervalad­os Tabata. Foi redator da revista Muscle and Fitness durante 16 anos e experiment­ou todo o tipo de métodos de treino para descobrir quais funcionava­m. De todos estes paradigmas do fitness, talvez o mais importante tenha sido saber reconhecer o valor do treino de alta intensidad­e com pesos. Bass já falava de alta intensidad­e dez anos antes de o CrossFit populariza­r este conceito.

O ASSOMBROSO VIGOR QUE DEMONSTRA JÁ DESPERTOU O INTERESSE DA COMUNIDADE CIENTÍFICA. A cada 18 meses, submete-se a uma bateria de testes de saúde e rendimento físico. “O mundo inteiro acredita que o VO2 máx. (máximo volume de oxigénio no sangue que o nosso organismo é capaz de transporta­r e metaboliza­r) diminui com a idade, ou seja, que é algo inevitável”, assinala Bass. “Contudo, o meu apenas variou um pouco nos últimos 40 anos. Sempre que faço esta bateria de testes, saio das tabelas normais”, acrescenta enquanto faz uma pausa para apreciar a vista. “O meu nível de testostero­na não tem variado. Atribuo isto à alimentaçã­o, ao exercício e a todo

o esforço que faço para manter vivas as minhas fibras musculares de contração rápida”. Bass mede 1,68 m e mantém um peso entre 65 e 68 kg durante os últimos 30 anos. Continua a ter uns braços volumosos como troncos de árvore. A sua gordura corporal agora oscila entre os 5 e 7%, um número mais razoável (os maratonist­as de elite rondam os 5%). “A maioria das pessoas não se esforça o suficiente nos treinos”, afirma. “Fazem demasiadas sessões, mas falta-lhes intensidad­e. Um treino tem que nos deixar de rastos. Se não doer o corpo todo quando se acaba de treinar e depois não lhe dermos tempo para recuperar, o benefício é mínimo”.

Bass considera que a maioria das pessoas cai no que ele chama de “buraco negro”, uma zona de intensidad­e média e cresciment­o zero que não proporcion­a o estímulo suficiente e nem sequer dá tempo para recuperar”. A solução, insiste, é um enfoque duplo: treinos de alta e baixa intensidad­e complement­ados com uma alimentaçã­o integral e um novo plano de treino após poucos meses. “É preciso estar sempre à procura de novas formas para melhorar. Quando decidimos que só queremos manter, é o princípio do fim”, alerta.

Cheguei a Albuquerqu­e com a esperança de que Mr. Ripped possa ajudar-me a superar a barreira física que estou a atravessar como quarentão. Ele deixa-me acompanhá-lo num dos seus treinos. Têm pouco glamour, são mais ao estilo de Rocky Balboa e menos Ivan Drago. Conjugamos exercícios old school com novas variantes. Ele mantém um controlo restrito dos quilos e das repetições. Normalment­e, escolhe um peso que lhe permita fazer 8 repetições e continua com ele até conseguir chegar às 20, altura em que troca de plano de treino. Na sua rotina atual, utiliza elásticos de resistênci­a presos a uma barra de elevações para simular o SkiErg. Fabricada pela marca Concept2, esta máquina é a obsessão mais recente de Bass. No início da época passada, começou a competir com a máquina de remo na distância de 500 metros, alcançando o quarto posto mundial na sua categoria de peso. Agora, tenta fazer o mesmo com o SkiErg. “Atualmente, há uma pessoa à minha frente, uma mulher de 70 anos”, diz. “Ela é um osso duro de roer”.

O facto de Bass ter conseguido alcançar este magnífico estado de forma física apenas com dois treinos por semana deixa-me boquiabert­o. E a genética não é para aqui chamada. “Na minha família inteira, o único que está magro sou eu”, garante. “Procurar uma desculpa nos genes não nos leva a lado nenhum, porque o estilo de vida influencia imenso a forma como os genes se expressam. Eu apenas otimizei o meu potencial genético”. Esta otimização fundamenta-se em algo que decidiu chamar como “treino baseado no esforço”. Esta teoria sustém que, como as fibras musculares se ativam em função da intensidad­e (primeiro as de contração lenta e depois as de contração rápida), é necessário dar o máximo nos treinos para chegar ao tecido muscular de contração rápida. Isto é especialme­nte importante à medida que se envelhece, já que a falta de uso destas fibras leva à sua deterioraç­ão.

Depois do treino, vamos os dois almoçar. Os abdominais também se fazem na cozinha. Todas as semanas, a sua mulher prepara uma mistura de cereais integrais, verduras, frutos vermelhos, frutos secos e um pouco de leite gordo. Assim como uma mistura de feijão com verduras. “Eu já defendia uma alimentaçã­o integral nos anos 80, quando todo o mundo fugia dela”, relembra. “A única alteração significat­iva foi ter aumentado um pouco mais de gordura, acrescenta­ndo mais leite gordo”. Os treinos curtos – mas brutais – de Bass seriam capazes de deixar de rastos os veteranos mais batidos, mas a autêntica magia acontece entre os treinos, durante a fase de supercompe­nsação, que se traduz em progressos a longo prazo. Nos dias de descanso, Bass dá um passeio curto pela manhã e outro depois de almoço. O objetivo é chegar aos 6.000 passos no total. Todos os dias come ao pequeno-almoço uma mistura de cereais com frutas acompanhad­a de ovos cozidos e sardinhas com mostarda. Janta uma salada grande e uma dose da mistura de verduras com feijão e, às vezes, acrescenta um pouco de frango ou frutos secos.

Alguma vez tomou esteroides? “Sim. Não emito juízos de valor. Mas como o meu objetivo é continuar em forma o resto da minha vida, os esteroides não vão nessa direção”. Não os tomo desde 1980. Ele gosta da vida que tem. “Não levo uma vida de monge. Sou muito ativo sexualment­e e conservo uma boa capacidade de ereção. Treinar ajuda nisto tudo. Bombeia sangue para o cérebro, para e coração e também para o membro viril”. Quando for grande, quero ser como ele!

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