UM POUCO DE ATENÇÃO, POR FAVOR!
QUER FICAR MAIS FORTE, MAIS MAGRO OU MAIS SAUDÁVEL? Não procure mais: o equilíbrio dos macronutrientes que consome é a equação básica da fórmula que necessita. Parece-lhe um mito? Não se preocupe, nós desmitificamos tudo já de seguida.
Da mesma maneira que um computador, exige-se que um trabalhador seja, cada vez mais, multifuncional. De facto, tal como nas máquinas, o nosso cérebro também é capaz de corresponder a várias atividades em simultâneo. E isso de ser capaz de fazer duas coisas é extremamente útil, porque permite, por exemplo, caminhar e mascar pastilha. Estamos a ironizar, mas agora a sério, o problema é quando sobrecarrega esse sistema. Aqui não há “forçar saída” e o seu sistema operativo começa a ressentir-se. E o primeiro sintoma é que a capacidade de concentração desaparece. Sim, está a fazer muitas coisas ao mesmo tempo, mas alguma delas bem? Vamos ver como funciona o nosso cérebro quando fazemos mais de uma coisa ao mesmo tempo. A atividade desenvolve-se nos lóbulos frontais, que são os mais evoluídos e, em definitivo, os que nos distinguem de qualquer quadrúpede, pois são exclusivamente humanos. É nesta área que se levam a cabo funções como analisar informação, organizar atividades e prestar atenção. Por vezes a multitarefa não pressupõe nenhum problema. Por exemplo: mascar pastilha e caminhar não são duas atividades muito exigentes, porque estão interiorizadas e são feitas em piloto automático. Pelo contrário, calcular uma raiz quadrada enquanto está a ler um livro é impossível para a grande maioria dos mortais. E ver televisão e enviar um whatsapp? Ou consultar o e-mail enquanto fala ao telemóvel? Todas estas ações parecem, a priori, fáceis de compatibilizar. Contudo, ao fazê-las ao mesmo tempo, você torna-se cada vez menos competente. E o pior de tudo: geram alterações no cérebro e provocam novas condutas. Por exemplo, cada vez nos custa mais ler sem saltar parágrafos ou ver um vídeo até ao final. Quando somos desafiados para enfrentar um único estímulo é como se nos faltasse algo e não fôssemos capazes de prestar a atenção necessária. E isto paga-se caro...
CÉREBRO DESVANECIDO
Um dos grandes investigadores dos efeitos da multitarefa sobre o cérebro é Olivier Piguet, um neuropsicologista que trabalha numa instituição chamada Neuroscience Research Australia, com sede em Sidney (Austrália). Ele garante que sim, que a multitarefa altera a sua matéria cinzenta. Para ele, o nome de “multitarefa” ou multitasking é do mais inapropriado. O lóbulo frontal –a parte do cérebro que realiza a função cognitiva– não pode efetuar várias tarefas ao mesmo tempo. O que faz é passar de uma para outra. E esta alteração de tarefas pressupõe um desgaste enorme. “O cérebro passa o dia dividindo os recursos entre as diversas tarefas que leva a cabo, mas estes recursos são limitados”, explica o dr. Piguet. Com uma ressonância magnética funcional pode observar-se que, quando abordamos uma única tarefa, o cérebro utiliza os dois lóbulos frontais para a realizar. Pelo contrário, quando acrescentamos uma segunda tarefa, os dois lóbulos encarregam-se de cada uma delas separadamente. Quando introduzimos uma terceira tarefa, o cérebro entra em processo de saturação: esquece informação, demora mais a responder e (claro) comete mais erros. Num estudo publicado na revista Neurona, por exemplo, os participantes que realizaram simultaneamente várias tarefas demoraram 30% mais a terminá-las e cometeram o dobro de falhas do que aqueles que completaram as mesmas tarefas uma atrás da outra. Ainda mais apelativo é um estudo do King’s College de Londres, no qual se observou que
SE CONSULTAR O CORREIO ELETRÓNICO APENAS TRÊS VEZES AO DIA, SENTIRÁ MUITO MENOS STRESS
concentrar-se numa tarefa quando se tem uma mensagem por ler na pasta de entrada de correio pode resultar numa redução do nosso coeficiente de inteligência em 10 pontos: mais do dobro dos 4 pontos que diminui quando fumamos marijuana. Segundo o dr. Piguet, esse é que é o grande mito do multitasking: pensamos que fazemos mais, quando na realidade até fazemos menos. E sabe o que é o pior de tudo? As cicatrizes da multitarefa podem ser permanentes, porque basicamente esse uso desmedido para o qual não estamos preparados leva a um envelhecimento prematuro.
O EFEITO DA MULTITAREFA
Para resolver um problema é preciso primeiro reconhecer que o temos. Porém, no caso da multitarefa não é muito fácil. É que, além do mais, os “viciados” na multitarefa têm orgulho disso. Segundo um estudo realizado na Universidade do Utah (EUA), cerca de 70% dos que realizavam várias coisas ao mesmo tempo estavam convencidos de que eram mais dotados que a média. Mas a realidade era muito diferente: a capacidade da multitarefa era mais elevada nos que se concentravam em fazer uma atividade atrás de outra. Também se traçou um “perfil” do adito em manter vários pratos no ar: os partidários da multitarefa têm um carácter mais impulsivo e uma marcada necessidade de procurar sensações intensas. Fica claro que o ditado “muito e bem há pouco quem” aplica-se especialmente a este tema. Outro estudo, realizado pela Universidade de Stantford (EUA), veio demonstrar que aqueles que fazem mais de uma coisa simultaneamente não acertam uma. Os cientistas entregaram várias provas a dois grupos: uns recorriam à multitarefa de forma ocasional e para outros era quase o pão-nosso de cada dia. Os últimos tiveram piores pontuações em quase todos os testes que praticaram: tempo de reação, memória, capacidade de priorizar e, finalmente, cometeram mais erros em todas as provas. E, além disso, estavam convencidos de que o estavam a fazer às mil maravilhas. Segundo os neurologistas, a chave para que as coisas funcionem bem é empregar o mínimo número de redes neuronais para resolvê-las. E a multitarefa condena-nos ao fracasso. Já percebeu por que deve fazer poucas coisas?
A IMPORTÂNCIA DA DISCIPLINA
Como fugir da tendência de se transformar num polvo que move freneticamente os oito tentáculos ao mesmo tempo? Para começar, tenha consciência de que não é mais inte-ligente por fazer mil coisas em simultâneo. O melhor é fazer uma coisa a seguir à outra e tentar não interrompê-la até ter terminado. Deve tentar fugir de eventuais distrações e isso nem sempre é fácil. Os especialistas em produtividade, por exemplo, recomendam consultar umas três vezes ao dia o correio em vez de fazê-lo de cada vez que entra uma mensagem. Acha que é capaz? Aqui fica um argumento para o convencer: segundo um estudo recente da Universidade da British Columbia (EUA), quando as pessoas só leem as suas mensagens três vezes ao dia, sofrem muito menos stress que aquelas que as veem sempre que lhes apetece. Por outro lado, num estudo da Universidade da Califórnia (EUA), os investigadores ligaram pulsómetros a um grupo de funcionários de escritório. Quando tinham o correio eletrónico ativo, o ritmo cardíaco era mais rápido; pelo contrário, com o correio eletrónico desligado, a sua pulsação voltava a um estado mais lento. Aplique este hábito de racionalizar o uso do correio às redes sociais. E, se possível, ao whatsapp. Tente que o seu telemóvel não o vá avisando de todas as mensagens que recebe e consulte-as apenas quando tiver tempo.
REPARE O SEU CÉREBRO
Este processo é lento e não deve baixar os braços por muito que custe. Até se convencer de que não se passa nada por fazer uma coisa atrás de outra e se habituar a um ritmo mais sossegado terá tentações e dirá a si próprio: “Por uma vez não há mal nenhum”. Mas sim, há. É como se um ex-fumador fosse acender um cigarro.
Para não cair na tentação, pode autoajudar-se com técnicas, que, além do mais, são muito válidas para recuperar uma estrutura cerebral que não tenha sido danificada pela multitarefa. O yoga é muito útil, assim como a meditação. Mas a disciplina que está a conquistar o mundo inteiro é o mindfulness.
Aprender a prestar total atenção a uma ação simples e repetitiva é o melhor antídoto contra o multitasking. Melhora a con-
DEDICAR-SE A FAZER VÁRIAS COISAS AO MESMO TEMPO DE FORMA CONTINUADA PODE PROVOCAR ENVELHECIMENTO CEREBRAL
centração, torna-nos mais conscientes das coisas e também melhora o nosso critério. Estas três habilidades juntas fomentam a objetividade. E isso é o que lhe dá a perspetiva necessária para guardar distância do ruído mental constante e tomar decisões mais acertadas.
Num estudo publicado recentemente na revista American Journal of Psychiatry observou-se que quando os fuzileiros navais norte-americanos incorporavam exercícios de mindfulness no seu treino antes de serem enviados para uma missão, os índices de stress pós-traumático e depressão caíam a pique quando regressavam à vida civil. Foi um teste polémico, face ao conteúdo, mas foi algo amplamente debatido e que mostrou a validação deste método "apregoado".
Os exercícios de mindfulness funcionam porque lhe alteram o cérebro. Quando se concentra em algo de forma consciente, está a reforçar as rotas neuronais e cria padrões novos. Com o tempo, isso converte-se num hábito novo. Um estudo recente da Carnegie Mellon University de Adelaide (Austrália) descobriu o mecanismo exato que o torna possível. Concentrar-se em algo tão primordial como a respiração fortalece o seu córtex pré-frontal, a região do cérebro responsável pelo pensamento racional. Segundo os investigadores, um córtex pré-frontal forte pode dominar as amígdalas, o hipotálamo e até a circunvalação cingulada anterior, regiões do cérebro menos evoluídas que regulam a sua resposta ao stress. E não é isto que todos nós precisamos? Uma nova forma de poder fugir ao stress e "recuperar" um pouco a sanidade mental?
Como não podia deixar de ser, a Men's Health está aqui para lhe facilitar a vida: comece de forma fácil. Com a ajuda de um cronómetro, leve dez minutos a encontrar um sítio cómodo para se sentar (não tem exatamente que ser uma esteira de bambu com as pernas cruzadas). Ponha as costas direitas, relaxe os ombros, feche os olhos e controle a respiração.
O mais importante é que esteja consciente de que se se desviar do caminho da multitarefa conseguirá ser mais produtivo, cometer menos erros e libertar-se do stress. Ou seja… acabe de ler este artigo antes de enviar um whatsapp!