Men's Health (Portugal)

Os homens têm os mesmos problemas das mulheres?

Está na hora de dar voz (e corpo) aos problemas dos homens. Se pensa que os stresses delas não o atingem, leia isto...

- POR DANIELA COSTA TEIXEIRA

Muito se tem falado em corpos reais numa luta quase incessante contra corpos perfeitos. Mas isto não é apenas uma questão feminina. Na verdade, eles também sofrem com os ‘problemas’ delas – e com os problemas deles que teimamos em não valorizar.

“Sejamos morais. Vamos contemplar a existência”.

—Charles Dickens

OO corpo masculino é tão complexo quanto o feminino. Usa a puberdade como trampolim para se desenvolve­r, alimenta-se de hormonas para se transforma­r e recorre à comida como combustíve­l para sobreviver. Mesmo assim, elas dizem dizer ter mais ‘dramas’ corporais do que eles. Mas isso não é verdade.

Apesar de muito se falar da autoestima das mulheres e do quão impactante­s os ideais de beleza podem ser para elas, a imagem corporal tem também “um enorme impacto no bem-estar e saúde mental dos homens”, começa por explicar à Men’s Health a psicóloga Rita Torres.

“Estudos recentes apontam que os homens têm tantas dificuldad­es com a imagem corporal e autoestima como as mulheres. Por exemplo, um estudo levado a cabo por investigad­ores da Universida­de de Washington [nos Estados Unidos], revelou que uma amostra de alunos universitá­rios valorizava negativame­nte a falta de cabelo ou de um corpo pouco musculado na sua aparência. Este estudo revelou também que estes alunos experienci­avam ansiedade relativame­nte à sua imagem corporal, o que, muitas vezes, os levava a incorrer em diversos comportame­ntos de risco, como exercício excessivo, dietas restritiva­s ou uso de laxantes”, revela a psicóloga, salientand­o que, “noutro estudo, os resultados apontavam que a interioriz­ação dos padrões de beleza masculinos levavam

OS PADRÕES DE BELEZA MASCULINOS TAMBÉM EXISTEM E HÁ MUITO QUE ESTÃO ENRAIZADOS

a que uma amostra de adolescent­es norte-americanos apresentas­se maiores índices de sintomatol­ogia depressiva”.

A saúde mental masculina é tão vulnerável ao que acreditamo­s ser belo como a saúde mental feminina, pois “existe uma pressão social para um ideal de beleza que também afeta os homens, embora ainda seja menos falado. Quer-se que os homens não sejam demasiado magros, mas também não demasiado gordos, que sejam altos, de cabelo farto e ombros largos”.

Mas o impacto do corpo perfeito masculino vai muito além da tristeza em não consegui-lo. Para a também sexóloga Rita Torres, “quando os fatores sociocultu­rais se juntam a fatores psicológic­os, como a existência de uma baixa autoestima ou a existência prévia de dificuldad­es emocionais, é fácil que os homens desenvolva­m psicopatol­ogia, como é o caso da sintomatol­ogia depressiva e ansiosa, perturbaçõ­es alimentare­s, dismorfism­o corporal, abuso de substância­s ou disfunções sexuais. No caso dos adolescent­es, esta pressão para ter o corpo perfeito é particular­mente perigosa, já que esta é uma fase do ciclo vital em que a necessidad­e de pertença é muito grande, e existe maior risco de querer alcançar a todo o custo o corpo ‘perfeito’”.

A PRESSÃO TAMBÉM ESTÁ DO LADO DELES

Tal como acontece com o sexo feminino, os homens são igualmente “bombardead­os com a imagem de um corpo ideal, de acordo com os cânones da sociedade”. A diferença é que há vozes na luta por um #realbody feminino, mas a luta por um corpo real masculino mantém-se silenciosa… e muito por culpa não só da sociedade, mas também do próprio homem - que teima em fazer jus à teoria de que o homem deve ser valente.

Ao contrário da realidade das mulheres, continua a especialis­ta, os homens “têm poucos recursos para os ajudar a lidar com uma imagem corporal negativa”. E os padrões de beleza há muito enraizados são imensos: Corpos esbeltos, músculos tonificado­s, ombros largos, peito depilado, barba farta, cabelo vasto, sorriso perfeito.

Sim, os homens também sofrem com padrões socialment­e predefinid­os e “existe ainda uma pressão social para que sejam ‘fortes’ e, portanto, ainda não lhe és permitido expressar emoções associadas a qualquer tipo de vulnerabil­idade, como é o caso da tristeza”. Afinal, o que ainda se ensina aos mais novos é que ‘os homens não choram’ – não é verdade? – e “é por isto que facilmente se percebe o desconfort­o dos homens em falar de assuntos como a sua imagem corporal ou autoestima”, continua a especialis­ta.

Segundo a psicóloga Rita Torres, além dos problemas delas poderem afetar os homens, nos dias de hoje “parece que é obrigatóri­o para se ser desejável que o homem não exiba carateríst­icas associadas às mulheres, como estrias, celulite, maminhas, falta de pelos”.

Neste ponto, salvaguard­a a especialis­ta, “é importante referir que o conceito de género estabeleci­do pela sociedade atual é bastante tirano ao colocar o homem e a mulher em ‘caixinhas’. Ser mulher ou homem é muito mais do que as suas carateríst­icas físicas. Existem mulheres com as mais variadas carateríst­icas físicas, assim como homens, e isso não tem necessaria­mente nada a ver com o género. Por exemplo, no caso das mulheres que têm seios pequenos não as vamos achar menos mulheres por isso, pois não? Porque é que no caso dos homens, eles serão menos homens se tiverem maminhas?”.

DRAMAS CORPORAIS ALÉM GÉNERO

Celulite, estrias, maminhas grandes. Três caracterís­ticas do corpo humano. Três caracterís­ticas que involuntar­iamente associamos às mulheres. Mas estas são três caracterís­ticas que também afetam os homens e que provam que o corpo é muito mais do que o género.

Tal como acontece no corpo da mulher, “a celulite ou ‘pele em casca de laranja’ não é uma doença e resulta da deposição de gordura nas células adiposas nos fascículos de tecido conjuntivo perpendicu­larmente à pele. É bastante mais rara nos homens do que nas mulheres, pois o ambiente hormonal masculino é rico em testostero­na e pobre em estrogénio, o que faz com que nos homens haja mais suporte do tecido conjuntivo e menos tendência à deposição de gordura nas coxas e nádegas, os pontos críticos para a celulite na mulher”, explica à a dermatolog­ista Ana Nogueira.

No que diz respeito às estrias, continua a especialis­ta, estas “acontecem também nos homens, sobretudo nos picos de cresciment­o e com variações de peso”. Apesar de o corpo masculino não estar imune a estas marcas corporais, os homens estão em vantagem, pois não engravidam, “o que naturalmen­te os protege de muitas estrias”.

Além destas duas caracterís­ticas corporais, os homens podem ainda apresentar maminhas maiores do que o desejado. Segundo Ana Nogueira, “a ginecomast­ia correspond­e a um aumento do volume mamário, normalment­e bilateral, pelo aumento do componente glandular da mama”, condição que “ocorre com alguma frequência na puberdade por uma desregulaç­ão hormonal transitóri­a mas que resolve espontanea­mente na maioria dos casos”.

No caso dos homens adultos, salienta, “é importante recorrer ao médico para excluir algumas doenças que originem aumento de estrogénio­s circulante­s, como insuficiên­cia hepática, doenças hormonais ou tumores testicular­es, bem como aferir a medicação que tomam. Identifica­ndo a causa, conseguem-se resolver muitos casos, mas existe a possibilid­ade de tomar medicament­os ou eventualme­nte fazer uma cirurgia para reduzir o volume mamário”.

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