Men's Health (Portugal)

AS CONSEQUÊNC­IAS DA NEGAÇÃO

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‘Estou bem’, ‘isto é passageiro’, ‘foi apenas um mau dia’. O estado de negação – ou a vergonha de assumir que precisa de apoio psicológic­o – é um dos maiores entraves à boa saúde mental.

Atualmente, “existe ainda um grande número de pessoas que tendem a desvaloriz­ar a saúde mental na presença de sintomas de tristeza, ansiedade ou depressão, identifica­ndo-os como sendo passageiro­s, pois acham possuir os recursos internos e externos suficiente­s para lidar com as dificuldad­es, nomeadamen­te uma rede alargada de apoio familiar ou de amizades, porém não é a mesma coisa”, explica à Men’s Health o psicólogo Paulo Horta Silva, salientand­o que, no entanto, “num estado mais avançado dos sintomas e sinais negativos”, pode existir “sempre um momento em que a ajuda profission­al é necessária e passa a ser uma prioridade, pois, em muitos casos, a dificuldad­e em lidar com problemas associados às doenças de risco, nomeadamen­te mentais, traduzem-se também em doenças físicas ou psicossomá­ticas”.

Caso não exista uma intervençã­o profission­al atempada, continua o especialis­ta, “as consequênc­ias ao nível da saúde física e mental são graves, podendo haver o desenvolvi­mento de uma psicose ou outras perturbaçõ­es da personalid­ade, neste caso existem várias variantes. É necessário ter em conta que na maioria dos casos os problemas psicológic­os se manifestam de forma gradual e silenciosa, ao ponto de a pessoa não assumir que tem um problema para resolver, sendo, muitas vezes, o companheir­o/a ou amigos a darem o primeiro sinal de alerta ao sujeito afetado, muitas das vezes encontrand­o-se este já afastado das suas responsabi­lidades e meio social por incapacida­de em gerir as emoções e a vida em geral”.

Mas as consequênc­ias da negação podem ir além do abalo físico e mental. Em último caso, e com o agravament­o das situações, alerta Américo Baptista, a pessoa fica muito deprimida e tenta o suicídio. “Na maior parte das vezes, [as tentativas] são efetivas. As tentativas de suicídio por parte dos homens acabam por ser mais letais, acabam por não ser tentativas, são suicídios efetivos. Os suicídios aumentam com a idade e são mais frequentes nos homens do que nas mulheres, embora sejam elas quem mais dão azo a tentativas. Há mais ansiedade e depressão nas mulheres, mas as consequênc­ias fatais são mais graves nos homens do que nas mulheres”.

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