Arnold Schwarzenegger
Naturalmente, Arnold é o número um. Mas por causa de um documentário? Nem por isso, até porque grande parte de Pumping Iron era, digamos, exagerado. As seis vitórias consecutivas do Mr. Olympia e os métodos de treino (ainda hoje publicados em imensas revistas 40 anos depois) continuam a ser verdade. “Mas havia muitas coisas que não eram verdadeiras”, admitiu Arnie numa entrevista a assinalar os 25 anos da estreia de Pumping Iron. “Foi por isto que nunca chamamos um documentário, mas mais como um 'docudrama'... porque muitas coisas foram feitas de modo a tornar tudo mais interessante”.
Na realidade, Arnie já tinha abdicado da mentalidade competitiva para seguir uma carreira no cinema. Ele só foi convencido a sair da sua “reforma competitiva” por George Butler que, juntamente com Charles Gaines, escreveu o livro Pumping Iron que representava Arnie e queriam torná-lo num filme. Para criar algum drama, Schwarzenegger inventou uma personagem sem sentimentos. “Disse para mim mesmo: 'Como posso vender a ideia de que sou uma máquina sem emoções?'”. A história de ele não ter comparecido ao funeral do pai, porque estava concentrado nos treinos para a competição, foi emprestada de outro bodybuilder. E a sua afirmação de que treinar era quase como ter um orgasmo foi deliberadamente sensacionalista para criar burburinho nos media. Naquela altura, o bodybuilding era “o desporto menos glamouroso do mundo”, de acordo com o realizador Butler: uma subcultura de um nicho confinada aos recantos de Brooklyn (EUA) onde Lou Ferrigno (grande adversário de Arnie) grunhia e rosnava durante os treinos. O contraste com um Arnie escultural a treinar no Gold's Gym em plena Califórnia (EUA) foi deliberadamente encenado pelos cineastas para “vender” melhor o filme. Tal como Butler disse, “Nós definimos o bodybuilding para um mundo que não sabia absolutamente nada sobre bodybuilding”.
Este filme trouxe a modalidade para a ribalta. Com um magnetismo tão grande que quase nem precisava segurar nos halteres, a personagem de Arnie em Pumping Iron conquistou rapidamente adeptos. Centenas de ginásios abriram de seguida. Butler estimou que apenas 25.000 norte-americanos faziam musculação antes da estreia do filme. Em 1982, uma sondagem alavancou este número para 34 milhões. Tendo passado por muitas dificuldades para desempenhar papéis de ação por causa do enorme volume muscular e sotaque, Schwarzenegger quebrou o molde do tradicional ator principal para o moldar à sua imagem. Tal como demonstram vários filmes na sua carreira, este novo molde continua a ser usado. Apesar de ser um ávido defensor de um estilo de vida ativo, Arnie nem sempre foi considerado uma influência benigna. Christopher McDougall, o autor de Natural Born Heroes, acredita que a fama de Arnie contribuiu para uma epidemia de deformação muscular e fixação corporal que ainda hoje existe. E depois ainda havia o uso de esteroide - na altura legal - por parte de Schwarzenegger que criava uma falsa impressão do que poderia ser alcançado de forma natural. Mas, como todos nós nos apercebemos, um treino regular (e sem esteroides) garante benefícios saudáveis. E sejamos sinceros: se não fosse o papel de Arnie em Pumping Iron, será que você iria ao ginásio?
“Este filme trouxe a cultura do corpo para a ribalta”