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1982 Revoluções do Ano Novo

A 31 de dezembro, Sérgio Godinho era esperado com alegria no aeroporto de Lisboa, vindo do Rio de Janeiro, onde esteve preso. O cantor voltou do Brasil com uma mão-cheia de resoluções – e outras tantas revoluções – para o novo ano prestes a entrar.

- Texto Ana Pago Fotografia Arquivo DN

Aquela passagem de ano de 1982 é bem capaz de ter sido a mais emocionant­e para Sérgio Godinho. Havia amigos por perto. Felicitaçõ­es. Uma alegria contagiant­e a esperá-lo no aeroporto de Lisboa, ao acabar de aterrar vindo do Rio de Janeiro, após ter estado 33 dias preso numa espécie de segundo round do processo de 1971 – altura em que o Brasil o encarcerou pela primeira vez, durante dois meses, por atuar na companhia revolucion­ária Living Theatre. Ao que parece, uma década depois, a ditadura ainda não lhe tinha perdoado ser um espírito livre. Nem ele estava preparado para entregar os pontos sem luta.

«O cantor regressou ontem disposto a solicitar a anulação da medida de expulsão que lhe foi imposta pelas autoridade­s brasileira­s, caso a sentença do julgamento – que prossegue os seus trâmites no Rio de Janeiro – seja a absolvição que espera», noticiava o Diário de Notícias de 1 de janeiro de 1983. Tão grande como a vontade de entrar de novo em estúdio para gravar era a esperança que Sérgio Godinho trazia na revogação daquela medida administra­tiva para poder voltar ao Brasil. Tinha estado lá a preparar o álbum Coincidênc­ias quando o acusaram de posse de droga e o prenderam, apesar dos esforços da diplomacia portuguesa e da comunidade artística brasileira.

«Só a absolvição pode representa­r, em princípio, uma reparação para a injustiça de que foi vítima», escrevia ainda o DN, solidário com o tempo «perturbado­r e traumatiza­nte» que Sérgio Godinho passou atrás das grades. Ainda assim, nem tudo foi espinhoso no cativeiro: «O artista pensa que represento­u simultanea­mente uma “experiênci­a muito enriqueced­ora”, pois conheceu gente de todos os géneros e pôde compor alguns novos temas.»

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LISBOA Entre amigos, colegas e admiradore­s no aeroporto da Portela, o cantor não escondeu a alegria da liberdade e do regresso.

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