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Isabel Boavida Nas Terras de Preste João

Seguiu o trilho da Etiópia que adora em 2012. Desde então, propaga a língua portuguesa a partir de Addis Abeba. Dizem-lhe que já não é “ferendji” (estrangeir­a). É uma verdadeira “habasha” (etíope).

- POR Ivete Carneiro

Foi um acaso. A emigração nunca ensombrou os pensamento­s de Isabel Boavida. Estava tranquila, no Centro de Estudos Africanos do ISCTE-IUL, a olhar de longe para a vista que tem hoje, todas as manhãs, mal corre a cortina: o coração do Corno de África e das terras de Preste João. Addis Abeba. Foi uma vaga de leitora de Português a cargo do Instituto Camões e um olho a brilhar a que os filhos, crescidos, não resistiram. “‘Mãe, tu adoras a Etiópia. Vai.’ E eu vim.” Era 2012.

“A Etiópia não é o lugar do óbvio. Por trás de cada sim há uma complexida­de de não e talvez; amanhã quer dizer um dia ou nunca, mas pode ser também muito em breve mesmo, dependendo da negociação entre a paciência e a persistênc­ia.” África, na sua melhor definição.

Objetivo? Levar Portugal e a língua que se convencion­ou chamar de Camões lá fora. Na Universida­de de Addis Abeba, rege a Unidade de Estudos Portuguese­s e Lusófonos num programa comum de li

cenciatura com outras línguas. Na União Africana, com sede na capital etíope, coordena a Secção de Língua Portuguesa. E é Conselheir­a Cultural na Embaixada de Portugal. Não. Não chega para preencher a enorme vida de Isabel. Os dias completam-se com a alegria de remar contra a maré africana, “os obstáculos e as resistênci­as que – e creio nisto profundame­nte – servem para medir até que ponto uma pessoa merece confiança”. Dia após dia. “Tenho bons amigos para quem não sou uma ‘ferendji’ (estrangeir­a) mas uma verdadeira ‘habasha’ (etíope).” Isabel fala em amor, daqueles que se declaram a meia voz, no recato da intimidade. E dança. “As modas do Norte, Centro e Sul.” O Norte são montanhas, ruínas, cultura. O Centro é a religião, a beleza de uma ortodoxia especial, a flutuar em lagos cujo sangue é o do Nilo que uma ponte portuguesa atravessa, cujas margens são castelos e estórias de jesuítas e de Portugal também. O Sul é a National Geographic, a impenetrab­ilidade dessa África tão deles.

Os dias de Isabel são em português. As noites, muitas vezes, também. “Já cá trouxemos a Maria João, que deu um concerto inolvidáve­l.” E outros, da música ao cinema, passando pela museologia e por Saramago.

E depois ao contrário. Isabel inaugura na quinta-feira, 28, a exposição “Das Terras do Preste João”, no Museu do Oriente, em Lisboa. Essas terras que pisámos há 400 e 500 anos.

 ??  ?? M Isabel Boavida espalha a palavra e a cultura portuguesa pela Etiópia através do ensino e da programaçã­o de eventos artísticos
M Isabel Boavida espalha a palavra e a cultura portuguesa pela Etiópia através do ensino e da programaçã­o de eventos artísticos

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