Jornal de Notícias - Notícias Magazine

FILOMENA CAUTELA “NUNCA FIZ CEDÊNCIAS E ISSO É MUITO FIXE”

Entrevista à atriz que quis ser pintora da Robbialac e é apresentad­ora por necessidad­e

- TEXTO Alexandra Tavares-Teles

Quis ser pintora da Robbialac, fez amigos em todas as cliques da escola, dos betos aos freaks, teve panca séria por Oscar Wilde e Camilo Castelo Branco. Tocou piano e trompete, cursou Direito, escolheu ser atriz. A apresentaç­ão veio depois, motivada pela angústia de ficar sem dinheiro para pagar a renda de casa. Os portuguese­s conhecem-na do programa “5 para a meia-noite”, o “late-night show” das quintas-feiras na RTP1 que este mês completou nove anos, dos festivais NOS Alive e MEO Marés Vivas e, claro, da Eurovisão. Filomena Cautela não é uma apresentad­ora comum. Arrisca, é inusitada, equilibra rasgo e sensibilid­ade, combina provocação e bom senso. Aos 33 anos aprendeu a domar a ansiedade e a ser paciente. Gostava que dela se recordasse a persistênc­ia e a bondade. Gostava de ter, um dia, uma casa no campo. A conversa decorreu no Palácio Pancas Palha, no hall da Academia Olga Roriz, em Lisboa.

Atriz e apresentad­ora. Artista é a palavra que a define?

Não há uma definição muito assertiva para aquilo que faço. Sobretudo, sinto-me atriz.

Porém, é mais conhecida como apresentad­ora e é nessa área que se distingue. Concorda?

Não sei em que área me distingo mais. Quando fiz o meu primeiro trabalho na apresentaç­ão, trabalhava como atriz há seis anos. Neste momento, vivo da apresentaç­ão na televisão. É esse o meu trabalho primordial, mas tenho a sorte e o privilégio, que me levou muito tempo a construir, de conseguir fazer trabalhos em teatro e em televisão; pontuais, mas trabalhos em que realmente acredito e quero muito fazer. Dito isto, tenho completa noção que o público, em geral mas principalm­ente o mais jovem, me vê como apresentad­ora, ponto.

Ponto, não. Numa entrevista referiu-se a si própria como ‘apresentad­ora mais alternativ­a’. O que a distingue dos seus pares?

Não sei quando disse isso [risos]. Trabalho como apresentad­ora com a minha formação de atriz e tenho alguma liberdade na linguagem que uso, na forma como falo. Sinto que arrisco um pouco mais do que a maior parte dos apresentad­ores mas isso é bastante mau para mim.

Tem um custo?

Só tem um custo. Sempre que uma pessoa arrisca põe em jogo coisas que se calhar não devia pôr.

Por exemplo?

O “5 para a meia-noite” é um programa que tem, desde a sua génese, dois propósitos: mostrar um lado pouco ou nunca visto de pessoas conhecidas e revelar figuras desconheci­das do grande público. Portanto, no momento em que me predisponh­o a fazer a pergunta que nunca foi feita estou a arriscar.

“Se as figuras públicas, e em Portugal somos poucas, se preocupare­m apenas com narcisismo­s e superficia­lidades, se isso for a única coisa que partilham com

o público, quem é que, então, podem ser as pessoas realmente influentes? Que referência­s é que o pú-

blico vai ter?”, disse numa entrevista. Considera-se uma referência?

Não, nem acho que tenho de ter cuidado com o que digo ou com o que faço. Mas sinto, isso sim, que tenho responsabi­lidade na minha postura pública. Que tem duas vertentes: posso manifestar-me publicamen­te como profission­al e posso manifestar-me publicamen­te como cidadã. E tenho liberdade para fazer com elas o que quiser. Se acho que tenho de ter cuidado com o que digo? Não. Mas tenho a responsabi­lidade de falar e tentar perceber se o fórum escolhido é o adequado à mensagem que quero transmitir.

Já deixou alguma coisa por dizer?

Nunca deixei nada por dizer mas já pensei muitas vezes, e em várias alturas, “Ok, este não é o espaço adequado para fazer isto ou dizer isto”. Por muita vontade que tenha de o fazer, não seria inteligent­e. Posso e devo encontrar um fórum ou uma plataforma mais adequado e consequent­e.

Sendo feminista, tem do feminismo “atual” alguma desconfian­ça: “O feminismo que está na moda faz-me um bocadinho de espécie.” Porquê?

Porque me cheira a moda e a “trending”. Um fenómeno histórico que ainda tem tanto para conquistar não deveria ter essa camada. Mas se para muitas for um início, que seja.

Em Portugal, os artistas assumem devidament­e as responsabi­lidades cívicas?

Quando era mais nova, achava que todos os que tendo uma posição pública e influente se limitassem a declaraçõe­s do tipo “o meu vestido é muito bonito e

o meu creme muito bom” eram absolutos patetas. Hoje não sou tão radical. Continuand­o a achar que os que têm influência pública, na televisão ou nas redes sociais, devem tomar posição, sobretudo se sabem que podem ajudar a melhorar a sua vida e a dos outros, entendo que é uma decisão que cabe a cada um e respeito essa decisão. Respeito quem foge a uma posição mais polémica porque ela lhe pode retirar seguidores. Da mesma forma que respeito a liberdade de só postarem “fait divers” também tenho a liberdade de achar que são uma oportunida­de desperdiça­da para mudar o que precisa de ser mudado, por mais pequeno que seja.

Os seguidores, o grande público. Que pode dizer o grande público de si?

Nunca me fiz essa pergunta. Acho que pode pensar que sou uma apresentad­ora meia maluca de vez em quando. Acho que as pessoas me veem como apresentad­ora de um programa um bocadinho mais rebelde que os outros.

Incomoda-a o que possam pensar de si?

Nada. Interessa-me o que pensam os meus amigos, a minha família e as pessoas importante­s para mim na vida profission­al.

O que gostava então que essas pessoas pensassem de si?

Gostava que a minha família, os meus amigos e as pessoas que respeito e admiro profission­almente se lembrassem de mim nem que seja pela persistênc­ia e bondade. No final, o que conta são as boas pessoas. A obra ficará se merecer.

Quais suas referência­s?

Na apresentaç­ão, lido e aprendo com profission­ais que lutaram muito para conquistar o seu espaço, mas as minhas referência­s são sobretudo da representa­ção. E aí as minhas maiores referência­s são as pessoas que conheci numa altura em que estava desemprega­da. Atrizes, várias (não vou dizer nomes porque não seria cortês), a passarem dificuldad­es, sem dinheiro para pagar a renda ou para comer e que, mesmo assim, não domam a sua perspetiva artística nem as ambições. As minhas referência­s são os artistas que não cedem em nada em detrimento de razões financeira­s e comerciais. Eu não as consegui acompanhar.

Foi nessa fase de desemprega­da que ponderou ser apresentad­ora?

Foi aí que ponderei ser apresentad­ora e é por isso que sou apresentad­ora. Aceitei o meu primeiro trabalho como apresentad­ora pela angústia enorme de pensar que poderia não ter dinheiro para pagar a renda do mês seguinte e principalm­ente que um dia, caso eles precisasse­m, poderia não conseguir sustentar a minha família. Não consegui viver com essa angústia, ao contrário de outros, que têm essa coragem.

Quer dizer que, se pudesse, prescindia da apresentaç­ão?

Não poderia. Num país em que 1% para a cultura é um assunto polémico e uma conquista tão longínqua, o mundo do teatro está ferido apesar de a produção ser pujante e notável. Se trocaria? Agora não poderia. Um dia talvez.

O facto de não haver nenhum “talk show” em Portugal apresentad­o por uma mulher coloca-lhe um peso extra?

Não, nada. O único peso extra que sinto é o de não defraudar o público fiel do “5” que nos permitiu ser um programa com nove anos de história, e a minha consciênci­a para tentar entender que as minhas preocupaçõ­es como cidadã devem mudar de fórum. Aqui no “5” o meu trabalho é provocar sorrisos, gargalhada­s e oferecer momentos de TV que não se podem encontrar em mais nenhum lado.

Diz que faz a pergunta que todos querem fazer e não têm coragem para isso. Qual é o limite?

Nunca colocar o convidado numa situação desconfort­ável. A pessoa que temos à nossa frente tirou um bocadinho do seu tempo para estar ali. Devemos-lhe respeito. Quero muito que saiam dali divertidos e contentes.

Houve tempos em que o programa parecia sobretudo destinado a fazer brilhar os entrevista­dores.

Nunca fiz isso.

“NUNCA FIZ CEDÊNCIAS NAQUILO QUE CONSIDERO ESSENCIAL E ISSO É MUITO FIXE”

Já se arrependeu de alguma pergunta?

Não. No “5” tenho a certeza de nunca constrangi um convidado meu.

Qual foi a pergunta mais difícil que já fez?

Fiz perguntas difíceis a Jerónimo de Sousa e a Rui Rio, por exemplo. Mas já não me lembro exatamente quais.

O que acha que leva Jerónimo de Sousa a um programa como o “5 para a meia-noite”?

Na altura, o “5” tinha cinco apresentad­ores e cada um de nós recebeu um candidato [partidário às eleições legislativ­as de 2011]. Em qualquer país civilizado, os políticos vão a “talk shows” e a programas muito mais arriscados que o “5”. A desconfian­ça só faz sentido se não se confiar no apresentad­or, se se achar que somos uns totós. Ora, apesar de podermos parecer, não somos uns totós. Aliás, esse é um dos fatores, um dos segredos: parecer um totó mas ter tudo muito bem estudado e um trabalho de bastidores muito competente.

Já recusou guiões, algumas piadas?

Muitas vezes. Já recusei piadas a que não achei graça.

Por exemplo?

Não acho particular graça ao humor negro, ao humor misógino, ao humor machista, ao humor demasiado pateta. O que não quer dizer que não tenham o seu espaço. No “5”, um programa semanal, é importan-

te que o texto tenha alguma piada para mim mas sobretudo para o público.

O politicame­nte correto mata o humor?

Não. O politicame­nte correto pode ter outro tipo de humor.

Há liberdade na RTP?

Nunca tive problemas. Tive sim aconselham­ento e um voto de confiança de pessoas que me colocaram ali porque sabem que tenho algum bom senso. E que há coisas que nunca aceitaria fazer.

Como reage quando lhe fazem perguntas como as que costuma fazer aos convidados?

Com bastante humor. À liberdade dos outros para fazerem as perguntas que quiserem contraponh­o a minha liberdade de as contornar.

Qual é o seu limite?

A minha vida íntima.

Nas abordagens do público qual é a pergunta mais frequente?

O tema de agora é a Eurovisão. Parabéns e muitas perguntas sobre os bastidores.

E nas redes sociais?

Em regra, as pessoas são muito fixes.

Nãoémuitoa­ssediada,tantomaisq­ueégiraebo­nita?

Não sou gira nem sou bonita.

Então?

[Risos] Sou a Mena.

Muito assediada?

Já levei com uma ou outra situação desagradáv­el. Lembro-me de uma carta muito estranha que recebi de um presidiári­o. Pedia-me peças de roupa, minhas e usadas. Uma carta um bocado ordinária. Mas são casos raros.

Nas entrevista­s, nos eventos, aparece sempre bem-disposta, divertida, feliz. É assim mesmo?

É o que me comprometo ser como profission­al. É assim que tenho de ser. Quando dou uma entrevista, quando estou a fazer um programa de entretenim­ento, tenho essa obrigação. Sou sempre educada. Faz parte do meu trabalho.

É um “boneco”?

Uma personagem como qualquer outra. A personagem que tenho como apresentad­ora é uma personagem que criei a partir da minha formação de atriz. É uma personagem e faço questão de ser assim.

Porque é o que esperam de si?

Porque é o que eu espero de mim. O que me proponho a mim mesmo.

Nesta fase da sua vida, há um programa que gos-

tasse de fazer?

Há uns anos, quis muito fazer um programa sobre a atualidade cultural. Consegui e tenho muito orgulho no trabalho daqueles dois anos. [“Agora”, RTP2, 2013/14]. Neste momento, estou a fazer um programa que quero muito fazer. Até porque me dá liberdade para outras coisas.

Está a preparar um espetáculo. “LIMBO” é sobre muros, tradições e heranças e decorre num tempo de migrações particular­mente trágicas.

Estou em residência artística para esse novo espetáculo, com atores de diferentes nacionalid­ades e encenação de Sara Carinhas.

O que mudou na vida profission­al com a apresentaç­ão do Festival Eurovisão?

Ganhei mais seguidores nas redes sociais, muitos estrangeir­os do mundo inteiro. Basicament­e foi isso.

De “Morangos com Açúcar”, em 2002, à Eurovisão, 2018, quais são as etapas profission­ais mais importante­s dos últimos 16 anos?

Os “Morangos” foram uma etapa importante de um caminho que já havia começado há algum tempo e que envolveu muito estudo, muita luta e muitos projetos mais pequenos mas muito pertinente­s. É absolutame­nte impossível destacar um ou alguns projetos em detrimento de outros. Cada um teve um significad­o importante e essencial para chegar ao seguinte. Sei sim, que tenho muito orgulho de todos os

projetos que fiz e que nunca cedi naquilo que considero essencial. E isso é muito fixe.

Mais de que etapas, há momentos definidore­s numa vida. Pode falar de um ou dois desses momentos?

O ano em que fiz 25 anos foi particular­mente feliz e definidor de linhas base para aquilo que queria partilhar como profission­al.

Porquê aos 25?

Não sei, mas sei que foi um ano muito feliz. Estava naquela altura em que vivia entre a casa dos meus pais - aquela em que cresci - e outras casas. Ainda não precisava de pagar contas, tinha a liberdade para fazer o que me apetecia, e uma casa sempre à minha espera. Já não vivia com os meus pais mas tinha-os ali. Era o melhor de todos os mundos.

Como era a criança nascida em Lisboa, na Maternidad­e Alfredo da Costa no ano de 1984, filha de uma beirã e de um alentejano, criada em Sete Rios?

Uma criança feliz, atenta e falante. Não era faladora, era falante. Ser faladora é blá-blá-blá-blá. Eu não. Eu queria dizer palavras caras. Tinha essa mania. Contava a minha mãe que uma das primeiras palavras que eu disse foi frigorífic­o. Repeti e repeti até conseguir.

O que é fácil não a motiva?

Talvez seja por aí, não sei se é. Mas a minha mãe dizia isso. Que eu tentava transforma­r a frase mais simples numa frase rebuscada.

“NÃO ACHO PARTICULAR GRAÇA AO HUMOR NEGRO, AO HUMOR MISÓGINO, AO HUMOR MACHISTA”

Continua a ter palavras favoritas?

Tenho muitas bengalas: “absolutame­nte”, “extraordin­ário”, “absolutame­nte extraordin­ário” [risos]. Gosto muito de dizer “meu caro” e “minha cara”. É uma coisa muito bonita de se dizer.

E palavras que nunca diz?

O sinónimo de má sorte. Por superstiçã­o absolutame­nte estúpida.

As superstiçõ­es são sempre estúpidas, ou não?

Têm sempre um bocadinho de estupidez mas é uma estupidez assumida, convicta, e no teatro tenho algumas. Entro no estúdio sempre com o pé direito e sigo um ritual, por esta ordem: comer, maquilhar, fumar o único cigarro, vestir e passar ainda no meu camarim. Em casa não tenho nada disto.

Ainda na infância - o que a fazia verdadeira­mente feliz?

Livros. Todos.

Que memórias guarda?

Tenho memórias de uma infância feliz e amada, com uma família que tudo fez para me dar liberdade de pensamento e me alargou os horizontes sempre que lhe foi possível.

A adolescênc­ia é um território muito complicado. Quem/como era aos 15 anos?

Curiosa, desapegada, interessad­a na profissão de atriz e no que envolvia o ofício. Pouco extroverti­da, muito observador­a. Não era muito popular mas tinha muitos amigos. Dava-me com todas as cliques da escola [andou nos Maristas de Lisboa], dos betos aos freaks.

O que lia?

Antes de descobrir os contemporâ­neos tive a fase Fernando Pessoa, a fase Oscar Wilde – foi uma grande panca – e a fase Camilo Castelo Branco. Li tudo dele.

É uma romântica?

Se sou uma romântica? Bom, o Camilo foi uma panca, sim. Grande. Não sei se foi pelo romantismo ou pela descoberta das palavras bonitas e das cartas de amor. Mas isso é ser romântica não é? Pois sim. Sou.

Como era o seu quarto aos 15 anos?

Era um quarto normal. A única curiosidad­e poderá ser o facto de ter uma parede cheia de frases de escritores, escritas a caneta de feltro por mim.

O que queria ser?

Com uns cinco anos, pintora de uma marca de tintas famosa [Robbialac], porque o anúncio era incrível. Uns miúdos atiravam com tinta às paredes, uma coisa que me parecia ser muito divertida. Desde que me tornei um ser pensante sempre quis ser atriz.

E o Direito?

Isso foi porque o meu pai me disse que só me pagava

o curso de atriz se fosse para Direito. Faltam-me dois ou 3 anos para acabar.

Nunca mais pensou nele?

Nunca mais. Se bem que gostei muito de algumas cadeiras, sobretudo História do Direito. Hoje, há outros cursos que gostaria de fazer - e que provavelme­nte farei.

Quais?

Artes e Espetáculo, da Universida­de de Lisboa, um curso muito interessan­te. Gostava também de voltar ao trompete e aprender violino. Toquei durante muitos anos piano e trompete. Gostava de voltar. Um dia.

Onde aprendeu música?

Com uma doente do meu pai [dentista]. A professora Emília.

Era então uma rebelde sem causa ou com muitos propósitos?

Rebelde com muitos propósitos, sem dúvida. O que se mantém. E espero alimentar essa rebeldia absolutame­nte consciente.

O que fica para sempre desse tempo?

A liberdade. A sensação da responsabi­lidade relativa e o colo da família todos os dias ao chegar a casa.

E que acrescenta a idade?

É um lugar-comum mas, sim, a experiênci­a e a sabedoria. Aquela coisa de olhar para trás e saber analisar e peneirar as lições para as usar no futuro. Para mim, a paciência.

Para o que lhe faltava e tem agora?

Faltava-me para tudo. Tinha pouca paciência para tudo. Desde as coisas mais pequeninas às realmente importante­s. A melhor lição que a idade me deu foi ensinar-me a ter paciência - um segredo para grande parte das coisas na vida. Ter calma. Se não é agora é depois de amanhã. A recompensa será três vezes melhor.

Precipitou-se muito?

Sim, e não me arrependo das minhas precipitaç­ões. Mas sei que se tivesse tido mais calma ou uma inteligênc­ia emocional um pouco mais madura, se tivesse esperado pelo momento certo, a recompensa teria sido maior. Não me tinha desgastado tanto. Tinha mais saúde. O stress não faz bem a nada.

O que ainda a stressa?

Hoje não há nada que me stresse muito. Deixa cá ver: faz-me um bocadinho de confusão a falta de profission­alismo e a passividad­e em relação a coisas que merecem ação. De resto, já não há nada que me faça irritar. Dantes era tudo: as injustiças, a passividad­e, as doenças. As coisas tinham de acontecer naquele momento. Ora, nem sempre é assim.

Como funciona em adversidad­e?

Na altura muito mal, agora melhor.

O que a zanga realmente?

A mentira chapada nas minhas barbas. Não sou muito de riscar pessoas da minha vida mas deixo de ter interesse.

Onde se vê daqui a dez anos?

Se continuar neste caminho estarei particular­mente feliz. Gostava de estar a fazer o mesmo que estou fazer agora, provavelme­nte noutro programa, com uma serenidade ainda maior. E com interregno­s pelo meio para viajar e fazer voluntaria­do.

Está preparada para a eventualid­ade de não ter nada disso?

Estou. Tenho uma estratégia mas não me assusto se correr mal.

Aos 34 anos qual é a sua definição de sucesso?

Hoje é muito diferente da que já foi. Agora, sucesso é conseguir viver desafogada­mente mas com uma qualidade de vida que eu desconheci­a que era importante ter. Hoje, eu quero muito ter uma casa no campo como a Elis Regina [referência à canção “Casa no campo”]. E isso é uma coisa complexa.

Onde “possa plantar meus amigos, meus discos e livros e nada mais”.

Perfeito. ●m

 ??  ??
 ?? FOTOGRAFIA Paulo Spranger/ Global Imagens ??
FOTOGRAFIA Paulo Spranger/ Global Imagens
 ??  ??
 ??  ??
 ??  ??
 ??  ??
 ??  ??
 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Portugal