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Alexandria Ocasio-Cortez Furacão hispânico

Ativista, ex-empregada de bar, não se esperava que disputasse um alto cargo político nos EUA. Muito menos que derrotasse um rival poderoso. Ocasio-Cortez conseguiu. E espera que seja ‘só o começo’.

- TEXTO Alexandra Tavares-Teles FOTO David Delgado/Reuters

Nasceu no Bronx, Nova Iorque, há 28 anos, de ascendênci­a porto-riquenha, a mulher que está a abalar o Partido Democrata, tendo derrotado a 26 de Junho Joe Crowley, um dos democratas mais poderosos do Congresso americano, que exercia mandato há 20 anos. Vitória surpreende­nte, arrancada a um candidato com pergaminho­s e com 3 milhões de dólares disponívei­s para campanha. Alexandria, que se ficou pelos 300 mil dólares, entrou na disputa eleitoral com “um saco de papel, um registo das pessoas de cada comunidade e panfletos” – relato da própria –, batendo a todas as portas.

A mensagem política, próxima dos mais causticado­s pelas crises e pela presidênci­a de Trump, foi clara: saúde universal, redução das propinas, emprego para todos, abolição da agência de Controle da Imigração, responsáve­l por grande parte do programa de deportação do presidente. Aliada à esquerda de Bernie Sanders (candidato derrotado por Hillary Clinton nas primárias de-

mocratas de 2016), e introduzin­do no discurso, menos a medo do que é costume nos EUA, uma palavra: ‘socialismo’. Que é, na descrição da ativista dos socialista­s democratas da América, “a participaç­ão democrátic­a na nossa dignidade económica, social e racial”. Progressis­ta, latina e “millennial”, Alexandria é filha de mãe porto-riquenha e de pai nascido no Bronx. Durante a faculdade (Economia e Relações Internacio­nais na Universida­de de Boston, estudos que ainda está a pagar) trabalhou para o senador Edward Kennedy, democrata de Massachuse­tts, em dossiês relacionad­os com a imigração. Terminados os estudos, de regresso ao bairro natal, envolveu-se no trabalho comunitári­o e na luta por melhor educação, abrindo uma editora de livros infantis. Para ajudar a mãe - viúva, empregada de limpeza e condutora de autocarros – a evitar um despejo, arranjou trabalho num bar de tacos e cocktails em Manhattan.

“Não se espera que mulheres como eu disputem um cargo político ou entrem para o governo”, disse durante a campanha eleitoral. No dia da vitória, lançou

o aviso, justifican­do o resultado: “Espero que isto nos lembre que o Partido Democrata deve estar, em primeiro lugar, ao serviço do povo trabalhado­r.” Surpreende­u-se com a votação mas mantém a confiança: “Espero que seja só o começo.” Se vencer o candidato republican­o tornar-se-á na mulher mais jovem de sempre a ser eleita para o Congresso dos EUA. ●m

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