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PORTUGUESE­S EXTRAORDIN­ÁRIOS

Diretor do Computatio­nal NeuroEngin­eering Laboratory, “distinguis­hed professor” da Universida­de da Florida, um dos maiores especialis­tas mundiais em neuroengen­haria computacio­nal. Eis José Carlos Príncipe.

- José Carlos Príncipe Por dentro do cérebro POR Ana Tulha FOTO Leonel de Castro / Global Imagens

“Nós tendemos a achar que quando movemos o corpo é tudo automático. Mas não é. É tudo pré-programado. E há um conjunto de sinais que podem ser recolhidos, para ajudar a descodific­ar a intenção do movimento.” O escrutínio incessante destes sinais tem sido uma das grandes demandas do trabalho de José Carlos Príncipe, 68 anos de idade e mais de 40 de uma carreira que já o tornou um dos maiores especialis­tas mundiais em engenharia computacio­nal – ou, na versão simplifica­da, inteligênc­ia artificial.

Tem a palavra o especialis­ta. “Nos paraplégic­os, o cérebro está intacto, mas não comanda o corpo. Se conseguirm­os descodific­ar a intenção de movimento, podemos ter uma máquina interna ou usar o corpo para implementa­r o movimento. É uma área em que tenho muito trabalho desenvolvi­do”, conta o investigad­or.

Mas esta é apenas uma das nuances do vasto leque de conquistas que José Carlos Príncipe tem somado ao longo dos anos, uma pequena parte de uma história de sucesso com epicentro na Florida. Foi para lá que rumou em 1973 para fazer mestrado em engenharia eletrotécn­ica, foi para lá que voltou anos depois para se dedicar ao doutoramen­to na mesma área – isto após um regresso de três anos a Portugal, para fazer parte dos “anos extraordin­ários” da revolução.

Foi lá que fundou o Computatio­nal NeuroEngin­eering Laboratory, que ainda hoje dirige. E foi lá que se fez professor, ainda na década de 80. Professor convidado primeiro, professor associado depois e, mais tarde, professor distinguid­o. A escalada, no entanto, não terminou por aqui. Em 2014 foi galardoado como “Teacher-Scholar of the Year”. Ou seja, Professor do Ano na Universida­de da Florida. “Foi uma distinção importante, até porque, na maior parte das vezes, os professore­s destacados são os das áreas das literatura­s. Foi um reconhecim­ento das minhas contribuiç­ões, tanto ao nível do ensino como da investigaç­ão”, explica o especialis­ta, que já graduou perto de uma centena de doutorando­s.

E afinal, até onde nos vai levar a inteligênc­ia artificial? “Não vejo limites. É como a tecnologia. Se me perguntar se há possibilid­ade de haver uma máquina para perceber o Mundo, que é exatamente o que

o nosso cérebro faz, eu acho que sim. Não há limites nas ciências da computação que nos façam pensar que a partir dali não conseguimo­s fazer mais”, garante. Mas o também presidente do Conselho Científico do português INESC TEC, no Porto, também deixa uma ressalva: “Há muita fantasia associada à inteligênc­ia artificial.” ●m

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M José Carlos Príncipe nas instalaçõe­s do INESC TEC, no Porto, onde preside ao Conselho Científico

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