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Filinto Lima O presidente dos diretores
Ao longo de 30 anos, consolidou a carreira no ensino e ganhou protagonismo, renovado anualmente com os problemas que levanta a cada rentrée escolar. Mas há quem o acuse de falar de mais.
Nascido na maternidade Júlio Dinis, freguesia de Massarelos, no Porto, em 1966, considera-se natural de Oliveira do Douro, terra onde cresceu e aprendeu as primeiras letras, filho de um instrutor de condução automóvel e de uma técnica de raios X. "Família humilde", descreve o próprio, recordando a "educação tradicional, muito católica" e a infância "feliz mas regrada”. Sobretudo por influência da mãe, "muito controladora" no que à educação dos filhos (ele e uma irmã) dizia respeito. Do pai lembra as tardes passadas no futebol. Árbitro dos distritais aos domingos, gostava de levar o miúdo aos jogos com a recomendação habitual: "Nunca digas que és filho do árbitro." Talvez por isso, nunca se ouviu a este adepto do Boavista, que não perde um jogo no Bessa, uma crítica a arbitragens ou acalorada discussão sobre a bola.
O ensino é uma vocação. “Sempre tive muito jeito.” Em 1988, ainda estudante de Direito, já lecionava práticas administrativas numa escola de Castelo de Paiva. Foi o início da carreira docente, "tempos magníficos", recorda. Ao longo de 30 anos, 20 dos quais em funções diretivas, consolidou a carreira no ensino. Como diretor de escola, fundador de uma associação de diretores, colabora-
dor assíduo em vários órgãos de comunicação social com artigos sobre Educação. Ganhou protagonismo, renovado anualmente com os problemas que levanta cada rentrée escolar. Este ano, mudanças legislativas aprovadas há menos de três meses obrigaram as escolas a uma adaptação apressada. Os diretores queixam-se de falta de tempo para prepararem a escola para a educação inclusiva, autonomia e a flexibilização curricular.
O destaque conseguido é resultado “de muita dedicação ao trabalho”. Entre os pares, no entanto, está longe de ser figura consensual. Desde logo porque “fala de mais”. Manuel Pereira, presidente de uma associação concorrente – a Associação Nacional de Dirigentes Escolares – é um dos críticos. “Trata-se de uma pessoa afável, educada, mas com uma intervenção demasiado presente, com opiniões sobre tudo e mais alguma coisa, o que por vezes prejudica a nossa causa comum.” O perfilado não nega o gosto pela visibilidade mediática. “Nunca pedi uma entrevista, mas também nunca disse não a um jornalista.” Não teme “as câmaras”. Perspetivas: Manuel Pereira, por exemplo, recusa “perder um dia de trabalho para estar dois minutos num programa”.
José Eduardo Lemos, presidente do Conselho das Escolas, conhece bem Filinto Lima, trabalharam juntos. Sobre o colega, prefere não ir além disto: “É homem respeitador e educado, mas, no que diz respeito às questões da Educação, estamos em campos opostos – quando ele diz que é branco eu defendo que é preto.” Ouve as críticas. Toma nota delas. “Sou tolerante, aceito-as e tenho uma única agenda – dar uma boa imagem da escola pública”, diz, enquanto se prepara para concorrer, no próximo ano, a mais um mandato. ●m