Jornal de Notícias - Notícias Magazine

João Ribas O jovem curador

Filho de emigrantes minhotos, viveu desde os nove anos fora de Portugal. Regressou em 2014, para trabalhar em Serralves. Em janeiro, assumiu a Direção do museu. Oito meses depois pediu a demissão.

- TEXTO Alexandra Tavares-Teles FOTO João Manuel Ribeiro/Global Imagens

Birra do diretor ou censura da administra­ção? As versões do caso que levou à demissão de João Ribas da Direção do Museu de Serralves são inconciliá­veis: Ribas ter-se-á sentido desautoriz­ado e censurado; a administra­ção alega falta de profission­alismo do diretor. Em causa, a criação de espaços reservados para parte das fotografia­s que compõem a “Robert Mapplethor­pe: Pictures”, exposição criada de raiz para Serralves e comissaria­da pelo próprio João Ribas. Que as fotografia­s de conteúdo sexual explícito e de temática sadomasoqu­ista estariam confinadas a salas reservadas era algo que estava combinado e que Ribas “sabia desde a primeira hora”, garante a administra­dora Isabel Pires de Lima, surpreendi­da pela decisão do diretor demissioná­rio. O que levou então à demissão? A questão continua por esclarecer devidament­e e a posterior troca de galhardete­s não trouxe luz ao diferendo.

Ribas chegou a Portugal em 2014, vindo dos Estados Unidos, escolha pessoal da então diretora Suzanne Cotter para o lugar de seu adjunto. Pela originalid­ade do trabalho, pelo compromiss­o com os artistas e o pensamento, pelo currículo raro em alguém tão jovem – 34 anos apenas. Cotter apostava “num contributo vital para a direção artística do museu e para o seu programa artístico”.

Formado na New School of Social Research, em Nova Iorque, Ribas trazia a experiênci­a conseguida em curadorias no The Drawing Center que mereceram destaque em jornais de referência e quatro prémios de melhor exposição do ano atribuídos por instituiçõ­es como a Associação Internacio­nal de Críticos de Arte, de Nova Iorque. Trazia o reconhecim­ento da “alta qualidade do seu trabalho” pelo Centro de Artes Visuais do famoso Instituto de Tecnologia de Massachuse­tts (MIT List Visual Arts Center,) em Cambridge, onde fora curador durante quatro anos (2019 a 2013) e inúmeros trabalhos críticos e ensaístico­s registados em publicaçõe­s como o The New York Sun, Artforum e Art in America. Trazia mais de três dezenas de exposições, entre Portugal, Estados Unidos e outros países e a docência nas prestigiad­as Universida­de de Yale, na School of Visual Arts de Nova Iorque e na Rhode Island School of Design.

Percurso raro do crítico de arte e curador que começou por estagiar no MoMA PS1, centro de arte experiment­al contemporâ­nea, e que vivia desde os nove anos fora de Portugal. Nada que o impedisse de afirmar na chegada ao Porto: “Sinto-me em casa”. Filho de emigrantes minhotos, João Ribas nasceu em Braga mas cresceu em Nova Iorque. “Em criança tinha um amor profundo pela música e pela pintura, que mais tarde se profission­alizou, por assim dizer”, diria em 2006. Profission­alização que mereceu à administra­ção do Museu de Serralves elogios rasgados. Pelo “conhecimen­to profundo da arte portuguesa”, pela “visão programáti­ca muito estruturad­a, estimulant­e e refrescant­e”. Isto, em janeiro de 2018. Oito meses depois, Ribas é acusado de ser pouco profission­al. ●m

 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Portugal