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José Nunes da Fonseca O Eusébio do Exército

Nome consensual no Conselho de Generais, é considerad­o o homem certo para o momento turbulento provocado pelo “caso Tancos”. Pessoa “fora do normal”, descrevem-no arguto, pragmático e com uma memória prodigiosa.

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Fica na história da Academia Militar como um dos melhores alunos de sempre – há quem afirme que é o melhor –, obtendo a média rara de 19 valores. Foi, naturalmen­te, o primeiro do curso (1979/85), Ciências Militares (Engenharia), e é “Espada de Toledo”, o reconhecim­ento que a Academia reserva exclusivam­ente à excelência. Barra nas teóricas, aluno de 20 a educação física é “o nosso Eusébio”, na designação carinhosa de um amigo antigo. Nomeado pelo presidente da República sob proposta do primeiro-ministro, José Nunes da Fonseca mereceu a unanimidad­e do Conselho de Generais do exército, consenso pouco vulgar, tanto mais que saltou por cima de candidatos com mais tempo de generalato. O novo Chefe do Estado-Maior do Exército tomou posse em tempos difíceis, com o “caso Tancos” longe do fim.

“É o homem certo para este momento de burburinho”, defende António Costa Mota, o tenente-coronel presidente da Associação de Oficiais das Forças Armadas. Justifica: “É uma pessoa muito ponderada, tranquila, com uma caracterís­tica essencial ao cargo – é dialogante”. Alguém que sabe ouvir. E decidir, “com argumentos sempre muito bem sustentado­s”.

Luís Paula Campos conhece Nunes da Fonseca dos tempos da Academia Militar. Foram colegas, tinham ambos 20 anos. Recorda, agora, um rapaz “discreto e reservado, extremamen­te inteligent­e, muito arguto, muito pragmático”. “Estupidame­nte organizado”, ri. Alguém que “só fala do que sabe”, com uma memória “lendária”: “Fixa tudo o que lê”. “Sou-lhe franco” – remata o coronel – “estamos a falar de uma pessoa fora do normal, em aptidão intelectua­l e física”.

O pai, um sargento do exército, acabaria por influencia­r a sua carreira e a dos irmãos (um major-general no ativo e um coronel na reserva). Aluno dos Pupilos do Exército e da Academia Militar, prestou serviço em diversas unidades e estabeleci­mentos das Forças Armadas, nomeadamen­te na Escola Prática de Engenharia, de que foi comandante. Da folha de serviço constam 23 louvores nacionais. Mais três estrangeir­os.

Cumpriu duas comissões em operações NATO – na Bósnia-Herzegovin­a, entre 1998 e 1999, como Oficial de Operações no Quartel-General da Divisão Multinacio­nal Sudeste, e no Kosovo, em 2011, como General Comandante da Força Logística. Correr – uma a duas horas – é prazer diário de que não prescinde. Colocado na Guarda Nacional Republican­a em janeiro de 2013, foram muitas as vezes que fez o trajeto casa-quartel do Carmo de sapatilhas. Segundo-Comandante Geral da GNR desde junho de 2018, há quem veja nestes cinco anos que leva fora do exército o único contra da nomeação. Porque perdeu o contacto com os seus. Mas há quem pense o contrário e veja o afastament­o como uma vantagem. Para esses, mais do que nunca,

o exército necessita de uma chefia sem anticorpos. ●m

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