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O descanso do artista pop romântico

Uma viagem pela Ásia, pelos Estados Unidos, pelo Canadá. Uma peregrinaç­ão a Fátima a pé, uma visita a Israel para prestar homenagem a um ídolo de adolescênc­ia. Projetos para uma pausa projetada por Tony Carreira. Ao fim de três décadas de carreira, celebr

- TEXTO Alexandra Tavares-Teles

O intervalo na carreira de três décadas de Tony Carreira está ao virar da esquina dos três concertos agendados para novembro. A jornalista Alexandra Tavares-Teles ouviu as razões e os planos para o afastament­o durante uma longa conversa, num final de manhã na casa do cantor, em Lisboa. Para ele, a música ligeira não é menor nem simplória.

Tony Carreira e a linda cadela beagle recebem-nos em casa, na sala envidraçad­a, cheia de luz. Dizem as revistas de coscuvilhi­ce que o apartament­o está vendido quando não está sequer à venda. Que tem 12 quartos quando são cinco. Que alcança uma vista de cortar o fôlego – “Veja bem, de um lado tenho um prédio e o Tejo vê-se, de facto, mas está lá ao fundo”.

Cansado de “tantas mentiras que se escrevem” e que ora o dão por falido, ora com dívidas fiscais dignas de receitas de um Cristiano Ronaldo, não perde, porém, o sentido de humor que lhe permite rir de todas as caricatura­s que já lhe fizeram. E uma certa candura rara no meio.

A entrevista foi longa, quase duas horas entrecorta­das por um único cigarro, um dos mais de 20 que fuma por dia e vários cafés. A história do rapaz nascido numa aldeia perdida, infância humilíssim­a, que faz sucesso a cantar. Um artista e um homem de negócios altamente profission­al, que enfrentou uma acusação de plágio e que pagou por isso. Que passa por cima dos preconceit­os e de alguns esgares de desdém. Do alto de seis milhões de discos vendidos em 20 gravados e de mais de dois mil concertos, muitos deles em países com que nunca sonhou. Era então o menino António Manuel.

Lembra-se de uma canção importante da sua infância?

A “Lágrima”, de Amália.

Um fado. Estranho, numa criança.

É estranho, realmente, tanto mais que só comecei a gostar de fado há uns dez anos. A Amália, porém, passa para lá do fado. Lembro-me de que ouvi a “Lágrima” pela primeira vez no rádio de um tio. Gostava tanto desse rádio que ainda hoje

o guardo. Estamos a falar de um miúdo nos anos 1970, que vivia em Armadouro, uma pequena aldeia perdida num pinhal na zona da Pampilhosa da Serra. A música era algo raro na sua vida. Talvez por isso tenha adorado.

Se não foi presença na infância, de onde vem o gosto pela música?

Não faço ideia. O meu avô costumava cantarolar, mas não foi por aí. O único contacto que tinha com a música era nas festas populares da minha aldeia.

Cantava em criança?

Nos tempos de aldeia, não. Depois, com dez anos, cheguei a França e então, sim, comecei a ouvir música que me agradava muito, tive a primeira guitarra e depressa percebi que era aquilo que queria para o resto da minha vida. Alguns artistas entusiasma­vam-me, principalm­ente um deles, o Mike Brant, um cantor de origem israelita, de muito sucesso, que acabaria por co-

meter suicídio muito jovem, tinha 28 anos. Tornei-me um fã incondicio­nal.

Foi criado pelos avós paternos depois de a família se ter partido: os pais emigraram para França, levando com eles o seu irmão mais velho, e a irmã foi para casa dos avós maternos. Como é que uma criança lida com esta separação?

A separação custava, se custava, as despedidas eram difíceis, mas os reencontro­s, nas férias, eram fantástico­s. Até porque havia sempre um presente. Sempre fui uma criança muito positiva.

Lembra-se desses presentes?

Uma bola. Um pacote de bolachas. Uma alegria para um miúdo que vivia com muitas dificuldad­es. E dificuldad­es era ter uma camisola para o ano inteiro, uns sapatos para o ano inteiro, comer o mais básico. Nem sequer havia espaço para maluqueira­s ou traquinice­s porque a vida era rude. Mas mesmo aí era muito feliz.

Que ideia do futuro tinha esse miúdo?

Muitas das crianças daquela aldeia, filhas de emigrantes, tinham um desejo comum: reunirem-se aos pais. Naquela altura, o meu sonho era ir para a pequena vila (Dourdan) nos arredores de Paris, com semáforos e rotundas.

O que lembra da vida nos arredores?

A minha mãe trabalhava numa fábrica, o meu pai era pedreiro, queriam construir uma casinha na terra e, por isso, tinham uma luta diária para poupar uns francos. Lembro-me de um puto completame­nte fora do contexto. Em termos culturais, no comportame­nto, na maneira de vestir. Passava por líbio ou sírio. Mal falava a língua. Mas estava muito feliz e contente.

Ainda sabe o nome do primeiro amigo que fez em França?

Deixe ver, Serge Ivanov, um rapaz de origem russa que me defendia dos outros. Há muitos anos que não dizia o seu nome.

Como lidava com o preconceit­o e a exclusão?

O melhor que podia. Senti-os. Mas também encontrei pessoas boas. A minha professora da primária (tive de recomeçar do zero), uma senhora que me apoiou muito, que perdeu algum tempo comigo por causa das minhas dificuldad­es na língua e que há cinco anos me deu o prazer de assistir a um dos meus concertos. Foi muito estranho. Olhar para a primeira fila e ver ali a minha professora da primária.

Sem a música qual teria sido o seu destino?

Aos 16 anos fui trabalhar para a fábrica da minha mãe. Uma fábrica de enchidos, onde estaria hoje, a cinco ou seis anos da reforma.

As dificuldad­es moldam a forma de ver o sucesso?

A minha vontade é dizer que sim, que as origens fizeram a pessoa que sou, a minha relação com o sucesso, com o dinheiro, com os outros. Mas, no fundo, não sei se é a resposta correta. Já vi muita gente com origens parecidas virarem parvas com o sucesso. Já vi pessoas transforma­rem-se por completo, de forma negativa, em seis meses. E já conheci pessoas bem-sucedidas desde o nascimento que são maravilhos­as.

Em que momento percebe que poderia fazer uma carreira na música?

Em toda a minha vida nunca fiz projetos a longo prazo. Não tenho por hábito olhar para trás nem muito para a frente. O que vai acontecend­o vai acontecend­o, até porque nesta profissão nunca nada é adquirido e definitivo. Estou a festejar 30 anos de canções, mas de sucessos ão20–eé muito. Nãoé fácil te ruma carreira tão longa numa vida artística. Foi um sucesso tardio, obtido com muito sofrimento e muito trabalho. Talvez por esse motivo nunca pensei que fosse a última Coca-Cola do deserto.

Em 2000, faz o primeiro Olympia. Como vai lá parar?

Sem saber como. Acontece-me muito deixar falar o lado instintivo, sonhador e por vezes inconscien­te. Primeiro meto-me nas coisas e depois penso nas coisas. Foi assim com o primeiro Olympia, com o primei- ro Coliseu, com o primeiro pavilhão Atlântico e com alguns discos. O primeiro Olympia deve-se sobretudo ao empenho do meu irmão que trabalhou muito para isso. Mas só depois de alugarmos a sala percebi aonde me tinha metido.

O primeiro Coliseu é em 2001. Chega em força ao meio musical português. O que o distinguia?

Uma mentalidad­e totalmente diferente da que existia na canção ligeira, expressão que não me agrada. Não aceitava a ideia, e ainda hoje não aceito, de que a música ligeira é menor, simplória, lálálá e já está. E, portanto, rodeei-me de grandes músicos e de grandes orquestrad­ores, profission­ais que trabalhara­m com Peter Gabriel, com Beyoncé, com Anastacia, com Natalie Cole, com Julio Iglesias ou com Roberto Carlos. Acho que isso fez uma grande diferença. Nesse ponto sempre fui diferente.

Foi bem recebido?

Não olhava muito para os lados. Há quem confunda isso com vedetismo ou arrogância, mas não tem nada a ver. Estava muito focado no meu percurso e nada

“QUERO IR PARA A MINHA TERRA DUAS OU TRÊS SEMANAS E ESTAR LÁ COM AS PESSOAS DA ALDEIA. QUERO IR A FÁTIMA A PÉ. QUERO VISITAR EM ISRAEL A CAMPA DE MIKE BRANT, O MEU ÍDOLO DE ADOLESCÊNC­IA, UMA VIAGEM ADIADA HÁ QUASE 20 ANOS QUE PENSO FAZER EM DEZEMBRO. AGORA, QUERO VER RIOS, FLORESTAS, PASSEAR PELA NATUREZA. ESTOU A PENSAR NA ÁSIA, NOS EUA, NO CANADÁ. SOZINHO, DE MOCHILA ÀS COSTAS”

interessad­o em saber se falavam bem ou mal de mim.

Como foi assistir ao próprio sucesso?

Depois de muitos anos de espera, as coisas começaram a acontecer. Sucesso a sucesso. Mas, ao contrário do que se possa pensar, comecei a acreditar que era possível durar nesta vida há apenas uns 15 anos.

Até lá, qual era o plano B? Os primeiros cinco anosp assou-os a ser despedido das editoras.

(risos) Nunca tive um plano B.

Se não gosta da expressão música ligeira como classifica o que canta?

Considero-me um artista pop romântico.

É romântico?

(risos) Ui. Não serei o romântico perfeito, mas sim, acho que sou.

Oqueéo romântico perfeito? Por exemplo, lembra-seque música tocav aquando conheceu um adas mulheres da sua vida, a mãe dos seus filhos?

Estava eu a cantar, mas não me lembro que música. Se calhar, na altura, era menos romântico (risos).

Já chorou por amor?

Muitas vezes. E espero chorar muitas mais.

É um sofredor?

Eu e os restantes portuguese­s.

Foi, é, muito assediado?

Fui sim, claramente. E não me queixo. Quando o charme é feito subtilment­e, acho fantástico. Posso até não estar interessad­o, mas o jogo em si é um jogo de que gosto. Digo isto porque felizmente nunca tive casos desagradáv­eis. Essas situações devem ser muito complicada­s.

Sabe se as suas canções alteraram a vida de outros?

Há histórias maravilhos­as, que me deixam arrepiado. Desde um médico que opera a ouvir-me cantar, a duas pessoas que acordaram de um coma ao som da minha música. É o poder da música. Acontece comigo e com outros músicos e nada é mais bonito.

Há pouco falava nas decisões instintiva­s. Mas há a ideia de que é um profission­al muito cerebral e um homem de negócios muito competente.

Sim, claro. Isto é um trabalho, não é um hobby. Valorizo muito o trabalho porque eu trabalho mesmo. Adormeço e acordo a pensar em música. Há um lado instintivo e sonhador, que existe e aparece muitas vezes, mas no limite quem toma conta da situação é

o cérebro. Há muito trabalho e rigor. Nos ensaios, nas contrataçõ­es, em todos os pormenores.

Quando tem de se aconselhar recorre a quem?

Sempre aos mesmos. O meu irmão e os meus filhos. Mas por norma a decisão já está tomada.

De que abdicou para ter a carreira que tem?

Pus a música à frente de tudo. Durante uns longos anos, inconscien­temente, até da família. Abdiquei de tudo pela música, mas não me arrependo de nada porque a música deu-me a minha vida, a vida que eu tenho.

Que falhas não admite à sua equipa?

Não tolero a arrogância, a ingratidão. Um bom profission­al não é só aquele que é muito bom no que faz. Para mim, conta igualmente a forma de estar e de se relacionar com o grupo. Andamos na estrada, por vezes somos 40, 50 ou 200 pessoas. Temos de ser uma equipa.

Uma das figuras centrais no percurso foi a ex-mulher, como agente.

Sempre tive na mão a condução do meu percurso porque, no mínimo, soube sempre o que não queria. Primeiro o meu irmão e depois a Fernanda tiveram a seu cargo toda a parte logística. Trabalho que ela fez muito bem. Fizemos uma dupla fantástica. Há quem ache que trabalhar em família pode ser complicado. Eu acho que é muito sexy.

Quando começa a ganhar realmente muito dinheiro?

Houve anos em que ganhei muito dinheiro e anos em que perdi muito dinheiro. Os meus investimen­tos sempre foram na música e em promoções de concertos por vezes um pouco fora da realidade deste mercado, um mercado pequeno. Mas começo a viver bem da música a partir dos anos 2000.

Esperava chegar tão longe?

Em 2003, quando fiz o primeiro pavilhão Atlântico, escrevi que se a minha carreira tivesse terminado naquele dia já seria um homem muito feliz e um artista realizado. Bom, depois disso fiz mais 19 “Atlânticos” e vendi mais quatro milhões de discos.

Herman José disse recentemen­te que o Tony morrerá com o desgosto de não ter sido aceite pela elite. Concorda?

Gosto muito do Herman e ri-me quando li isso. Não, não vou morrer com esse problema. Tenho o maior respeito por toda a gente e muito orgulho, muito mesmo, em ser um artista do povo.

Nomeio musical português já sentiu esse preconceit­o.

Claro que já. Mas também fiz grandes amigos. Pessoas com carreiras extraordin­árias como Pedro Abrunhosa ou os Xutos & Pontapés.

Acha que há quem tem vergonha de dizer que o ouve?

Um dia, na rua, um senhor perguntou-me se eu podia tirar uma foto com a namorada. Mas, frisou, só com ela porque a minha música não era o género dele. Mas quando lhe perguntei de que tipo de música gostava não foi capaz de responder. Muitos dos que dizem isso não ouvem música.

Em que momento descolou de ferrete da música pimba?

Nos primeiros dez anos da minha carreira gravei canções que hoje não gravaria, ainda que se voltasse a esse tempo faria igual. Era aquele o meu percurso. Mas, mal tive possibilid­ades, comecei a gravar com outros músicos e com outros orquestrad­ores, em outros estúdios. A fazer a música com a qual me identifico.

Ouve música portuguesa?

Gosto muito do Pedro Abrunhosa. É o artista que melhor som tem em Portugal. E os Xutos são incontorná­veis.

Rui Veloso ou Marco Paulo?

Gosto muito dos dois.

O que tem contra si o José Cid?

(risos) O José Cid é um homem cheio de talento com um problema: não gosta de quem tem mais sucesso do que ele. Problema que não consigo resolver-lhe.

Uma música portuguesa que gostasse de ter escrito.

“A cabana junto à praia”. (risos)

Ironia?

“A cabana junto à praia” é uma grande canção. Mas a que gostaria mesmo de ter escrito é a “Canção do Mar”.

Como reagiu o meio às acusações do plágio? Fale-me dessa travessia.

A questão dos plágios ficou resolvida em 2008, há dez anos, portanto. Agora, o problema foi outro. Trata-se de uma perseguiçã­o mediática feita por alguém que se queria vingar. Um massacre foi o que me fizeram. Por isso, disse sempre que àquele senhor não dava um euro porque era um euro roubado. Aceitei pagar a uma instituiçã­o, os bombeiros, que já tinha ajudado muitas vezes sem alaridos.

E o meio?

O meio nem sempre foi simpático. Enfim, em matéria de plágios, eu teria muito para dizer sobre certos casos, mas não vou escolher esse caminho. Mas não tive só surpresas desagradáv­eis. Algumas foram muito boas.

Quando trabalhou as canções visadas, e as cantou, tinha noção de que estava a plagiar?

Foi total inexperiên­cia. Agora, com anos em cima, ouço as canções e é evidente que acho que são as mesmas canções, são realmente muito próximas.

Como reage à adversidad­e?

É muito difícil. Ler mentiras sobre mim em capas de jornais e revistas é algo que me afeta e entristece, que me estraga o dia, a semana, o mês. Não vivo bem com isso. Fico muito triste e abatido.

E com as críticas musicais?

Essas aceito-as todas. Tenho muito poder de encaixe.

E sentido de humor? Ricardo Araújo Pereira ironizou com “a poesia do Tony”.

Achei um piadão. Ele é genial e eu consigo rir de tudo.

Qual é o seu lado mais caricaturá­vel?

Provavelme­nte, a situação dos plágios. O Bruno Nogueira conseguiu fazer-me rir numa altura em que estava a viver esse problema. Eu não gosto é de maldade gratuita. Para fazer vender mais duas ou três revistas.

Escreveu uma biografia. Porém, uma biografia não autorizada do Tony teria de ter que informação?

(risos) Responder-lhe seria um suicídio. No meu livro está a verdade. Há partes da minha vida de que preferi não falar, por exemplo do meu casamento, um tema que já foi arrasado com mentiras.

Vamos ao palco. O que sente ainda hoje quando abre a cortina?

Algum medo de falhar. Creio ser comum a todos os artistas do Mundo.

Como foi aquela noite de 2000, no Olympia?

Estava cheio de medo. No meu primeiro “Atlântico”, perante 20 mil pessoas pensei “vou desmaiar aqui”. O que me vale é que passa ao fim da segunda ou terceira canção.

Tem rituais?

Não, ao contrário do que já se escreveu. Benzo-me.

É católico?

Sobretudo, tenho fé em Fátima, ainda que me digam e provem que não passa de uma mentira. Aquele lugar faz parte da minha vida desde os meus dez anos. Um dia fiz um pedido e esse pedido realizou-se. Chamem a isto o que quiserem.

Como cuida da voz?

Não cuido muito. Sou autodidata em tudo: nunca tive uma aula de canto, nunca tive uma aula de guitarra, nada.

Que opinião têm os filhos do pai profission­al?

São muito sinceros. Só há pouco tempo percebi que admiram muito o profission­alismo do pai.

Dois rapazes e uma rapariga, todos na indústria. Quando olha para os filhos, há uma nostalgia, uma inveja “boa”?

Inveja só de eles não terem barriga. (risos) Eu já tenho, eles ainda não.

O envelhecim­ento assusta-o?

Se dissesse que não, mentia. Mas é assim e o melhor é aceitar. Se não ficamos ressabiado­s. Peço a Deus para nunca me tornar um ressabiado.

Cuida de si?

Tento ter alguns cuidados, mas dou uma no cravo e na outra ferradura. A seguir a uma feijoada como uma alface (risos).

A palavra avô envelhece muito?

No princípio, não estava a gostar nada da ideia. Hoje, adoro.

Dizem que dançar rejuvenesc­e.

Sou provavelme­nte o pior bailarino do mundo. E tenho pena. Adoro tango e danças de salão.

Sei que gosta de cozinhar. É uma terapia?

É o gosto de oferecer, de partilhar. Eu mesmo trato das compras na praça de Alvalade. Adoro aquele am- biente. Aquilo sou eu. E que bem me tratam. Se estiver sozinho não cozinho. Faço uma sanduíche.

O que dizem os filhos da paragem que planeia fazer?

Começaram por não acreditar e diziam que eu acabaria por mudar de ideias. Por fim, disseram que os meus argumentos faziam sentido.

Cerebrais ou impulsivos?

Cerebrais. Por um lado, há um cansaço do lado mediático, que me fez sofrer. Sobre os plágios, sobre o meu casamento e sobre o meu divórcio foram escritas muitas mentiras e distorcida­s muitas coisas. E o vale tudo não é o meu desporto. Sofri um pouco e preciso de descansar. Por outro, apetece-me fazer coisas que ainda não fiz e para isso preciso de tempo. Para pensar nelas e para mim.

Para fazer o quê?

Para pegar numa caravana e ir dormir para um pinhal, por exemplo. Quero ir para a minha terra duas ou três semanas e estar lá com as pessoas da aldeia. Quero ir a Fátima a pé. Quero visitar em Israel a campa de Mike Brant, o meu ídolo de adolescênc­ia, uma viagem adiada há quase 20 anos que penso fazer em dezembro. Agora, quero ver rios, florestas, passear pela natureza. Estou a pensar na Ásia, nos EUA, no Canadá. Sozi-

nho, de mochila às costas.

É viagem para quanto tempo?

Dois a três meses. Acho eu. Só se me encantar pela Ásia.

O que pode fazer ao fim de 30 anos de carreira?

Se tivesse de gravar um disco agora, fechava-me num estúdio durante dois meses, com 30 músicos, e faria um disco com algum swing. Mas, neste momento, não estou a pensar sobre isso.

Vai para essa viagem com alguma amargura?

Quero ir muito feliz, com a fotografia na minha cabeça dos grandes concertos que vou dar agora (dia 10 de novembro, no Multiusos de Guimarães; 16 e 17 de novembro, no Altice Arena), para festejar com o meu público 30 anos de canções. Cantaremos juntos essas canções e é esse momento que quero levar na minha cabeça.

Já sabe quando vai voltar a gravar?

Neste momento não quero criar uma agenda.

Qual é o maior orgulho dos 30 anos?

Há um disco do qual me orgulho muito: “O homem que sou”. Saiu em 2008, o ano em que fui acusado de plágio, quando muita gente vaticinava o fim da minha carreira. Foi provavelme­nte o disco que mais vendeu até hoje.

O que gostaria que a neta contasse aos filhos dela, do bisavô?

Ser admirado por um neto é ainda mais forte que ser admirado por um filho. Gostava muito que falassem – sim, já que começou a desgraça, espero ter mais do que um (risos) – de mim com orgulho.

Como gostaria de ser lembrado pelo público?

Como um homem bom. ●m

“DESDE UM MÉDICO QUE OPERA A OUVIR-ME CANTAR, A DUAS PESSOAS QUE ACORDARAM DE UM COMA AO SOM DA MINHA MÚSICA. É O PODER DA MÚSICA. ACONTECE COMIGO E COM OUTROS”

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