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Vieira da Silva
Romântico, inquieto, disciplinado e teimoso Pai do Complemento Social para Idosos, nunca teve o sonho de chegar ao Governo. Apaixonado pela literatura de Camilo Castelo Branco, amante de ténis, não gosta de desiludir. Nem que seja na simples confeção de u
A voz tranquila rima com a inquietação permanente e a imagem discreta. Reservado, conjuga isso com o arrojo de algumas ideias, diz quem o conhece. “Chegávamos a uma reunião com uma proposta e saímos de lá com outra, duas vezes maior e muito mais arrojada”, recorda Fernando Medina. O presidente da Câmara de Lisboa foi secretário de Estado com a tutela de José Vieira da Silva em dois ministérios : Trabalho e Solidariedade Social (2005-2009) e Economia, Inovação e Desenvolvimento (2009-2011). “Com ele andávamos sempre a correr. Mal acaba uma tarefa pensa logo na próxima.” Do político, “um homem profundamente de esquerda”, releva “a conjugação, rara, de um conhecimento profundo da realidade socioeconómica do país com uma capacidade política ímpar de concretização de uma agenda naquelas áreas”. Cita a reforma laboral, a reforma da segurança social, a criação da rede de equipamentos sociais, “marcas muito importantes, entre outras” deixadas pelo ministro conhecido, sobretudo, como pai do CSI, o Complemento Social para Idosos.
“É um dos ministros mais bem preparados deste Governo.” O elogio vem de Manuel Carvalho da Silva. O ex-secretário geral da CGTP, que esteve diversas vezes do outro lado da mesa negocial, vai mais longe: “Tem uma boa for-
mação base de esquerda e, globalmente, é o governante que promoveu as medidas mais consequentes em defesa da Segurança Social”. Um senão: “É demasiado teimoso e por vezes parte de cenários já arrumados politicamente e não sai daí”. Dois: “Dá tempo a mais à maturação de certos processos. Ganhava se acelerasse em algumas das decisões”. Governar nunca foi sonho de Vieira da Silva, filho tardio de um pequeno industrial da Marinha Grande, leitor compulsivo desde a infância, miúdo apaixonado pelo universo de Júlio Verne e pela literatura de Camilo Castelo Branco. Um romântico metódico e muito disciplinado – fuma há várias décadas dois cigarros por dia –, pouco preocupado com a imagem que “passa”, mas decidido a não desiludir os que nele confiam e, sobretudo, a si próprio. Nem que seja na simples confeção de um jantar. Chegado a Lisboa em 1971, formado na extrema-esquerda e militante do “Movimento de Esquerda Socialista”, já então demonstrava o gosto pelo debate, pela contra-argumentação e a vontade, essa sim, antiga, de vir a ser deputado. Entrou no parlamento em 2011, era chefe de bancada Ferro Rodrigues. Não muito depois, com a prisão de Paulo Pedroso, passou a vice-presidente e a porta-voz do partido. Sportinguista, amante de ténis, Vieira da Silva inicia-se na governação em 1999, precisamente pela mão de Ferro Rodrigues, ministro e colega de faculdade, assumindo a Secretaria de Estado da Segurança Social, área de intervenção política que lhe é, talvez, a mais querida. Pai de dois filhos, o atual ministro do Trabalho, da Solidariedade e da Segurança Social, transmitiu o gosto pela política a Mariana Vieira da Silva, secretária de Estado adjunta e braço direito do primeiro-ministro. ●m