Jornal de Notícias - Notícias Magazine

#METOO MAIS DE QUE UM HASHTAG, UM MOVIMENTO QUE ABANOU O MUNDO

Muitas pessoas, sobretudo mulheres, vêm finalmente contando o que calaram durante anos. Quebraram o silêncio, destaparam a vergonha, puseram o dedo na ferida. E nada fica como dantes.

- POR Sara Dias Oliveira

Uma história, depois outra, e muitas outras se seguiram. O #MeToo trouxe à tona um problema sério da sociedade global: o assédio sexual, a importunaç­ão não consentida, a hostilidad­e sobre o corpo. Tudo começou nas redes sociais e não tardou a ganhar expressão nos jornais, nas revistas, nas televisões de todo o mundo. Tornou-se um movimento planetário e colocou muita gente a pensar em questões importante­s que envolvem corpo, intimidaçã­o, medo, raiva, vergonha, poder.

Muitas pessoas, sobretudo mulheres, vítimas de assédio, denunciara­m abusos, expuseram histórias. Convites inapropria­dos, propostas indecentes, toques desadequad­os, beijos forçados, contactos não consentido­s. E milhões de pessoas, em todos os cantos do globo, levantaram a voz contra o abuso sexual.

O MeToo é um dos movimentos mais intensos das últimas décadas, que incentiva a partilhar o que se guardou para mostrar que vale a pena denunciar

o que está mal. Que o corpo e a mente não podem ser invadidos de formas inapropria­das. Os casos que foram sendo revelados colocaram em xeque nomes do cinema, da política, do desporto. Destaparam a vergonha e muitas feridas. E, de repente, um hashtag conseguiu condensar histórias fortes e profundas e uma onda de solidaried­ade cresceu. Para teres ideia do impacto, 12 milhões de pessoas reagiram no Facebook em 24 horas e 500 mil no Twitter em apenas 12 horas. E, no mês passado, foi lançada uma campanha para angariar 25 milhões de dólares (quase 22 milhões de euros) para aplicar em ações que chamem a atenção para questões relacionad­as com a violência sexual.

A expressão foi criada pela ativista americana Tarana Burke em 2006, numa campanha em que se envolveu para ouvir histórias de vítimas de violência sexual e combater o assédio. Mas foi um tweet da atriz Alyssa Milano, há cerca de um ano, que trouxe visibilida­de ao tema. “Se todas as mulheres forem sexualment­e assediadas escrevam ‘Me Too’ no seu estado, talvez as pessoas tenham a noção da magnitude do problema.” Esta foi a mensagem que escreveu. A partir daí, foi uma bola de neve. Um ano passou e muita coisa mudou. ●m

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Portugal