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Procurar biomoléculas em subprodutos do açúcar e etanol
Projeto que decorre de uma parceria entre a Universidade Católica e a empresa Biorbis prevê aplicações na nutrição humana, animal e de plantas.
O CIRCULAS – o primeiro projeto de inovação que resulta da colaboração firmada em novembro entre a Escola Superior de Biotecnologia da Universidade Católica Portuguesa e a empresa internacional Biorbis – vai procurar desenvolver a próxima geração de biomoléculas seguras, sustentáveis e de elevado valor. Há 40 investigadores envolvidos e o investimento pode chegar aos 23 milhões de euros nos próximos cinco anos.
“Hoje em dia, há um problema grave de excedermos os recursos naturais”, diz Manuela Pintado, diretora do Centro de Biotecnologia e Química Fina da Católica, explicando que, frequentemente, quando é necessária uma molécula escassa, “desbastamos áreas significativas de floresta ou perdemos uma zona de biodiversidade”.
Daí que, continua Manuela Pintado, seja necessário “preparar o futuro pensando em fontes sustentáveis”. Olhar para as fontes naturais disponíveis, algumas das quais subestimadas, que possam servir para “tirar moléculas importantes para várias aplicações” sem ser preciso explorar excessivamente os recursos naturais que já estão deficitários. E, também, através de microrganismos ou sistemas biológicos, produzir moléculas com valor acrescido. Tudo isto, recorrendo a tecnologias sustentáveis.
Neste caso em concreto, tendo em conta que a Biorbis é detida maioritariamente pela IMSA - Ingenio Magdalena, a empresa que lidera a produção de cana-de-açúcar da Guatemala e está no top 5 dos produtores de açúcar da América Latina, as atenções estão centradas nos subprodutos de refinação de açúcar e etanol. Numa primeira fase tenta-se identificar quais as biomoléculas com maior viabilidade e os mercados com mais potencial.
John Melo, cofundador da Biorbis, disse, a propósito da parceria com a Católica, que se pretende “transformar Portugal num hub de desenvolvimento de novas biomoléculas, para serem comercializadas com aplicação em nutrição de plantas, animal e humana”. Jorge Leal, outro cofundador da empresa, adiantou que a intenção é “comercializar” as novas moléculas sustentáveis “a partir de Portugal”.
Segundo Manuela Pintado, “a Biorbis veio para Portugal porque identificou no centro de investigação um grupo [de profissionais] com competências” que não conseguia do outro lado do Atlântico. E a academia consegue, desta forma, o financiamento necessário para “reter talento”.