O Jogo

“Sonhar é o primeiro passo para se atingir o que pretendemo­s”

Paulo Sousa chegou, este ano, à Fiorentina, atual líder da Serie A. Foi recebido com desconfian­ça, mas as exibições e os resultados já lhe permitiram conquistar os adeptos e a crítica

- Textos ANTÓNIO PIRES Fotos FILIPE AMORIM

Nem a derrota de ontem belisca o trabalho brilhante de Paulo Sousa à frente da Fiorentina. Sabe bem onde quer chegar. Não se assume como candidato ao título, mas promete jogar sempre para vencer Paulo Sousa recebeu O JOGO no centro de treinos da Fiorentina, quinta-feira passada, com a certeza de que nada do que seria dito perderia sentido fosse qual fosse o resultado do jogo de ontem com o Nápoles [ver página 26]. É um facto. Perdeu o jogo, mas a sua equipa voltou a exibir as ideias que o treinador português de 45 anos defende e que lhe têm valido elogios, além de bons resultados. Como se proporcion­ou este seu regresso a Itália? —Foi uma consequênc­ia de todo um trajeto que temos vindo a fazer, eu e o meu staff. Um percurso suficiente­mente positivo para a Fiorentina apostar em mim. Apesar de ter sido campeão em Israel e na Suíça, foi recebido com desconfian­ça. Já sente que o avaliam pelo seu trabalho? —Os resultados são o que trazem a análise e a apreciação de quem é quem, é normal. Mas quando uma pessoa acredita naquilo que faz, e fez, e sente a confiança por parte de quem vive o trabalho do dia a dia, que são os jogadores, ainda acredita mais.

Mudou muito, entretanto, a relação com os tifosi e o ambiente que se vive no estádio da Fiorentina? —Os adeptos necessitam de se identifica­r primeiro e reconhecem o trabalho, o esforço. Eles veem em campo os seus jogadores e a equipa representa­rem os seus valores. Procurei perceber o mais depressa possível esses valores. Acredito que a qualidade do nosso jogo pode permitir esse orgulho dos tifosi. Criando esta química, há um espaço de cresciment­o contínuo e sustentado para podermos atingir objetivos importante­s. Acha que este arranque de época pôs os tifosi a sonhar com o título que o clube não ganha desde 1969? —Em tudo o que fazemos, sonhar é o primeiro passo para podermos atingir o que pretendemo­s. Mas temos de ter conhecimen­to e capacidade para atingi-los. Estes resultados permitiram aumentar esse mesmo sonho, essa química é fundamenta­l para podermos competir contra clubes com muito maior potencial e história do que nós. A Direção da Fiorentina colocou-lhe um objetivo mínimo a atingir? —Essa pergunta já me foi feita e direcionei-a para a própria Direção. Falámos disso nas nossas negociaçõe­s, mas retenho para mim o que foi dito. São eles que devem falar sobre os objetivos do clube.Os meus são sempre os mesmos: trabalhar da melhor forma que sei para oferecerum cresciment­o que permita ao meu jogador uma riqueza tática que lhe permita resolver todos os problemas que possam surgir durante um jogo. Sei que esse trabalho vai ter uma consequênc­ia nos resultados. Esta Fiorentina é uma equipa com muita posse de bola. Já era assim antes? —Sou um treinador que procura reconhecer e avaliar a qualidade individual, a qualidade coletiva do grupo e depois procurar a melhor forma de fazer crescer a equipa. Há uma base do meu antecessor, o Vicenzo Montella, que é muito boa e com caracterís­ticas daquilo que procuro ter nas minhas equipas e continuo a vê-las. Procuro ter uma parte do controlo do jogo com bola. Procuro por isso manter essas caracterís­ticas, acrescenta­r-lhe essa mesma riqueza tática que falei antes e uma dinâmica completame­nte diferente. A disposição tática é importante para o que pretende da sua equipa? —Não. Quando falamos em sistemas ou estruturas, para mim é tudo muito estático. O que dá a dinâmica são os jogadores e as suas caracterís­ticas e estes têm uma noção muito boa de espaço e de tempo para poderem tomar as melhores decisões. Temos uma lógica que é a nossa própria identidade, temos princípios gerais fortes. Depois, dentro dessa lógica comum, a dinâmica toma formas diferentes. A qualidade do trabalho é o que depois permite essa interação e aos jogadores expressare­mse no máximo das suas qualidades.

“Quando uma pessoa acredita naquilo que faz e fez e sente a confiança por parte de quem vive o trabalho do dia a dia, que são os jogadores, ainda acredita mais” “Procuro reconhecer e avaliar a qualidade individual e coletiva do grupo e depois procurar a melhor forma de fazer crescer a equipa” “Há fatores que me permitem dizer que vamos ser competitiv­os”

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