“Sonhar é o primeiro passo para se atingir o que pretendemos”
Paulo Sousa chegou, este ano, à Fiorentina, atual líder da Serie A. Foi recebido com desconfiança, mas as exibições e os resultados já lhe permitiram conquistar os adeptos e a crítica
Nem a derrota de ontem belisca o trabalho brilhante de Paulo Sousa à frente da Fiorentina. Sabe bem onde quer chegar. Não se assume como candidato ao título, mas promete jogar sempre para vencer Paulo Sousa recebeu O JOGO no centro de treinos da Fiorentina, quinta-feira passada, com a certeza de que nada do que seria dito perderia sentido fosse qual fosse o resultado do jogo de ontem com o Nápoles [ver página 26]. É um facto. Perdeu o jogo, mas a sua equipa voltou a exibir as ideias que o treinador português de 45 anos defende e que lhe têm valido elogios, além de bons resultados. Como se proporcionou este seu regresso a Itália? —Foi uma consequência de todo um trajeto que temos vindo a fazer, eu e o meu staff. Um percurso suficientemente positivo para a Fiorentina apostar em mim. Apesar de ter sido campeão em Israel e na Suíça, foi recebido com desconfiança. Já sente que o avaliam pelo seu trabalho? —Os resultados são o que trazem a análise e a apreciação de quem é quem, é normal. Mas quando uma pessoa acredita naquilo que faz, e fez, e sente a confiança por parte de quem vive o trabalho do dia a dia, que são os jogadores, ainda acredita mais.
Mudou muito, entretanto, a relação com os tifosi e o ambiente que se vive no estádio da Fiorentina? —Os adeptos necessitam de se identificar primeiro e reconhecem o trabalho, o esforço. Eles veem em campo os seus jogadores e a equipa representarem os seus valores. Procurei perceber o mais depressa possível esses valores. Acredito que a qualidade do nosso jogo pode permitir esse orgulho dos tifosi. Criando esta química, há um espaço de crescimento contínuo e sustentado para podermos atingir objetivos importantes. Acha que este arranque de época pôs os tifosi a sonhar com o título que o clube não ganha desde 1969? —Em tudo o que fazemos, sonhar é o primeiro passo para podermos atingir o que pretendemos. Mas temos de ter conhecimento e capacidade para atingi-los. Estes resultados permitiram aumentar esse mesmo sonho, essa química é fundamental para podermos competir contra clubes com muito maior potencial e história do que nós. A Direção da Fiorentina colocou-lhe um objetivo mínimo a atingir? —Essa pergunta já me foi feita e direcionei-a para a própria Direção. Falámos disso nas nossas negociações, mas retenho para mim o que foi dito. São eles que devem falar sobre os objetivos do clube.Os meus são sempre os mesmos: trabalhar da melhor forma que sei para oferecerum crescimento que permita ao meu jogador uma riqueza tática que lhe permita resolver todos os problemas que possam surgir durante um jogo. Sei que esse trabalho vai ter uma consequência nos resultados. Esta Fiorentina é uma equipa com muita posse de bola. Já era assim antes? —Sou um treinador que procura reconhecer e avaliar a qualidade individual, a qualidade coletiva do grupo e depois procurar a melhor forma de fazer crescer a equipa. Há uma base do meu antecessor, o Vicenzo Montella, que é muito boa e com características daquilo que procuro ter nas minhas equipas e continuo a vê-las. Procuro ter uma parte do controlo do jogo com bola. Procuro por isso manter essas características, acrescentar-lhe essa mesma riqueza tática que falei antes e uma dinâmica completamente diferente. A disposição tática é importante para o que pretende da sua equipa? —Não. Quando falamos em sistemas ou estruturas, para mim é tudo muito estático. O que dá a dinâmica são os jogadores e as suas características e estes têm uma noção muito boa de espaço e de tempo para poderem tomar as melhores decisões. Temos uma lógica que é a nossa própria identidade, temos princípios gerais fortes. Depois, dentro dessa lógica comum, a dinâmica toma formas diferentes. A qualidade do trabalho é o que depois permite essa interação e aos jogadores expressaremse no máximo das suas qualidades.
“Quando uma pessoa acredita naquilo que faz e fez e sente a confiança por parte de quem vive o trabalho do dia a dia, que são os jogadores, ainda acredita mais” “Procuro reconhecer e avaliar a qualidade individual e coletiva do grupo e depois procurar a melhor forma de fazer crescer a equipa” “Há fatores que me permitem dizer que vamos ser competitivos”