Pode nascer um novo Benfica-tático?
Os jogos não são como acabam, são como começam. É uma inversão da frase que habitualmente se utiliza mas, por vezes, é bem mais verdadeira. O jogo de Braga foi um bom exemplo. Tudo o que o Benfica fez no jogo (ou, em rigor, 80 minutos) foi determinado pelo que conseguira nos dez iniciais (quando marcou dois golos). Jogando “sentado taticamente” nessa vantagem, a análise final destaca sobretudo a
da estratégia do seu processo defensivo frente a um Braga sempre fiel à sua identidade e princípios de saída apoiada e busca da profundidade rápida através do seu bom jogo interior (além, nas faixas, da projeção dos laterais). O Benfica preparou-se para fechar essa origem do bom jogo bracarense. E conseguiu em muitos momentos, os decisivos. Fator-chave de intensidade no início do jogo: o Benfica foi mais forte nas bolas divididas (e segundas bolas) por todo o corredor central. Fator-chave de marcação no decorrer do jogo: saída em pressão, fazendo permanentes “encurtamentos” (isto é, encurtando o espaço para executar) de Renato Sanches a Luiz Carlos, condicionando o início de construção bracarense. Está assim encontrado o n.º 8 ideal para este novo Benfica. Fator-chave de evolução do jogar benfiquista: o advento do “terceiro homem”, Pizzi, capaz de relacionar faixas (onde recua a defender para ajudar a fechar) e zonas centrais (para onde flete para dar maior consistência ao meio-campo, no sistema original entregue apenas a dois homens). A transformação (ia a chamar evolução) do sistema teve as causas e consequências já antes faladas por estas páginas: a entrada de Pizzi, nessa dinâmica referida que só ele pode (sabe) dar; e a saída de Jonas (sem lugar, em face dos seus movimentos mais característicos, num sistema de 4x2x3x1 ou 4x3x3). Manter este sistema (sem adulterar o modelo) levanta, agora, um desafio tático mais amplo: mais do que ser utilizado estrategicamente para reforçar a equipa no “momento controlador” de transição/organização defensiva, ser capaz também se expressar na transição ofensiva e, sobretudo, em ataque continuado organizado, como o Benfica é obrigado a passar a maioria dos jogos. Será mesmo o início do “novo Benfica tático de Rui Vitória”?