CRÓNICA DEPRIMIDA
Um pé cá, outro lá
Éa realidade com que temos de viver, mas nem por isso vale a pena negá-lo: não há pior fase do ano, no futebol português, do que esta. Não porque as equipas continuem por definir um onze-base ou porque nenhum resultado tenha tanta importância como o grau de coesão de uma defesa, um meiocampo ou um ataque. Não porque não possamos orgulhar-nos ou envergonhar-nos dos desempenhos do clube de que gostamos ou porque aquilo de que os treinadores falam raramente coincida com o que vimos em campo. Simplesmente porque é quase tudo mentira ainda. É quase tudo mentira ainda e continuará a ser mentira durante semanas. Inclusive depois de as provas oficiais já terem começado – a Supertaça, as pré-eliminatórias europeias, a própria Liga. Insisto: em regra, ninguém num clube é tão importante como o treinador. Mas nenhum futebol se faz em exclusivo de treinadores, e aquilo que temos, nesta fase do ano, são treinadores. Dos reforços, ainda não se sabe quase nada: se se consolidarão ou apenas brilham a fogachos, se ficam no plantel, vão para a equipa B ou são emprestados. Dos jogadores que transitam, menos ainda: todos são vendáveis, e se não são é porque podem acabar na equipa B ou emprestados também. Não podia ser de outra maneira: somos um campeonato e um entreposto ao mesmo tempo – abraçamos oportunidades, aproveitamos sobras, queimamos prazos de alienação e inscrição. É como nos sustentamos. Mas vibrar, nesta altura, é impossível. Ou conjeturar sobre quem poderá jogar onde e em que tipo de jogo. Ou mesmo fazer coleções de cromos em condições. O ano só começa em setembro. Até lá, tudo se resume a uma volta de aquecimento, com a exceção de que se pode fazer ultrapassagens.