A Volta que cheira a Oliveira da Serra
A dieta mediterrânica chega ao ciclismo português e à mesa de Joaquim Gomes
Aculpa da miserável Volta a Portugal de 2015 foi dos jornais desportivos, de acordo com a sábia opinião do diretor da prova, Joaquim Gomes, expressa num vocabulário irrefutável: as nossas páginas estão “recheadas de azeiteiros”. Os jornais fazem escolhas e devem ser julgados por elas. Como se sabe, foram os jornais quem transformou o ciclismo internacional numa farmácia, com as devidas repercussões no público; foram eles quem atirou a Volta para os calabouços do ranking UCI; foram eles os responsáveis pela formação (ou pela genética) que não consegue produzir um Froome ou sequer um Quintana (Rui Costa já foi uma dádiva dos céus) capazes de entusiasmarem os adeptos, o mercado, os patrocínios e de darem, finalmente, origem a verdadeiras equipas de ciclismo, em vez de agremiações de bairro em permanente orfandade. E também foram eles quem não conseguiu produzir diretores da Volta a Portugal aptos a perceberem que os jornais são o espelho do público e não o contrário. Ou, pelo menos, capazes de nos criticarem como deve ser. Por exemplo, seria discutível, mas aceitável, que Joaquim Gomes dissesse que só vê Benfica, Sporting e FC Porto nos desportivos, porque, na verdade, nem é de futebol que os portugueses gostam a sério: gostam do futebol daqueles três e pode dizer-se, com algum desrespeito pelos outros, que é por causa deles que compram jornais. Como será por causa da chegada de FC Porto e Sporting que comprarão mais ciclismo do que no ano passado. Feliz da vida pela dose de “azeiteiros” com que faz a primeira página da Volta, Joaquim Gomes até convidou o Benfica a juntar-se-lhes. Já sonha com uma edição inteira besuntada em Oliveira da Serra.