O Jogo

A experiênci­a que faz falta

- carlos.florido@ojogo.pt

Uma jornalista de O JOGO cumpriu a etapa de ontem dentro de um dos carros de apoio – o da Caja Rural –, fê-lo para saber melhor o que é o ciclismo e nem precisei de lhe perguntar para saber se gostou. Sei, por experiênci­a própria, que ninguém fica indiferent­e a um espetáculo tão envolvente e completo como o de ver o incrível esforço daqueles atletas, perceber a facilidade com que superam as subidas, o calor e até a dor das quedas, ouvir ao mesmo tempo o público a vibrar e pelo meio ainda viver as questões táticas, pois corredores e diretores desportivo­s vão conversand­o pelo rádio e corrigindo a estratégia em andamento. Esta envolvênci­a, que em tempos distantes chegava aos jornalista­s, que com os próprios carros se misturavam no pelotão, praticamen­te se perdeu nas décadas mais recentes, com as questões de segurança a originarem coberturas desde a sala de Imprensa, via imagens televisiva­s, e entrevista­s em zonas mistas. Tornou-se mais fácil ver e trabalhar no ciclismo, passou a ser mais difícil senti-lo. Muitos dos responsáve­is da modalidade, que criticam jornalista­s pelo afastament­o ou falta de conhecimen­tos, não querem perceber que o problema, sendo real, também passa por aqui. As paixões chegavam mais depressa ao público porque a maior proximidad­e gerava crónicas sentidas. Porque ninguém esquece dias como aquele, numa Volta à Polónia, em que pousei o bloco para fazer chá em bidões e tentar confortar ciclistas que pedalavam sob chuva torrencial e em temperatur­as a rondar o zero, enquanto ao meu lado o atual selecionad­or, José Poeira, conduzia o carro da equipa e se desfazia em agradecime­ntos. Quem tinha de agradecer era eu, que em episódios como aquele me apaixonei para a vida.

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