A virgindade europeia
O Arouca paralisou na estreia, como tantas vezes acontece às equipas portuguesas. Mas a UEFA não é uma excursão que se ganhou na rifa
Jogar na UEFA obriga a sair do conforto. Os adversários são sempre mais altos, ou mais rijos, ou menos retraídos, ou mais idealistas e quase sempre mais confiantes. O futebol chega a parecer outro jogo, menos tranquilo do que o campeonato, porque nos palcos nacionais só se joga a 200 à hora e de faca nos dentes. Percebeuse bem o choque do Arouca, virgem europeu, em casa do Heracles. Já vimos aquela paralisia muitas vezes noutras equipas portuguesas, algumas até com rodagem, ou seja, com bem menos desculpas. Geralmente, perdoamos o medo cénico, mas não devíamos. Quem jogou ontem, na Holanda, não foi o Arouca; foi o quinto classificado de Portugal, que é sexto do ranking da UEFA e, por acaso, também campeão europeu desde há duas semanas; e quem jogou na República Checa foi o sexto classificado (Rio Ave), mas já com outra experiência e frieza. Antes de ser “o sonho” da vida do presidente do Arouca, chegar à Liga Europa é uma responsabilidade para com as outras equipas portuguesas todas. Não é uma excursão que se ganhou na rifa. O golo de Gegé, nos descontos, perdoou essa confusão de identidades que pôs, em casa do Heracles, não o Arouca de aço de Lito Vidigal, mas o Arouca verde da época anterior. Graças a esse golpe do destino que foi o golo, o jogo da semana que vem será a segunda oportunidade para uma primeira impressão. Bem necessária.