O soundbite da terra batida
Houve quem fizesse muito alarido com a etapa do “sterrato”, termo italiano que transformou as anteriormente odiadas estradas de terra em moda, mas a novidade nunca me entusiasmou por aí além. Isto não é um princípio de crítica, é apenas constatar que nunca iriam ser dois quilómetros, num total superior a 1600, a alterar o desfecho de uma Volta a Portugal, a não ser que tal acontecesse por maus motivos. O troço da Lameirinha era uma novidade, mas seria sempre uma espécie de sound bite físico, ou seja, o equivalente à frase que os políticos estudam para abrir telejornais ou dar títulos na Imprensa. Os dois quilómetros de terra valeram uns minutos de imagens televisivas inéditas, forneceram fotografias diferentes do habitual, mas deixaram a Volta a Portugal exatamente no mesmo ponto e os protagonistas até fecharam o dia a discutir os segundos de diferença atribuídos a cortes pouco evidentes no sprint de Fafe, afinal aquilo que de mais importante a segunda etapa deixará para a posteridade. Por fim, também reconheço que levar ciclistas à terra foi uma inovação, por sinal algo de que a Volta a Portugal bem precisa. Portanto, aplaudo a ideia e acredito que terá vindo para ficar. Embora não consiga esconder um sorriso irónico, porque me lembro dos tempos em que Portugal era criticado pelas más estradas, sobretudo pelos corredores italianos, que as usavam como desculpa para escapar à dureza da Volta, envergonhando os colegas portugueses, os tais que viviam num país “atrasado”. Décadas depois, temos terra porque é moda e nem vale a pena tentar contrariá-la. De moda percebem os italianos...