O Jogo

Jesus: o artista é um bom artista

O 10.º melhor treinador do mundo parece, mas não é a Paula Rego

- José Manuel Ribeiro jm.ribeiro@ojogo.pt

Há, literalmen­te, uma tonelada de livros que discorrem sobre o significad­o da palavra arte sem consenso discerníve­l. Lamento (mesmo) a publicidad­e, mas como não tenho tantos quilos de papel à disposição, o máximo que posso fazer é aconselhar uma voltinha esclareced­ora pela coleção Berardo, no Centro Cultural de Belém (cuidado onde se sentam). Jorge Jesus é um artista? Transpira sensibilid­ade? O futebol dele é uma manifestaç­ão estética das suas emoções? Pretende despertar a consciênci­a dos espectador­es? O futebol é um jogo que inclui fintas e pontapés nas canelas. O primeiro objetivo de quem joga é ganhar. Alguns exageram na poesia da coisa até à náusea, mas esse nunca foi, obviamente, o caso de Jorge Jesus, o homem da nota artística. Podíamos escrever outra tonelada de livros sobre a definição de “melhor treinador do mundo”, por isso não sei dizer se ele é o décimo, ou o quinto, ou o 39.º da lista. Sei que é bom naquilo e que o futebol dele não é arte. É engenharia; são vários conhecimen­tos agregados, é o pragmatism­o mais afiado que se viu em Portugal nos últimos 30 anos, pelo menos. Chamar-lhe arte pode ser giro no momento de abrir o champanhe por o terem considerad­o o décimo melhor do mundo, mas também o desvaloriz­a. Se o futebol de Jesus fosse uma “manifestaç­ão estética das suas emoções”, os jogadores entrariam todos em campo com um espelho. Como não é, entram para correr nas duas direções do campo, fazer bloqueios, cortar contra-ataques com faltas no momento certo e, de vez em quando, chafurdar na área a ver se cai um penálti, ou até passar jogos inteiros a chutar para a bancada. Não se chama arte; chama-se futebol a sério.

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