Jesus: o artista é um bom artista
O 10.º melhor treinador do mundo parece, mas não é a Paula Rego
Há, literalmente, uma tonelada de livros que discorrem sobre o significado da palavra arte sem consenso discernível. Lamento (mesmo) a publicidade, mas como não tenho tantos quilos de papel à disposição, o máximo que posso fazer é aconselhar uma voltinha esclarecedora pela coleção Berardo, no Centro Cultural de Belém (cuidado onde se sentam). Jorge Jesus é um artista? Transpira sensibilidade? O futebol dele é uma manifestação estética das suas emoções? Pretende despertar a consciência dos espectadores? O futebol é um jogo que inclui fintas e pontapés nas canelas. O primeiro objetivo de quem joga é ganhar. Alguns exageram na poesia da coisa até à náusea, mas esse nunca foi, obviamente, o caso de Jorge Jesus, o homem da nota artística. Podíamos escrever outra tonelada de livros sobre a definição de “melhor treinador do mundo”, por isso não sei dizer se ele é o décimo, ou o quinto, ou o 39.º da lista. Sei que é bom naquilo e que o futebol dele não é arte. É engenharia; são vários conhecimentos agregados, é o pragmatismo mais afiado que se viu em Portugal nos últimos 30 anos, pelo menos. Chamar-lhe arte pode ser giro no momento de abrir o champanhe por o terem considerado o décimo melhor do mundo, mas também o desvaloriza. Se o futebol de Jesus fosse uma “manifestação estética das suas emoções”, os jogadores entrariam todos em campo com um espelho. Como não é, entram para correr nas duas direções do campo, fazer bloqueios, cortar contra-ataques com faltas no momento certo e, de vez em quando, chafurdar na área a ver se cai um penálti, ou até passar jogos inteiros a chutar para a bancada. Não se chama arte; chama-se futebol a sério.