O Jogo

Míster Vitória e partidas de imaginação

- Descalço na Catedral Jacinto Lucas Pires

Ojogo na Luz com o Torino foi de nível soporífero, que é exatamente o que se espera de um jogo de pré-época. Nesta fase, em que grandes coletivos estremunha­dos são de repente empurrados para relvados de estádios a sério para jogarem à bola, a exceção é haver futebol. E, bem, esta semana, na Taça Eusébio, cumpriu-se a regra. Em termos de futebol-futebol, houve muito pouco. Proponho, aliás, para o futuro, que estes “encontros de preparação” se passem a chamar “partidas de imaginação”. Assim, a palavra e a coisa andariam mais perto, pois é disso que se trata nesta altura de pré-campeonato. Olhar para os craques, pressentir como se mexem, qual o grau de timidez que têm com a bola, com os colegas, com o adversário e, a partir dessas impressões mais ou menos imprecisas, imaginar-lhes um futuro. Jogar na ala, jogar no meio, aquecer o banco, ser emprestado, ser vendido, ser titular.

Entretanto, saiu a entrevista que Gabriel Bump me fez para a revista “Howler”, uma publicação americana só dedicada ao “soccer”, a propósito do Euro. Não, caros amigos, não se assustem, não vou voltar ao tema da Seleção. É só que, conversa puxa conversa, chegámos a um ponto útil para pensar a dimensão da tarefa que míster Vitória tem pela frente este ano. Do ponto de vista do macro-futebol, digamos assim, as últimas conquistas internacio­nais da bola portuguesa fizeram-se sob o comando de dois treinadore­s: José Mourinho e Fernando Santos. Dois treinadore­s do tipo (caro leitor, escolha, por favor, o eufemismo que menos o encanita) pragmático, realista, conservado­r, cínico – defensivo. Por outro lado, não me parece nenhum excesso do cronista dizer que aquilo que define o futebol português (o estilo dos nossos craques mas também o que nos faz, enquanto adeptos, gostar de bola) é o ataque, a velocidade, a bela finta, o toque artístico. Há, portanto, um desacerto entre o desejo que nos define e o sistema que nos dá resultados; um desacerto, no mínimo, intrigante…

E é aqui que chegamos a Rui Vitória. Se, apesar da lógica puramente mercantili­sta da Direção, o míster de Vila Franca de Xira conseguir um título europeu para o Benfica – pondo a equipa a jogar com alegria e chama, querendo marcar sempre mais, numa reinvenção tuga do futebol total –, provará a bondade de um sistema mais próximo das chuteiras dos nossos craques e do nosso coração.

Se, apesar da lógica puramente mercantili­sta da Direção, Rui Vitória conseguir um título europeu, provará a bondade de um sistema mais próximo das chuteiras dos nossos craques e do nosso coração

 ??  ??
 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Portugal